A velocidade
espantosa com que o coronavírus vem se espalhando na Índia alarma o mundo. Tentativas
de se buscar explicações científicas para esse fenômeno vêm sendo discutidas
pelos especialistas.
A variante B.1.617 vem sendo responsabilizada por alguns
pelo aumento dos casos, que vem relatando mais de 300 mil novas infecções por
dia, um recorde mundial. Diante do histórico de sub notificações, acredita-se o
número real provavelmente seja muito maior.
Ma não devemos tirar conclusões precipitadas sobre até que
ponto a variante sozinha é responsável pelo aumento vertiginoso de casos. Ainda
não temos evidências concretas sobre a virulência e transmissibilidade da
variante.
Ela foi registrada pela primeira vez em um banco de dados
global de genomas virais no início de outubro, apenas duas semanas depois que a
variante B.1.1.7 foi originalmente detectada no Reino Unido. A B.1.617 circulou
na Índia desde então e se espalhou internacionalmente. Cerca de 20 países
notificaram casos, principalmente em viajantes da Índia.
O problema é que, em relação ao tamanho de sua população, a
Índia investiga muito pouco o sequenciamento do genoma viral, que é a única
maneira confiável de rastrear a evolução das variantes. A extensão do
envolvimento da variante B.1.617 no surto na Índia é, portanto, desconhecida,
embora seja responsável,possivelmente, por cerca de dois terços dos genomas
relatados do país, pelo banco de dados global GISAID.
A B.1.1.7, sabidamente mais transmissível , foi a variante
dominante da nova onda da Covid-19 no
Reino Unido no final de 2020, e mais tarde se espalhou para o continente
europeu.
Há algumas evidências de múltiplas epidemias sobrepostas
acontecendo na Índia, ao invés de um surto unico.O que faz sentido em um país enorme e
heterogêneo.
A variante B.1.617 original tem 13 mutações que resultam em
alterações no vírus. Duas destas ocorrem na proteína spike que foi associada em
outras variantes (como aquelas identificadas na África do Sul e Brasil) em
aumentar a transmissibilidade e a capacidade de escapar da imunidade conferida
pela vacinação ou infecção anterior. Mas não há evidência suficiente de estudos
epidemiológicos ou experimentos de laboratório para confirmar que este também é
o caso para B.1.617.
Para aumentar a incerteza, a B.1.617 está evoluindo e
divergindo ao longo do tempo. Já foram detectadas três linhagens descendentes -
chamadas B.1.617.1, B.1.617.2 e B.1.617.3 - com mutações ligeiramente
diferentes. Novamente : as consequências dessas linhagens são desconhecidas.
As vacinas desenvolvidas para combater o coronavírus
original parecem funcionar bem contra a variante B.1.1.7 que surgiu no Reino
Unido, embora pareçam ser menos eficazes contra as cepas originadas na África
do Sul e no Brasil . Se eles manterão a eficácia contra as novas variantes que
surgem na Índia ainda não sabemos . Como apenas cerca de 10 por cento da
população da Índia foi vacinada, as variantes ainda não estão sob forte pressão
da imunidade da vacina.
A evolução da crise do coronavírus na Índia também foi
impulsionada por outros fatores, incluindo sua baixa taxa de vacinação ,
capacidade hospitalar limitada, bem como decisões tomadas por líderes como o
primeiro-ministro Narendra Modi e a tolerância de grandes reuniões políticas e
religiosas,proporcionando enormes aglomerações. Em Março ocorreram diversas campanhas
políticas, partidas internacionais de críquete entre a Índia e a Inglaterra com
estádios lotados e poucos usando máscaras e vários grandes festivais religiosos
, como o Kumbh Mela, um evento com a presença de milhões de pessoas . Soma-se a
esses fatores a pobreza vigente no páis , as concentrações de pessoas vivendo
em péssimas condições sanitárias , a maior favela do mundo .
Enfim , uma tragédia anunciada . Mais uma vez o descaso com
as medidas de contenção do vírus implicam em tragédias onde milhares de vidas
são perdidas.
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