O Chile negociou bem cedo a compra de vacinas contra a
Covid.Imunizou sua população mais rápido do que qualquer outro país nas
Américas e parece estar entre os primeiros do mundo a alcançar a imunidade de
grupo.
Mas especialistas dizem que a campanha de vacinação rápida e
eficiente do país - apenas Israel, Emirados Árabes Unidos e Seychelles
vacinaram uma parcela maior de suas populações - deu aos chilenos uma falsa
sensação de segurança e contribuiu para um aumento acentuado de novas infecções
e mortes que está sobrecarregando sistema de saúde.
O aumento de casos, mesmo que neste momento mais de um terço
da população do Chile tenha recebido pelo menos a primeira dose da vacina,serve
como um alerta para outras nações que consideram a vacinação a estratégia
salvadora de todos os problemas relacionados à pandemia. Resultado : o aumento
de casos gerou um novo conjunto de medidas rígidas de bloqueio que restringiram
a mobilidade em grande parte do país, afetando cerca de 14 milhões de pessoas.
Quando as taxas de transmissão são altas, a vacina não
controla novas infecções imediatamente. E com as novas variantes, que são mais
contagiosas, não é provável que vejamos um grande impacto até que a grande
maioria da população seja vacinada.
Na semana passada, o Chile registrou 7.626 novos casos de
Covid-19 em um único dia, um recorde, e o ritmo de novas infecções dobrou em
relação ao mês passado. O principal hospital da cidade costeira de Valparaíso
teve que criar um necrotério no final de semana. Autoridades de saúde no Chile
identificaram casos de novas variantes que foram identificadas pela primeira
vez no Brasil e na Grã-Bretanha.
Ao mesmo tempo o país vive uma crise de exaustão
profissional : 20 a 30% dos profissionais médicos do país saíram de licença
porque estão saturados.Muitos estão enfrentando problemas de saúde mental e
ideação suicida.
Ninguém questiona que a campanha de vacinação é uma história
de sucesso,mas transmitiu uma falsa sensação de segurança às pessoas, que
achavam que sendo vacinados a pandemia teria acabado.
O governo agiu rápido demais, pois reabriu suas fronteiras
em novembro e diminuiu as restrições às empresas. Não havia controle ou
rastreabilidade das pessoas que chegavam ao país e muitas pessoas viajavam para
o exterior nas férias. O Chile também permitiu a reabertura de academias,
igrejas, shoppings, restaurantes e cassinos. Mesmo com os especialistas pedindo
cautela, o governo manteve seu plano de reabrir escolas em 1º de março. Mais de
quatro milhões de pessoas viajaram pelo país. Isso levou o vírus, que foi
amplamente contido em algumas áreas importantes, a se espalhar.
O governo confiou principalmente no CoronaVac e na injeção
da Pfizer, mas também fez pedidos de outros fornecedores para acelerar o ritmo.
Lições como essa devem ser consideradas ao se lidar com uma
doença de transmissão respiratória.A dinâmica do SARS Cov2 está longe de se
limitar a medidas únicas. Vacinas são fundamentais nesse processo mas dependem
de outras tantas variáveis que implicam num compromisso individual e coletivo.
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