Um dos legados que a pandemia nos deixará é o de uma classe
médica desacreditada.
A partir do momento em que a ideologia tomou a frente dos
debates sobre o COVID 19,nos deparamos com médicos que saíram do anonimato para
defender tratamentos anedóticos,movidos pelo rebanho que decidiu apoiar as
figuras caricatas que governam o Brasil.
Vamos abordar alguns argumentos nos quais essa categoria se
apóia.
O primeiro é o credo em relatos de casos : "O Dr X
prescreve, o Dr Y usou quando ficou doente,os médicos portugueses escreveram
uma carta etc”.
Mesmo que seja verdade e que os doutores X e Y não sejam
charlatões, a eminência de um médico ou grupo nunca vence as evidências
científicas. Sem comparar grupos, um médico pode pensar que está fazendo bem,
quando, na verdade, está causando dano.E nenhuma experiência pessoal vence as
evidências.
O segundo é afirmar que"existem n estudos que comprovam
a eficácia do tratamento precoce". Nos estudos, como na vida, o que serve
é a qualidade, não a quantidade. Os poucos estudos de qualidade, sem falcatrua
e sem conflitos de interesses, são negativos.
Os n positivos não interessam por não terem poder
estatístico.Isso já foi extensivamente analisado.
O terceiro é transferir a absoluta falta de credibilidade
pela expressão : “ então só é evidência quando você quer que seja".Quando
uma terapia não serve, mas grupos querem
manipular, é óbvio que vão manipular dados e criar estudos de má qualidade que
corroborem sua narrativa. Os de boa qualidade serão negativos,pois não tem
poder para serem considerados realmente eficazes.
O quarto : “ A cidade X instituiu tratamento precoce e está
indo bem. Como o doutor explica isso?"
Há dezenas, senão centenas de fatores que explicam melhora
ou piora de indicadores. Em estatística séria, não se comparam cidades para
concluir condutas individuais: é a falácia ecológica. Por exemplo, a cidade
pode ter uma população mais jovem. Ou os médicos entusiasmados pelo seu
tratamento revolucionário (pra não falar outra coisa) estão atestando óbitos de
COVID como outra causa. Ou a cidade está apenas num breve descenso entre
picos...
Entre outros.
O quinto : “ A pandemia é uma guerra e não temos tempo de
esperar pela ciência". Bem, em primeiro lugar, somos médicos e não
curandeiros.. Em segundo, isso é mentira: nesse período já saíram pesquisas
memoráveis como da dexametasona e das vacinas.
O sexto (e o mais ridículo) ; “Há um complô das indústrias
contra o tratamento precoce".
Nunca se vendeu tanto ivermectina e cloroquina além de
suplementos de zinco e vitamina D. Tem muita empresa farmacêutica faturando em
cima dessa falácia de terapias ineficazes.
E tem mais : a dexametasona, terapia eficaz em casos
hospitalares, custa 6 reais.
O sétimo : “temos estudos randomizados que..." De novo:
não há NENHUM estudo de qualidade que comprove a eficácia da terapia precoce.
As "metanálises" ivmmeta, c19study, estudo FLCC ou
qualquer um desses apenas juntaram os estudos de má qualidade e os
amplificaram, piorando-os ainda mais.A ponto de mentirem para os desinformados
que não sabem interpretar um estudo básico.
A maioria desse médicos nem atendem pacientes com
COVID.Nunca entraram em uma UTI.Não atendem em suas próprias clínicas.Fazem
questão de ocultarem o numero assustador de pacientes internados em UTIs que
tomaram o “tratamento precoce”.
E por fim : nenhum outro país polemizou como o Brasil.
Como explicar os países que praticamente erradicaram o Sars
Cov2 (Nova Zelândia,Vietnã , Austrália,Coréia etc) com taxas bem baixas de
mortalidade ,sem terem usado o milagroso “tratamento precoce” ¿
Onde mais....em quais países....acontece essa defesa
ideológica enquanto a pandemia segue seu trajeto devastador ¿ Quantas pessoas
já adoeceram pois acreditaram que a cloroquina e a ivermectina poderiam ser
utilizadas de forma preventiva ¿
Nenhum comentário:
Postar um comentário