Desde que o SARS-CoV-2 foi identificado, pesquisadores procuram entender se o sistema imune causa mais mal do que bem durante a fase aguda da COVID-19. O mais recente estudo realizado por pesquisadores do Instituto La Jolla de Imunologia indicam que o sistema imune tem ação benéfica.
O estudo, publicado em 16 setembro de 2020 na revista Cell, confirma que múltiplas camadas de resposta imune específica a vírus são importantes para o controle durante a fase aguda da infecção e reduz a severidade da COVID-19. São fortes as evidências que indicam um papel muito mais expressivo para as células T do que os anticorpos. Uma resposta imunológica fraca ou desordenada, indica um desfecho pior da doença. Os resultados sugerem que as candidatas à vacina devem focar em estimular uma resposta imune ampla que inclua anticorpos, células auxiliares e células T citotóxicas para garantir uma melhor proteção imune.
Os achados podem inclusive explicar porque pacientes mais idosos de COVID-19 são muito mais vulneráveis a doença. Com o aumento da idade se reduz o reservatório de células T que podem ser ativadas contra vírus específicos e a resposta imune corporal começa a ficar menos coordenada, o que parece ser um dos fatores que fazem as pessoas mais velhas serem drasticamente mais suscetíveis para fase aguda ou fatalidade perante COVID-19.
Um dado importante : não se observaram evidências de que as células T contribuam para a tempestade de citocina (proteínas inflamatórias), o que parece ser mais mediado pelo sistema imune inato.
Quando o SARS-CoV-2 (ou qualquer outro vírus) invade o corpo, o sistema imune inato é o primeiro a entrar em cena e libera um amplo e inespecífico ataque contra os invasores. Libera ondas de moléculas sinalizadoras que estimulam a inflamação e alertam o sistema imune adaptativo para a presença de patógenos.
Com o passar do tempo, o chamado sistema adaptativo se prepara e atua com extrema precisão contra o vírus, interceptando partículas virais e matando células infectadas.
O sistema imune adaptativo consiste em três frentes: anticorpos; células T auxiliares (Th), que auxiliam as células B a preparar anticorpos protetivos; e células T citotóxicas (CTL), que procuram células infectadas pelo vírus e as eliminam.
Os pesquisadores coletaram amostras de sangue de 50 pacientes com COVID-19 e analisaram as três frentes do sistema adaptativo – anticorpos específicos para SARS-CoV-2, células T auxiliares e citotóxicas – em detalhe.
O que a equipe descobriu, similar aos estudos prévios, foi que todos indivíduos totalmente recuperados tinham respostas mensuráveis de anticorpos, células T auxiliares e citotóxicas, enquanto a resposta imune adaptativa em pacientes com COVID-19 aguda variou mais amplamente com ausência seja de anticorpos, outras células T auxiliares ou citotóxicas, ou ainda qualquer combinação de ausência das mesmas.
Uma resposta forte de células T a SARS-CoV-2 , em particular, é preditivo para doença mais branda
O efeito foi ampliado quando os pesquisadores dividiram o conjunto de dados por idade.Pessoas com mais de 65 anos são mais propensas a ter baixa resposta de células T, e uma resposta imune menos coordenada, e portanto ter COVID-19 mais severa ou fatal . Assim, parte da grande suscetibilidade dos idosos ao COVID-19 parece ser uma resposta imune adaptativa fraca, que pode ser devido a menos células T imaturas.
As células T imaturas são células T inexperientes que ainda não encontraram seu correspondente viral e estão esperando para serem ativadas. Conforme envelhecemos, o repositório de células T imaturas acessíveis do sistema imune diminui e poucas células estão disponíveis para serem ativadas para responder a novos vírus. Isso também pode levar a resposta imune adaptativa tardia, que é incapaz de controlar um vírus até que seja tarde demais para limitar a severidade da doença ou a magnitude da resposta é insuficiente..
Alinhados com o que outras equipes de pesquisa descobriram previamente, anticorpos aparentam não desempenhar papel importante no controle da fase aguda da COVID-19. Ao invés disso, células T e células T auxiliares particularmente estão associadas com respostas imunes protetoras.
Se a vacinação for bem-sucedida, os anticorpos induzidos pela vacina estarão prontos para interceptar o vírus quando ele bater à porta. Em contraste, em uma infecção normal o vírus começa com vantagem porque o sistema imune nunca esteve em contato com nada parecido. No momento em que o sistema imune adaptativo estiver pronto para agir durante a infecção primária, o vírus já terá se replicado dentro das células e os anticorpos não poderão alcançá-los.
Desta forma, estes achados indicam que é plausível células T serem mais importantes na resposta à infecção natural por SARS-CoV-2, e os anticorpos mais importantes para uma vacina de COVID-19.
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