quarta-feira, 12 de novembro de 2025

auto controle

 






A ideia de um sujeito racional, senhor de si e de seus impulsos, é uma ficção elegante criada para acalmar a civilização. Freud desmontou esse mito ao mostrar que o eu não comanda: apenas negocia. Entre o id e o superego, ele é um estagiário do inconsciente, tentando sobreviver à burocracia das pulsões. Controlar-se, nesse sentido, não é dominar, mas administrar forças que o ultrapassam. O autocontrole é a forma mais sofisticada de ilusão.

Spinoza já havia percebido que não somos livres, mas determinados pelos afetos que nos atravessam. Chamamos de “razão” apenas o instante em que uma paixão vence as outras. O que o pensamento moderno nomeou como domínio é, na verdade, uma hierarquia momentânea de desejos. A moral que exalta o controle ignora que os afetos são condição de existência; não inimigos dela. O homem que se diz disciplinado talvez apenas tenha conseguido uniformizar seus vícios.

Nenhum comentário:

Postar um comentário