Há uma sensação palpável de esperança no ar com a chegada
das vacinas.
Esses sinais de esperança são reais, mas afastam o confronto
com a dura realidade dos dias sombrios que virão. Os sistemas de saúde estão
sob pressão sem precedentes, seus recursos físicos e emocionais estão quase
esgotados. Médicos e enfermeiras estão exaustos ou ausentes por motivo de
doença ou necessidade de isolar-se. Muitos convivem com um sofrimento moral ou
sua sequela.Uma constante lacuna entre o que você acha que deve ser feito pelo
paciente e o que pode ser feito sob restrições além do seu controle. Sabemos
pela experiência trágica de Manaus que ocorrerão situações em que você não
poderá dar aos pacientes os cuidados de que mais precisam.
Além do sofrimento e injúria moral individual, está o risco
global de "falha moral catastrófica". O “nacionalismo vacinal” fez com que países
ricos comprassem suprimentos, abandonando os pobres do mundo,o que serve em
muito para prolongar a pandemia. A Organização Mundial da Saúde está pedindo
uma distribuição justa aos países em proporção ao tamanho da população. A
escassez mundial de vacinas é inevitável. Adiar a segunda dose talvez possa
ajudar.Há evidências diretas e indiretas para apoiar essa abordagem.
Mas não podemos simplesmente esperar pelo efeito da vacina.
Os lockdowns também não são nada além de um botão de pausa. Muito, muito mais
precisa ser feito para evitar a transmissão viral e mutação.Onde está a
estratégia para os próximos meses? Onde estão as medidas básicas de saúde
pública para ajudar as pessoas que querem se isolar, mas não têm dinheiro para
isso ou que vivem em acomodações superlotadas? Por que culpar e envergonhar quando
o que é necessário é apoio prático?
Mais palpável do que a esperança, é a crescente frustração
com a inação, os erros e a contínua incompetência do governo.
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