terça-feira, 8 de setembro de 2020

o custo de uma tragédia

O presidente do Brasil busca se eximir de qualquer responsabilidade pelo desempenho do país no combate à covid-19. Para isso, estrutura sua narrativa a partir de quatro ideias centrais :

1. Negacionismo quanto à gravidade da pandemia (chamada pelo presidente de “gripezinha”)

2. Inevitabilidade das mortes e de alastramento do vírus: “é como uma chuva, vai atingir você”

3. Pretensa atribuição exclusiva de prefeitos e governadores no enfrentamento da crise sanitária

4. A não-necessidade de paralisação econômica, dada a suposta existência da cura para a doença (cloroquina).

O negacionismo ignora a facilidade de transmissão do vírus, sua taxa de mortalidade e mesmo a possibilidade de sequelas mais duradouras da doença. A maneira de demonstrar isso foi a participação do presidente em manifestações políticas, provocando aglomerações com seus passeios por Brasília, apertando as mãos de apoiadores e se recusando a usar máscara numclaro desrespeito a medidas de contenção, como o isolamento social. Chegou a dizer que os governadores e prefeitos queriam instalar uma ditadura com suas quarentenas.

A segunda ideia (fatalismo), que desconsidera os resultados melhores de outros países na contenção do vírus, concretizou-se não apenas nas suas declarações, mas também em seus vetos (depois derrubados pelo Congresso) a leis que os parlamentares aprovaram. O presidente foi no caminho contrário em medidas tanto para garantir recursos ao combate da pandemia entre indígenas, quilombolas e outras comunidades tradicionais, quanto para tornar obrigatório o uso de máscara em presídios, templos religiosos e outros estabelecimentos.

A terceira ideia (impossibilidade de agir), que busca atribuir exclusivamente a governadores e prefeitos a obrigação de resolver a crise sanitária, parte de uma interpretação distorcida de uma decisão do Supremo Tribunal Federal. Em abril, os ministros definiram que, pela Constituição, estados e municípios têm poder de impor medidas sanitárias que considerarem necessárias em seu território e não podem ser desautorizados pelo governo federal.

A decisão, no entanto, não isentou o governo da responsabilidade de promover políticas nacionais para o enfrentamento da crise sanitária. 

Por fim, a quarta ideia (existência da cura), que busca amparar a volta à normalidade, transforma a cloroquina e seu derivado hidroxicloroquina — remédios que não têm o aval de estudos criteriosos para o tratamento da covid-19 — na maior proposta do presidente para o enfrentamento da pandemia na área sanitária.



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