sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Cautela na intepretação dos números do COVID 19

Nós tivemos menos mortes por COVID 19 no Brasil em agosto de 2020 em comparação ao mês anterior. Em julho o país registrou 32.912 óbitos, agosto totalizou 28.947. A redução foi de 12%.

A média móvel de sete dias também registrou queda, de 11%. Nesse caso, a comparação é entre o dado divulgado na segunda-feira (31) e o de 17 de agosto. Foram 971 mortes na data anterior contra 866 no dado mais recente. A média móvel é obtida quando se soma o resultado dos últimos sete dias e se divide por sete, e é usada para nivelar discrepâncias nos registros de óbitos, que costumam cair nos fins de semana.

Porém , as reduções nos dados não são homogêneas quando avaliamos diferentes estados e cidades. Por exemplo ,tomando-se a comparação entre a média móvel de 31 de agosto com a de 17 do mesmo mês, o Rio Grande do Sul apresentou uma redução de 20% nos óbitos e o Rio de Janeiro, uma alta de 64%.

Na quarta-feira (02 de setembro), o Imperial College, centro britânico de análise de epidemias, divulgou que a taxa de transmissão (Rt) do Brasil é a menor desde o final de abril. De acordo com a instituição, o índice é de 0,94, ou seja, cada 100 contaminados transmitem o novo coronavírus para outros 94. Estes 94 passam para outros 88, em um movimento de declínio do contágio.

Esses resultados acontecem em meio à reabertura do comércio e à retomada de atividades presenciais por todo o país.Isso vem sendo acompanhado por uma queda cada vez mais acentuada à adesão ao isolamento social.Pesquisa do Datafolha publicada em 18 de agosto mostra que apenas 8% dos entrevistados seguiam realizando isolamento total. Em abril, eram 16%. Outros 43% evitam sair de casa, em comparação com 53% em abril.

As estatísticas mais recentes que mostram diminuição no número de mortes e na média móvel do país, no entanto, ainda não são suficientes para classificar o quadro como de queda consolidada.

Na infectologia analisamos que se os números continuarem caindo é possível que o país saia de uma fase de epidemia para uma fase endêmica. Isso representa ter um número menor de casos, mas constantes e que podem manter os riscos de termos doentes graves nas UTIs.

É importante enfatizar que temos muita gente suscetível , ou seja , pessoas que não foram infectadas e portanto não´seria surpresa se tivermos ascendência dos casos novamente. No Rio de Janeiro houve um um pico grande entre maio e junho, em julho começou a cair, mas as mortes voltaram a crescer de modo preocupante agora.

Em alguns estados podemos ainda ter novas ondas e ter que nos preocupar de novo com aumento de mortalidade e maior rigidez no distanciamento. Se novas ondas aparecerem, significa que teremos que conviver com essas idas e vindas por mais tempo, até termos a vacina.

Uma explicação para a queda dos casos em São Paulo , como exemplo,seria o surgimento de “bolhas de proteção”, em que se esgotam as redes de contágio. Nesse modelo, pessoas que ainda não foram contaminadas acabam protegidas por uma barreira de indivíduos que já estão imunes. O distanciamento social também contribui para esse fenômeno.

Em julho de 2020, um estudo publicado pela revista científica americana Science constatou que as medidas de isolamento social nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro reduziram pela metade a transmissão do vírus. O levantamento da Universidade de Oxford, da USP (Universidade de São Paulo) e da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) apontou que a taxa de transmissão das duas cidades era maior que 3 antes do isolamento e depois caiu para um intervalo entre 1 e 1,6.

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