Nas ultimas semanas passamos a receber informaçôes sobre
testes sanguíneos pretensiosamente destinados a avaliarem anticorpos contra o
COVID 19. Alguns com o intuito de avaliarem uma provável infecção ativa. Outros
com a proposta de testarem pessoas já expostas ao vírus e , desta forma –
absolutamente desprovida de evidência -, estarem imunes e “prontas” a voltarem
para uma vida social normal..
O FDA recentemente permitiu que diversos laboratórios,
muitos localizados na China , passassem a comercializar testes , alegando que a
pandemia necessita de uma ação urgente. Bastaram algumas análises de qualidade
para que a agência reguladora americana percebesse o engodo de alguns produtos
já em uso. Testes de péssima sensibilidade invadiram o mercado , alguns de
técnica tão simples como aqueles destinados a detectarem gravidez.
O destino da maioria dos testes foi desviado do seu foco
padrão. Usuários não preparados passaram a realizar sem os devidos critérios de
indicação e sem a preciosa orientação numa estratégia claramente oportunista ao
não avaliarem a sensibilidade e especificidade dos mesmos.
O publico leigo não entende o perigo a que está se
submetendo ao aceitar , motivado pelo desespero ou ânsia de conhecimento , em fazer
um exame sem nenhuma validação científica clara .É uma priorização da
velocidade em detrimento da qualidade , uma banalização da segurança
diagnóstica que pode impactar em vidas perdidas.
A maioria dos testes
mostra anticorpos quando , de fato , o paciente não os têm. Chamamos esta
reação de falso positiva. Existe farta explicação para que isto ocorra :
reações cruzadas contra outras infecções , imunizações prévias ( ter tomado a
vacina da gripe ou da febre amarela por exemplo) etc. Existe também as reações
falso negativas . Estas ocorrem pela própria qualidade do exame , pelo status
imunológico do paciente (pessoas com a imunidade baixa podem não desenvolver
anticorpos) ou se o exame é coletado muito cedo no curso da infecção.
Nos Estados Unidos , recentemente , os hospitais de Chicago
deixaram de realizar testes rápidos a fim de determinar se os empregados da
área de saúde estariam “aptos” imunologicamente a voltarem a trabalhar diante
dos resultados conflitantes e equivocados.
Na cidade de Laredo, os cientistas descobriram que os testes
empregados eram inadequados com uma confiabilidade nos resultados de apenas 20%
(muito longe dos 93% apregoados pelo laboratório produtor). Todos os exames
foram apreendidos.
Mais de 90 novos laboratórios apareceram no mercado desde
que o FDA propôs e permitiu que fossem criados testes para detecção de
anticorpos. Alguns laboratórios são uma espécie de start-ups; seus produtos
variam . Alguns testam apenas anticorpos transitórios que têm um pico durante
uma infecção ativa. Existem testes que procuram por anticorpos com dinâmicas
mais permanentes e que podem se dividir em dois tipos diferentes.
O método de pesquisa mais confiável é chamado de técnica
Elisa que indica a quantia de anticorpos que uma pessoa pode ter. Não sabemos
se quem se recupera de uma infecção por Covid-19 terá imunidade. Mas podemos
pressupor , avaliando as demais experiências com outros tipos de infecção , que
altos níveis de anticorpos geralmente significam uma forte resposta
imunológica.
A maioria dos testes em uso são chamados de testes rápidos e
são oferecidos para uso em clínicas ou até mesmo em casa — e propõem uma
simples resposta : sim ou não.Ou seja , uma espécie de cara ou coroa. O custo
no mercado americano está entre 60 a 115 dólares.
A OMS tem um parecer
totalmente desfavorável ao seu uso. A maioria é manufaturada na China.Relatos
de vários países , que compraram milhões de testes , acusam uma péssima
performance. A Inglaterra demonstrou que os testes só acusaram a presença de
anticorpos em pessoas que ficaram com formas graves da doença. Na Espanha, após
um mês de experiência a acurácia foi de apenas 30% (diferente dos 80 %
apregoado pelo fabricante chinês) .
A Alemanha, que tem se destacado como um modelo nos esforços
de combate ao COVID , está realizando um ambicioso estudo com a pesquisa de
anticorpos através de um teste desenvolvido pelos cientistas locais analisando
uma parte de sua população aparentemente com boa fidelidade nos resultados.
Estima-se que menos do que 5% da população americana possa
ser infectada, e mesmo em áreas de alta taxa de infecção como New York ou New
Orleans, a prevalência pode ser de 10 a 15 %. Na China, screenings em Wuhan
indicou que somente 3 % da população tinha anticorpos contra o coronavírus.
Quando a proporção de pessoas expostas é baixa, os testes falso positivos
limitam ainda mais a sua utilização.
Recentemente a empresa idônea Cellex , autorizada pelo FDA , reportou um
índice de testes falso positivos de 5%. Isto ainda é uma significante margem de
erro: numa comunidade onde 5% tiveram o vírus, o numero de falso positivos é
igual.
Estamos na busca de um teste que realmente reflita o que de
ral acontece na batalha imunológica contra o Coronavírus. Por enquanto temos
produtos de qualidade duvidosa no mercado expondo os pacientes a condutas
absolutamente inadequadas.
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