segunda-feira, 22 de março de 2021

a questão de ocupação dos leitos de UTI

 

Em situações de catástrofe , como a que estamos vivendo,é importante conceitar a questão de ocupação dos leitos de UTI. Temos 3 níveis de aumento na capacidade operacional:

1) modo convencional

2)  modo contingência

3)  modo crise

No modo convencional, assume-se que toda UTI possa aumentar sua capacidade operacional sem prejuízo à assistência em até 20%.

Isso é verdade se assumirmos que a UTI já trabalha com o devido quantitativo e qualitativo de recursos humanos (RH).

Aqui, o primeiro problema. No Brasil, a regulamentação de funcionamento das UTIs é muito frouxa e diversos hospitais trabalham com menos enfermeiros / paciente do que deveriam. Isso ocorre porque o  RH é o bem mais valioso de um serviço, mas ao mesmo tempo é o custo fixo mais caro de uma unidade.

Conclusão inicial: é possível aumentar em 20% sem prejuízo à assistência se você tinha um quantitativo recomendado segundo CFM / COFEN / COFFITO / etc... Que é além do que é previsto pela RDC 07 da ANVISA (especialmente enfermagem e fisioterapia).

No modo contingência, há a previsão de um aumento de até 100% (de 20 para 40 leitos,por exemplo). Para isso, é preciso ou contratar novos funcionários ou realocar funcionários do hospital e tirá-los de outras funções (Staff).

Além disso, os espaços podem não ser os ideais para cuidar dos pacientes, mas assume-se que poderá ocorrer uma pequena degradação da qualidade do cuidado assistencial

Quando se chega ao modo crise, há degradação na qualidade assistencial, pois a demanda é muito maior do que a capacidade, e prefere-se prejudicar a qualidade para atender o número máximo de pacientes, em locais inadequados, com equipe quantitativa e qualitativamente inadequada..

O modo crise significa aumentar em até 200% sua capacidade operacional. Quando se chega a isso, significa que as chances de morte (e sequelas nos que sobrevivem) serão maiores do que se você fosse atendido no modo convencional.

Atualmente, a maioria dos hospitais e UTIs brasileiras estão atuando no modo crise.

Um exemplo clássico : uma UTI de 20 leitos, inicialmente houve um aumento para 40 leitos e depois para 60 leitos, utilizando leitos de enfermaria e salas cirúrgicas (espaços inadequados) para colocar pacientes críticos. Contrataram funcionários sem experiência em UTI.

Se estiver tudo ocupado, dever-se relatar a taxa de ocupação como:

 

1) 300% da capacidade operacional habitual;

2) 100% da capacidade operacional "catástrofe".

 

Essa é forma mais honesta de se apresentar os dados.

Por outro lado, pode ser que o hospital conseguiu contratar mais médicos intensivistas e equipe multiprofissional treinada, habilitando mais leitos adequadamente qualificados de terapia intensiva. Digamos que tenha conseguido isso para 30 leitos e os outros 30 ainda não o sejam.

Aí, a taxa de ocupação deveria ser descrita como:

 

1) 200% da capacidade operacional qualificada;

2) 100% da capacidade operacional "catástrofe".

Além de Staff (RH) e espaços adequados para doentes críticos os suprimentos como material e medicamentos necessários para o cuidado aos pacientes e equipamentos também são importantes para manter a qualidade assistencial.

Outro problema importante a ser mitigado (sem qualquer medida eficaz habitualmente realizada na maioria dos hospitais e fora dos planos de catástrofe) é o burnout da equipe..

Para resumir, a atual forma de apresentarem a ocupação nas UTIs é enganosa. Faz parecer que estar em "UTI", não importa onde, seja a mesma coisa.

É preciso separar leitos qualificados de leitos "catástrofe" para informar adequadamente a população.

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