sexta-feira, 3 de março de 2017

Doutor....eu estou morrendo ?

No ambiente de UTI a questão do paciente sobre seu prognóstico pode ser uma reflexão de medos e esperanças não elucidados.Pode ser uma expressão de medo da dor e do sofrimento físico , de uma tristeza antecipada , da perda das pessoas amadas , de uma distonia existencial e espiritual.
Os médicos intensivistas frequentemente discutem prognósticos de seus pacientes com familiares ou responsáveis.É menos comum esse contato direto com o paciente.Essa é uma passagem bastante desconfortável pois nem sempre estamos preparados para uma abordagem mais conflitante.
 Questionar : " diga-me mais sobre o que você pensa que está acontecendo"  ou " quais são os seus temores ?" pode ser particularmente util neste momento.
Muitas vezes esses desafios podem ser mais complexos.Identificar os limites do próprio médico é fundamental e o auxílio do comitê de bioética , assistência espiritual etc pode ser muito bem vindo.
Para quem lida com pacientes terminais a ferramenta : Pergunte - Fale - Pergunte pode ajudar.Trata-se de inicialmente fazer questões que elucidem as dúvidas iniciais do paciente e então pedir permissão para desenvolver as explicações racionais voltando a questões pendentes.
O questionamento sobre a proximidade da morte pode sugerir uma porta aberta para uma conversa franca sobre prognóstico.Neste momento o médico deveria falar com dados quantitativos mais do que com linguagem que use os termos " incomum " ou " mau prognóstico ". Um exemplo : para cada 100 pacientes que vemos na sua condição nós esperamos que apenas um se recupere.Pode parecer trágico mas a verdade conta e o médico pode completar sua abordagem reiterando que entende que não eram esses numeros que o paciente queria escutar,
Ao mesmo tempo medidas e palavras que reafirmem o não abandono , que demonstrem o envolvimento pleno da equipe em proporcionar o melhor conforto , que mostrem o cuidado individualizado são fundamentais.
Robert Frost escreveu que a esperança não está no final do caminho mas no seu trajeto.
Construir a esperança diante dos limites da vida é uma tarefa que os médicos podem usar para ajudar seus pacientes a maximizar sua qualidade de vida.Um homem que esperou a cura agora pode esperar viver mais duas semanas para ver o nascimento de seu neto..Uma mulher que esperou ter mais um ano de vida agora pode esperar ter uma morte ao lado de quem ama.
Desta forma nós podemos encontrar uma oportunidade de melhorar quando não pudermos curar.

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