No centro de cada coronavírus está o seu genoma,uma
estrutura com cerca de 30 mil “letras” de RNA. Funciona como sua instrução para
forçar as células humanas a produzirem cerca de 29 proteínas que ajudam o vírus
a se multiplicar e se espalhar.
Na medida que ocorre a replicação viral, pequenos erros na
cópia , conhecidos como mutações,surgem naturalmente no genoma.Uma linhagem de
coronavirus irá , tipicamente, acumular uma ou duas mutações a cada mês.
Algumas mutações não tem efeitos nas proteínas formadas pela
célula infectada.Outras podem alterar o formato proteico por causa da mudança
ou deleção de um dos aminoácidos (que estão ligados para formarem as proteínas).
Através deste processo de seleção natural, mutações neutras
ou até ligeiramente benéficas serão passadas através de gerações de vírus,enquanto
que mutações prejudiciais são “corrigidas” pela próprio RNA.
Mutação da linhagem B.1.1.7
Foi relatada pela primeira vez no Reino Unido.Apresenta 17
mutações recentes que trocam ou deletam aminoácidos na proteína viral. Chama a
atenção 8 mutações na proteína spike que alteram o seu formato ( a proteína spike
fica com duas deleções e seis substituições na sua sequência de aminoácidos)
Mutação N501Y
Os cientistas suspeitam que uma mutação, chamada de N501Y,é
muito importante em fazer a linhagem B.1.1.7 mais contagiosa Ela altera um
aminoácido que se localiza no topo da proteína spike, que faz contato com um
receptor na célula humana.Isso leva a uma melhor afinidade pelos receptores
celulares tornando o risco de infecção mais bem sucedido
É possível que a mutação N501Y tenha evoluído
independentemente em muitas linhagens de coronavírus. Além da linhagem B.1.1.7,
ela já foi identificada em variantes da Australia, Brasil, Dinamarca, Japão,Holanda,
Africa do Sul etc.
Além da N501Y,a B.1.1.7 tem 16 outras mutações que podem
beneficiar o vírus ou serem neutras.Podem ser passadas de geração a geração.
Seus efeitos estão sendo estudados no presente momento.
Outra misteriosa mutação na linhagem B.1.1.7 deleta os aminoácidos
nas posições 69 e 70 da proteína spike. Experimentos mostram que isso capacita
, também , o vírus a infectar as células com mais sucesso. E é possível que
isto altere o formato da spike de modo a torna-la mais resistente ao ataque de
anticorpos.
Os pesquisadores chama essa deleção de recorrente pois a
mesma parte do genoma também tem sido deletada em outras linhagens. A mutação
H69–V70 também ocorreu numa variante que infectou milhões de roedores (vison)
na Dinamarca. Os cientistas estão identificando outras regiões que podem
desempenhar um importante papel no futuro da evolução viral
Mutação (deleção) Y144/145
Aqui ocorre uma mudança nos aminoácidos na posição 144t ou
145 também na proteína spike.Esta também parece fortalecer o vírus contra
anticorpos
Mutação P681H
Quando a proteína spike está se ligando à célula uma enzima
humana atua facilitando a sua penetração. A mutação P681H facilita esta enzima
a agir a favor da entrada do vírus.Esta mutação é vista também em outras
linhagens.Mas , felizmente , é rara estar associada à mutação N501Y
Mutação ORF8
ORF8 é uma proteína
pequena cuja função permanece misteriosa.Parece não ser essencial para a
replicação viral, mas pode ser uma espécie de ajuda a mutantes que perderam
algumas proteínas.
A linhagem B.1.1.7 já foi identificada em mais de 50 países
com alguns deles decretando lockdown e restrições de viagens.A estimativa é de
que seja 50% mais transmissível e pode se tornar a variante dominante em vários
países em breve.NoReino Unido ela já é.
A explicação para como a B.1.1.7 apareceu é de que muitas
mutações aconteceram em uma só pessoa. Pacientes com sistema imunológico
enfraquecido podem permanecer infectados , replicando o vírus , por meses
(acumulando mutações).Quando esses pacientes são tratados com plasma de
convalescentes, que contêm anticorpos contra o coronavírus, a seleção natural
pode favorecer o vírus com mutações que o protegem.
Outras mutações
Uma das primeiras mutações que foram observadas na pandemia
é a D614G.Ela apareceu na China no inicio da pandemia e , provavelmente ,
ajudou na circulação do vírus. Em muitos países ela se tornou dominante. A
B.1.1.7 é uma descendente dela.
Na Africa do Sul uma variante conhecida como 501Y.V2 também
já se espalhou pelo mundo.Ela tem 8 mutações que também mudam aminoácidos na
spike
Nenhuma dessas variantes , até o momento , são passíveis de
ajudarem o coronavirus a escaparem da
ação das vacinas. Os anticorpos gerados pela vacina da Pfizer-BioNTech foram
comprovados em barrar a mutação N501Y em células de laboratório. Os mais
otimistas acreditam que podemos levar anos e muitas mutações para que isto ocorra...
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