sábado, 25 de abril de 2020

Coronavírus : dilema da morte




Dependendo do estudo , de um terço a dois terços dos adultos não têm definido um plano diretivo para os últimos dias de vida. Nem mesmo expressado essa situação a seus familiares de modo claro e textual.
Até a presente data não temos evidências que pessoas idosas sejam mais propensas a contrair o coronavírus.O que sabemos é que são mais susceptiveis de desenvolverem quadro clinico mais severo quando infectados.
Dados consolidados da China mostram que a mortalidade aumenta entre os 60 e 70 anos podendo chegar a 20% entre pessoas acima dos 80. De acordo com o CDC , 80% dos óbitos vêm ocorrendo entre aqueles acima de 65 anos.
Uma explicação parcial é que adultos idosos apresentam mais condições crônicas de saúde — doenças pulmonares ou cardíacas , hipertensão etc além de uma menor “reserva” fisiológica.
O coronavírus desendeia uma doença predominantemente respiratória então a questão chave que se torna um dilema é se um paciente grave será ou não sujeito a uma ventilação mecânica. Em alguns locais , dependendo da demanda , isso até pode ser impossível de se realizar.
Antes do surgimento do coronavírus , de cada 100 pessoas com mais de 66 anos que passavam em média 14 dias na UTI num ventilador, 40 morriam ( e morrem) dentro de um ano da alta hospitalar. Experiências da Itália têm mostrado que metade desse indivíduos morrem com a ventilação mecânica prolongada.
Um recente estudo no jornal JAMA avaliou pacientes com coronavírus admitidos no Northwell Health hospitals na cidade de Nova Iorque. O índice de mortalidade em pessoas acima de 65 anos excedeu 22% e a maioria dos acima de 65 anos que necessitaram de ventilação mecânica morreram.
Os dados que vêm se acumulando expõem uma realidade cruel : se um paciente é idoso e tem precárias condições de saúde a possibilidade é que , mesmo com os cuidados plenos , seu desfecho será fatal. E como seria a vida se sobreviver ¿ Muitos desenvolvem debilidades físicas . escaras e outras sequelas até cognitivas . Provavelmente serão necessários cuidados intermitentes  ou até permanentes.
Outro estudo do JAMA Internal Medicine avaliou 180 pacientes acima de 60 anos com doenças graves; a maioria disse ser contrária a um suporte de vida numa UTI . Mas isso é o que realmente estamos vendo acontecer nesta pandemia. Tratamentos agressivos e invasivos , ainda na ausência de uma medicação eficaz contra o vírus , ou seja , puro empirismo e manutenção da vida ás custas de tudo o que foi descrito anteriormente.
 Se os desejos não forem expressos os dilemas éticos nunca serão dissecados para a finalidade de um real cuidado de conforto.

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