quarta-feira, 28 de abril de 2021

a tragédia da India

 

A  velocidade espantosa com que o coronavírus vem se espalhando na Índia alarma o mundo. Tentativas de se buscar explicações científicas para esse fenômeno vêm sendo discutidas pelos especialistas.

A variante B.1.617 vem sendo responsabilizada por alguns pelo aumento dos casos, que vem relatando mais de 300 mil novas infecções por dia, um recorde mundial. Diante do histórico de sub notificações, acredita-se o número real provavelmente seja muito maior.

Ma não devemos tirar conclusões precipitadas sobre até que ponto a variante sozinha é responsável pelo aumento vertiginoso de casos. Ainda não temos evidências concretas sobre a virulência e transmissibilidade da variante.

Ela foi registrada pela primeira vez em um banco de dados global de genomas virais no início de outubro, apenas duas semanas depois que a variante B.1.1.7 foi originalmente detectada no Reino Unido. A B.1.617 circulou na Índia desde então e se espalhou internacionalmente. Cerca de 20 países notificaram casos, principalmente em viajantes da Índia.

O problema é que, em relação ao tamanho de sua população, a Índia investiga muito pouco o sequenciamento do genoma viral, que é a única maneira confiável de rastrear a evolução das variantes. A extensão do envolvimento da variante B.1.617 no surto na Índia é, portanto, desconhecida, embora seja responsável,possivelmente, por cerca de dois terços dos genomas relatados do país, pelo banco de dados global GISAID.

A B.1.1.7, sabidamente mais transmissível , foi a variante dominante da nova onda da  Covid-19 no Reino Unido no final de 2020, e mais tarde se espalhou para o continente europeu.

Há algumas evidências de múltiplas epidemias sobrepostas acontecendo na Índia, ao invés de um surto  unico.O que faz sentido em um país enorme e heterogêneo.

A variante B.1.617 original tem 13 mutações que resultam em alterações no vírus. Duas destas ocorrem na proteína spike que foi associada em outras variantes (como aquelas identificadas na África do Sul e Brasil) em aumentar a transmissibilidade e a capacidade de escapar da imunidade conferida pela vacinação ou infecção anterior. Mas não há evidência suficiente de estudos epidemiológicos ou experimentos de laboratório para confirmar que este também é o caso para B.1.617.

Para aumentar a incerteza, a B.1.617 está evoluindo e divergindo ao longo do tempo. Já foram detectadas três linhagens descendentes - chamadas B.1.617.1, B.1.617.2 e B.1.617.3 - com mutações ligeiramente diferentes. Novamente : as consequências dessas linhagens são desconhecidas.

As vacinas desenvolvidas para combater o coronavírus original parecem funcionar bem contra a variante B.1.1.7 que surgiu no Reino Unido, embora pareçam ser menos eficazes contra as cepas originadas na África do Sul e no Brasil . Se eles manterão a eficácia contra as novas variantes que surgem na Índia ainda não sabemos . Como apenas cerca de 10 por cento da população da Índia foi vacinada, as variantes ainda não estão sob forte pressão da imunidade da vacina.

A evolução da crise do coronavírus na Índia também foi impulsionada por outros fatores, incluindo sua baixa taxa de vacinação , capacidade hospitalar limitada, bem como decisões tomadas por líderes como o primeiro-ministro Narendra Modi e a tolerância de grandes reuniões políticas e religiosas,proporcionando enormes aglomerações. Em Março ocorreram diversas campanhas políticas, partidas internacionais de críquete entre a Índia e a Inglaterra com estádios lotados e poucos usando máscaras e vários grandes festivais religiosos , como o Kumbh Mela, um evento com a presença de milhões de pessoas . Soma-se a esses fatores a pobreza vigente no páis , as concentrações de pessoas vivendo em péssimas condições sanitárias , a maior favela do mundo .

Enfim , uma tragédia anunciada . Mais uma vez o descaso com as medidas de contenção do vírus implicam em tragédias onde milhares de vidas são perdidas.

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