domingo, 2 de novembro de 2025

instagramável

 



Houve um tempo em que fotografar significava calar-se e ficar parado. Você esperava. Suava. Deixava o mundo se desenrolar no seu próprio ritmo e esperava que ele lhe desse algo que valesse a pena guardar. Era lento, obsessivo e um pouco neurótico.

Então o Instagram surgiu na sua busca por validação. O grande fornecedor de dopamina. O coliseu digital onde todos são ao mesmo tempo artistas e espectadores. De repente, a paciência ficou obsoleta.

O Instagram não matou a fotografia. Ele apenas a transformou em franquia. Transformou a arte silenciosa de observar em fast food emocional.Todos ganharam uma câmera, uma plataforma e uma sede insaciável por atenção. O que antes era uma arte de observação se tornou uma indústria de performance. O que antes era curiosidade, ver o mundo, tornou-se ser visto. A legenda virou confissão, as curtidas viraram aplausos, e a autenticidade teve que lutar para sobreviver entre as fotos prontas e a sinceridade performática.

Não se trata de romantizar o passado. Ele tinha suas próprias pretensões. O que interessa é o que acontece quando uma forma de arte construída sobre a paciência colide com uma plataforma construída sobre a velocidade. Quando a necessidade de observar em silêncio é sequestrada pela necessidade de se exibir ruidosamente.

Em algum lugar entre os filtros, as legendas e as xícaras de café cuidadosamente arrumadas, algo fundamental mudou. A fotografia deixou de ser uma forma de ver o mundo e se tornou uma forma de provar que você estava nele.


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