quarta-feira, 19 de novembro de 2025

o inconsciente coletivo

 








As redes sociais se tornaram o novo inconsciente coletivo: um espaço onde o desejo circula disfarçado de escolha. Cada curtida, cada busca, cada imagem compartilhada é uma confissão involuntária. O sujeito acredita estar comunicando, mas está, antes, se revelando — e o algoritmo, como um analista sem ética, escuta tudo. A diferença é que, aqui, a escuta não visa elaboração, mas consumo. O inconsciente digital não interpreta: ele captura.

Freud dizia que o inconsciente é atemporal, feito de repetições e deslocamentos

As redes funcionam da mesma maneira: tudo retorna, nada se encerra. O feed é o sonho contemporâneo — um fluxo de imagens, restos de desejo e fragmentos de identidade. As publicações se repetem como lapsos, os stories funcionam como atos falhos visuais. O sujeito, tentando controlar a própria narrativa, acaba revelando aquilo que não sabe sobre si. O “conteúdo” é apenas o disfarce de uma pulsão exibicionista que busca reconhecimento e gozo.

Lacan veria nas redes a materialização do olhar do Outro

O algoritmo é o novo grande Outro: onipresente, invisível e avaliador. Ele sabe o que o sujeito deseja antes que o sujeito deseje — e, ao antecipar o desejo, o fabrica. A timeline é estruturada como o inconsciente: um campo de associações livres onde nada é casual, mas tudo parece ser. Curtir, comentar, postar: cada gesto é um modo de sustentar o desejo no circuito do olhar alheio. Não se quer tanto ver, mas ser visto.

Foucault ajudaria a entender o poder que emerge desse dispositivo: o controle não se impõe mais pela repressão, mas pela exposição voluntária.

O sujeito vigia a si mesmo em nome da autenticidade. O “ser verdadeiro” virou forma de governo. A intimidade, tornada pública, perde densidade simbólica e se converte em mercadoria afetiva.

O inconsciente digital produz sintomas: ansiedade por visibilidade, medo de irrelevância, fetiche pelo engajamento. O sujeito confunde atenção com amor, aprovação com pertencimento. A rede transforma o desejo em dado e o sintoma em métrica. E, como no inconsciente freudiano, o que é reprimido retorna — mas agora em forma de notificação.

As redes não apenas refletem o inconsciente, mas o reconfiguram. O desejo, antes mediado pela linguagem, é hoje mediado por interfaces. O que era metáfora virou algoritmo. E o sujeito, acreditando ser livre, apenas repete — clica, posta, consome — movido pela mesma lógica do sintoma: tentar preencher o que não se preenche..

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