segunda-feira, 5 de abril de 2021

as lições do Chile

 

O Chile negociou bem cedo a compra de vacinas contra a Covid.Imunizou sua população mais rápido do que qualquer outro país nas Américas e parece estar entre os primeiros do mundo a alcançar a imunidade de grupo.

Mas especialistas dizem que a campanha de vacinação rápida e eficiente do país - apenas Israel, Emirados Árabes Unidos e Seychelles vacinaram uma parcela maior de suas populações - deu aos chilenos uma falsa sensação de segurança e contribuiu para um aumento acentuado de novas infecções e mortes que está sobrecarregando sistema de saúde.

O aumento de casos, mesmo que neste momento mais de um terço da população do Chile tenha recebido pelo menos a primeira dose da vacina,serve como um alerta para outras nações que consideram a vacinação a estratégia salvadora de todos os problemas relacionados à pandemia. Resultado : o aumento de casos gerou um novo conjunto de medidas rígidas de bloqueio que restringiram a mobilidade em grande parte do país, afetando cerca de 14 milhões de pessoas.

Quando as taxas de transmissão são altas, a vacina não controla novas infecções imediatamente. E com as novas variantes, que são mais contagiosas, não é provável que vejamos um grande impacto até que a grande maioria da população seja vacinada.

Na semana passada, o Chile registrou 7.626 novos casos de Covid-19 em um único dia, um recorde, e o ritmo de novas infecções dobrou em relação ao mês passado. O principal hospital da cidade costeira de Valparaíso teve que criar um necrotério no final de semana. Autoridades de saúde no Chile identificaram casos de novas variantes que foram identificadas pela primeira vez no Brasil e na Grã-Bretanha.

Ao mesmo tempo o país vive uma crise de exaustão profissional : 20 a 30% dos profissionais médicos do país saíram de licença porque estão saturados.Muitos estão enfrentando problemas de saúde mental e ideação suicida.

Ninguém questiona que a campanha de vacinação é uma história de sucesso,mas transmitiu uma falsa sensação de segurança às pessoas, que achavam que sendo vacinados a pandemia teria acabado.

O governo agiu rápido demais, pois reabriu suas fronteiras em novembro e diminuiu as restrições às empresas. Não havia controle ou rastreabilidade das pessoas que chegavam ao país e muitas pessoas viajavam para o exterior nas férias. O Chile também permitiu a reabertura de academias, igrejas, shoppings, restaurantes e cassinos. Mesmo com os especialistas pedindo cautela, o governo manteve seu plano de reabrir escolas em 1º de março. Mais de quatro milhões de pessoas viajaram pelo país. Isso levou o vírus, que foi amplamente contido em algumas áreas importantes, a se espalhar.

O governo confiou principalmente no CoronaVac e na injeção da Pfizer, mas também fez pedidos de outros fornecedores para acelerar o ritmo.

Lições como essa devem ser consideradas ao se lidar com uma doença de transmissão respiratória.A dinâmica do SARS Cov2 está longe de se limitar a medidas únicas. Vacinas são fundamentais nesse processo mas dependem de outras tantas variáveis que implicam num compromisso individual e coletivo.

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