Houve um tempo em que fotografar significava calar-se e
ficar parado. Você esperava. Suava. Deixava o mundo se desenrolar no seu
próprio ritmo e esperava que ele lhe desse algo que valesse a pena guardar. Era
lento, obsessivo e um pouco neurótico.
Então o Instagram surgiu na sua busca por validação. O
grande fornecedor de dopamina. O coliseu digital onde todos são ao mesmo tempo
artistas e espectadores. De repente, a paciência ficou obsoleta.
O Instagram não matou a fotografia. Ele apenas a transformou
em franquia. Transformou a arte silenciosa de observar em fast food emocional.Todos
ganharam uma câmera, uma plataforma e uma sede insaciável por atenção. O que
antes era uma arte de observação se tornou uma indústria de performance. O que
antes era curiosidade, ver o mundo, tornou-se ser visto. A legenda virou
confissão, as curtidas viraram aplausos, e a autenticidade teve que lutar para
sobreviver entre as fotos prontas e a sinceridade performática.
Não se trata de romantizar o passado. Ele tinha suas
próprias pretensões. O que interessa é o que acontece quando uma forma de arte
construída sobre a paciência colide com uma plataforma construída sobre a
velocidade. Quando a necessidade de observar em silêncio é sequestrada pela
necessidade de se exibir ruidosamente.
Em algum lugar entre os filtros, as legendas e as xícaras de
café cuidadosamente arrumadas, algo fundamental mudou. A fotografia deixou de
ser uma forma de ver o mundo e se tornou uma forma de provar que você estava
nele.
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