Em situações de catástrofe , como a que estamos vivendo,é
importante conceitar a questão de ocupação dos leitos de UTI. Temos 3 níveis de
aumento na capacidade operacional:
1) modo convencional
2) modo contingência
3) modo crise
No modo convencional, assume-se que toda UTI possa aumentar
sua capacidade operacional sem prejuízo à assistência em até 20%.
Isso é verdade se assumirmos que a UTI já trabalha com o
devido quantitativo e qualitativo de recursos humanos (RH).
Aqui, o primeiro problema. No Brasil, a regulamentação de
funcionamento das UTIs é muito frouxa e diversos hospitais trabalham com menos
enfermeiros / paciente do que deveriam. Isso ocorre porque o RH é o bem mais valioso de um serviço, mas ao
mesmo tempo é o custo fixo mais caro de uma unidade.
Conclusão inicial: é possível aumentar em 20% sem prejuízo à
assistência se você tinha um quantitativo recomendado segundo CFM / COFEN /
COFFITO / etc... Que é além do que é previsto pela RDC 07 da ANVISA
(especialmente enfermagem e fisioterapia).
No modo contingência, há a previsão de um aumento de até
100% (de 20 para 40 leitos,por exemplo). Para isso, é preciso ou contratar
novos funcionários ou realocar funcionários do hospital e tirá-los de outras
funções (Staff).
Além disso, os espaços podem não ser os ideais para cuidar
dos pacientes, mas assume-se que poderá ocorrer uma pequena degradação da
qualidade do cuidado assistencial
Quando se chega ao modo crise, há degradação na qualidade
assistencial, pois a demanda é muito maior do que a capacidade, e prefere-se
prejudicar a qualidade para atender o número máximo de pacientes, em locais
inadequados, com equipe quantitativa e qualitativamente inadequada..
O modo crise significa aumentar em até 200% sua capacidade
operacional. Quando se chega a isso, significa que as chances de morte (e
sequelas nos que sobrevivem) serão maiores do que se você fosse atendido no
modo convencional.
Atualmente, a maioria dos hospitais e UTIs brasileiras estão
atuando no modo crise.
Um exemplo clássico : uma UTI de 20 leitos, inicialmente
houve um aumento para 40 leitos e depois para 60 leitos, utilizando leitos de
enfermaria e salas cirúrgicas (espaços inadequados) para colocar pacientes
críticos. Contrataram funcionários sem experiência em UTI.
Se estiver tudo ocupado, dever-se relatar a taxa de ocupação
como:
1) 300% da capacidade operacional habitual;
2) 100% da capacidade operacional "catástrofe".
Essa é forma mais honesta de se apresentar os dados.
Por outro lado, pode ser que o hospital conseguiu contratar
mais médicos intensivistas e equipe multiprofissional treinada, habilitando
mais leitos adequadamente qualificados de terapia intensiva. Digamos que tenha
conseguido isso para 30 leitos e os outros 30 ainda não o sejam.
Aí, a taxa de ocupação deveria ser descrita como:
1) 200% da capacidade operacional qualificada;
2) 100% da capacidade operacional "catástrofe".
Além de Staff (RH) e espaços adequados para doentes críticos
os suprimentos como material e medicamentos necessários para o cuidado aos
pacientes e equipamentos também são importantes para manter a qualidade
assistencial.
Outro problema importante a ser mitigado (sem qualquer
medida eficaz habitualmente realizada na maioria dos hospitais e fora dos
planos de catástrofe) é o burnout da equipe..
Para resumir, a atual forma de apresentarem a ocupação nas
UTIs é enganosa. Faz parecer que estar em "UTI", não importa onde,
seja a mesma coisa.
É preciso separar leitos qualificados de leitos "catástrofe"
para informar adequadamente a população.
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