terça-feira, 21 de abril de 2020

Testes de anticorpos para o COVID 19




Nas ultimas semanas passamos a receber informaçôes sobre testes sanguíneos pretensiosamente destinados a avaliarem anticorpos contra o COVID 19. Alguns com o intuito de avaliarem uma provável infecção ativa. Outros com a proposta de testarem pessoas já expostas ao vírus e , desta forma – absolutamente desprovida de evidência -, estarem imunes e “prontas” a voltarem para uma vida social normal..

O FDA recentemente permitiu que diversos laboratórios, muitos localizados na China , passassem a comercializar testes , alegando que a pandemia necessita de uma ação urgente. Bastaram algumas análises de qualidade para que a agência reguladora americana percebesse o engodo de alguns produtos já em uso. Testes de péssima sensibilidade invadiram o mercado , alguns de técnica tão simples como aqueles destinados a detectarem gravidez.

O destino da maioria dos testes foi desviado do seu foco padrão. Usuários não preparados passaram a realizar sem os devidos critérios de indicação e sem a preciosa orientação numa estratégia claramente oportunista ao não avaliarem a sensibilidade e especificidade dos mesmos.

O publico leigo não entende o perigo a que está se submetendo ao aceitar , motivado pelo desespero ou ânsia de conhecimento , em fazer um exame sem nenhuma validação científica clara .É uma priorização da velocidade em detrimento da qualidade , uma banalização da segurança diagnóstica que pode impactar em vidas perdidas.

 A maioria dos testes mostra anticorpos quando , de fato , o paciente não os têm. Chamamos esta reação de falso positiva. Existe farta explicação para que isto ocorra : reações cruzadas contra outras infecções , imunizações prévias ( ter tomado a vacina da gripe ou da febre amarela por exemplo) etc. Existe também as reações falso negativas . Estas ocorrem pela própria qualidade do exame , pelo status imunológico do paciente (pessoas com a imunidade baixa podem não desenvolver anticorpos) ou se o exame é coletado muito cedo no curso da infecção.

Nos Estados Unidos , recentemente , os hospitais de Chicago deixaram de realizar testes rápidos a fim de determinar se os empregados da área de saúde estariam “aptos” imunologicamente a voltarem a trabalhar diante dos resultados conflitantes e equivocados.
Na cidade de Laredo, os cientistas descobriram que os testes empregados eram inadequados com uma confiabilidade nos resultados de apenas 20% (muito longe dos 93% apregoados pelo laboratório produtor). Todos os exames foram apreendidos.

Mais de 90 novos laboratórios apareceram no mercado desde que o FDA propôs e permitiu que fossem criados testes para detecção de anticorpos. Alguns laboratórios são uma espécie de start-ups; seus produtos variam . Alguns testam apenas anticorpos transitórios que têm um pico durante uma infecção ativa. Existem testes que procuram por anticorpos com dinâmicas mais permanentes e que podem se dividir em dois tipos diferentes.
O método de pesquisa mais confiável é chamado de técnica Elisa que indica a quantia de anticorpos que uma pessoa pode ter. Não sabemos se quem se recupera de uma infecção por Covid-19 terá imunidade. Mas podemos pressupor , avaliando as demais experiências com outros tipos de infecção , que altos níveis de anticorpos geralmente significam uma forte resposta imunológica.

A maioria dos testes em uso são chamados de testes rápidos e são oferecidos para uso em clínicas ou até mesmo em casa — e propõem uma simples resposta : sim ou não.Ou seja , uma espécie de cara ou coroa. O custo no mercado americano está entre 60 a 115 dólares.
 A OMS tem um parecer totalmente desfavorável ao seu uso. A maioria é manufaturada na China.Relatos de vários países , que compraram milhões de testes , acusam uma péssima performance. A Inglaterra demonstrou que os testes só acusaram a presença de anticorpos em pessoas que ficaram com formas graves da doença. Na Espanha, após um mês de experiência a acurácia foi de apenas 30% (diferente dos 80 % apregoado pelo fabricante chinês) .

A Alemanha, que tem se destacado como um modelo nos esforços de combate ao COVID , está realizando um ambicioso estudo com a pesquisa de anticorpos através de um teste desenvolvido pelos cientistas locais analisando uma parte de sua população aparentemente com boa fidelidade nos resultados.

Estima-se que menos do que 5% da população americana possa ser infectada, e mesmo em áreas de alta taxa de infecção como New York ou New Orleans, a prevalência pode ser de 10 a 15 %. Na China, screenings em Wuhan indicou que somente 3 % da população tinha anticorpos contra o coronavírus. Quando a proporção de pessoas expostas é baixa, os testes falso positivos limitam ainda mais a sua utilização.
Recentemente a empresa idônea  Cellex , autorizada pelo FDA , reportou um índice de testes falso positivos de 5%. Isto ainda é uma significante margem de erro: numa comunidade onde 5% tiveram o vírus, o numero de falso positivos é igual.

Estamos na busca de um teste que realmente reflita o que de ral acontece na batalha imunológica contra o Coronavírus. Por enquanto temos produtos de qualidade duvidosa no mercado expondo os pacientes a condutas absolutamente inadequadas.

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