O raciocínio clínico engloba os processos de pensamento e de
tomada de decisão ao praticar a medicina. É um processo cognitivo complexo.
A teoria do processo “ duplo “ é um modelo amplamente aceito
de raciocínio clínico : ela postula que,
quando nos tornamos clínicos experientes, grande parte de nossa tomada de
decisão usa um tipo de pensamento rápido (reconhecimento de padrões). No
entanto, quando os pacientes apresentam sintomas ou sinais que “não se encaixam
perfeitamente”, mudamos para o segundo tipo de pensamento mais consciente e
trabalhoso, que, entre outras coisas, nos permite ser sistemáticos, refletir e
pensar hipoteticamente.
Os estudantes de medicina muitas vezes ficam entusiasmados
ao observar o primeiro tipo de pensamento em ação, por meio do qual um médico
experiente fará algumas perguntas simples e, em seguida,concluirá um
diagnóstico “inteligente”. Pode ser difícil para os alunos entenderem como chegou
à conclusão, uma vez que sua capacidade de raciocínio clínico ainda depende do
segundo tipo de pensamento, mais deliberado.
Como clínicos experientes, podemos até esquecer como era ser
um estudante. Mas, em 2020, o mundo mudou de uma forma que nunca poderíamos ter
imaginado. Todos nós, iniciantes em raciocínio clínico ou especialistas, nos
deparamos com uma nova doença sobre a qual sabíamos pouco. Nas primeiras
semanas de março, nenhum de nós tinha padrões (roteiros de doença) para
reconhecer pacientes com covid-19. Éramos todos novatos, e é incrível imaginar
o quanto nossa compreensão se desenvolveu desde aqueles primeiros dias, quando
nosso raciocínio clínico se concentrava principalmente em uma história de
viagens para a China ou Itália e sintomas como tosse e febre.
A pandemia nos lembrou como é ser um estudante de raciocínio
clínico novamente. À medida que os dias se transformavam em semanas, o teor das
consultas estavam mudando,as queixas já não seguiam um padrão,a epidemiologia
era nula. As histórias dos pacientes não mais precisavam seguir um padrão.O
processo de pensamento por trás do raciocínio clínico ficou mais atento aos
detalhes dos pacientes.
Muitas escolas médicas estão pecando ao permitirem que os
estudantes de medicina evoluam em seu treinamento com uma abordagem mais fechada
do raciocínio clínico, esquecendo-se da importância de ouvir um paciente detalhar
seus sintomas com as próprias palavras .
Agora que cheguei ao aniversário de minha primeira consulta
covid-19, percebo o quanto a pandemia me mostrou que Osler estava certo: se
você ouvir o paciente, ele realmente lhe dirá o diagnóstico.
Nenhum comentário:
Postar um comentário