o texto abaixo é do Jornal Nexo de 18 de Abril de 2020
Fiz algumas adaptações para pode postar aqui
As perdas humanas decorrentes da pandemia do novo coronavírus crescem a cada dia. Em diferentes países, muitos dos quais já contabilizam milhares de vítimas, há previsões de o total chegar a dezenas ou até centenas de milhares de mortes. Mesmo com medidas de distanciamento social que tentam frear o número de doentes, sistemas de saúde ao redor do mundo dificilmente passarão ilesos – o que levará a um número de mortos inevitavelmente maior.
Também sabe-se que a economia vai sofrer um grande abalo, já visível em diversos lugares. Com fechamento de comércios e a adoção de quarentenas, as pessoas saem menos de casa e o consumo cai drasticamente, o que afeta negativamente empresas de todos os portes. O desemprego aumenta, resultando em uma queda ainda maior do consumo e em uma espiral descendente da economia.
Em cenário de crise sem precedentes no século 21, iniciou-se uma discussão no Brasil e no mundo sobre se, mesmo diante da rápida disseminação da covid-19, o Estado deve adotar medidas que ajudam a frear a crise sanitária mas prejudicam a economia. Entre os argumentos a favor dessa visão está a perspectiva de as perdas econômicas serem potencialmente ainda mais profundas que as causadas pela crise de saúde.Jair Bolsonaro, está entre os poucos líderes mundiais que endossaram uma oposição entre economia e saúde na pandemia do novo coronavírus. “O efeito colateral das medidas de combate ao coronavírus não pode ser pior do que a própria doença”, disse em pronunciamento em rede nacional no dia 31 de março de 2020.
Questões similares são levantadas ao redor do mundo, não só por autoridades mas por economistas, especialistas de diferentes áreas e mesmo por muitos dos cidadãos afetados pela ampla gama de efeitos da pandemia em suas vidas.
No campo da economia, o debate é precedido por pesquisas e estudos acadêmicos que dão diferentes abordagens à questão. Envolve também aspectos sociais, humanos e éticos e faz, em sua essência, uma pergunta: é possível determinar o valor de uma vida?
A discussão em torno do valor de uma vida é, evidentemente, delicada e polêmica. Mas existem, na área da economia, metodologias que tentam chegar a um número que seja representativo do valor da dimensão econômica de uma vida – uma tentativa vista como válida por parte dos economistas e encarada com desconfiança por outros.
O economista Carlos Góes diz que o método da perda da capacidade produtiva mostra que, em média, a morte prematura de uma pessoa no Brasil leva a perdas econômicas de R$ 630 mil (em valores de 2020, já corrigidos pela inflação), de acordo com estudo elaborado pelo Planalto em 2018, do qual participou.
Transpondo esse número para um cenário epidemiológico pessimista de covid-19, seria possível chegar a um valor das perdas econômicas decorrentes das mortes pela doença. Em um cenário em que não são tomadas medidas de prevenção à disseminação do vírus e 60% da população é contaminada a uma taxa de mortalidade de 1%, 1 milhão e 260 mil pessoas irão morrer. O “prejuízo” chegaria a R$ 800 bilhões.
Já na metodologia do valor estatístico da vida, o exemplo mais conhecido é o do valor utilizado pela EPA (Agência de Proteção Ambiental dos EUA). As estimativas da agência pública apontam que, no país, cada vida valha em torno de US$ 9,4 milhões.
Se as piores estimativas para o cenário americano se cumprirem e ocorrerem 2 milhões de mortes pelo coronavírus nos EUA, as perdas econômicas serão de quase US$ 20 trilhões.
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