A verdadeira intimidade não é conforto, é exposição.
Amar alguém profundamente significa permitir que outro olhar acesse zonas do ser que nem sempre suportamos ver.
A intimidade começa quando a imagem que sustentamos de nós mesmos começa a rachar sob o olhar do outro. Por isso ela assusta.
O medo de se deixar afetar é, em grande parte, medo de perder o controle sobre quem acreditamos ser.
O filósofo Winnicott via o encontro humano como um espaço de potencialidade, mas também de ameaça. O bebê, ao ser olhado pela mãe, descobre-se como sujeito, mas só porque foi primeiro um espelho do outro.
Essa matriz se repete na vida adulta: é no olhar amoroso que o eu se confirma, mas também se arrisca. O vínculo é sempre ambivalente; ele alimenta e expõe.
Amar é aceitar ser visto num ponto em que as defesas ainda não chegaram. A confiança, nesse sentido, não é ausência de medo, mas coragem de sustentar o desamparo.
Essa vulnerabilidade pode ser a essência da ética. O rosto do outro é convocação. Ele me obriga a responder, mesmo antes de entender. Na intimidade, o rosto do outro não é metáfora: é presença que desarma.
Ser visto por dentro é reconhecer que o eu não é autossuficiente, que depende do acolhimento alheio para continuar existindo. A alteridade rasga o narcisismo; ela desmonta o mito do sujeito isolado e mostra que a identidade é sempre coabitada.
Amar é aceitar o risco de não ser correspondido, de ser mal compreendido, de perder-se um pouco. Toda relação profunda ameaça desmontar a identidade porque ela introduz o imprevisível no centro do eu.
A intimidade é o espaço onde a liberdade encontra o vínculo; e é dessa colisão que nasce a experiência mais humana do existir.
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