Somos uma mina de dados ou uma fábrica de dados? Os dados
são extraídos de nós ou produzidos por nós?
Ambas as metáforas são repulsivas, mas a distinção entre
elas é importante. A metáfora que escolhemos influencia nossa percepção do
poder exercido por empresas de plataforma como Facebook, Google e Amazon, e
molda a maneira como nós, como indivíduos e como sociedade, reagimos a esse
poder.
Se somos uma mina de dados, então somos essencialmente um
pedaço de terra, e o controle sobre nossos dados se torna uma questão de
propriedade. Quem nos possui (como um local de dados valiosos) e o que acontece
com o valor econômico dos dados extraídos de nós?.
Devemos ser nosso próprio dono — os únicos proprietários da nossa
mina de dados e de sua riqueza? Ou os direitos de propriedade devem ser
transferidos para um conjunto de corporações que possam agregar eficientemente
a matéria-prima da minha mina e de todas as outras, transformando-a em produtos
e serviços úteis? As questões levantadas aqui são questões de economia e
política.
Os dados são uma forma de propriedade comum tanto quanto o
petróleo, o solo ou o cobre. Criamos dados juntos e lhes damos significado
juntos, mas seu valor está atualmente nas mãos das empresas que os detêm.
Encontramo-nos na posição de um país colonizado, com nossos recursos extraídos
para abastecer bolsos distantes. A riqueza que pertence a muitos — riqueza que
poderia ajudar a alimentar, educar, abrigar e curar pessoas — é usada para
enriquecer poucos.
A simplicidade da metáfora da mineração é sua força, mas
também sua fraqueza. A metáfora da extração não captura suficientemente o que
empresas como Facebook e Google fazem, e ao adotá-la, restringimos muito
rapidamente a discussão sobre nossas possíveis respostas ao poder delas. Os
dados não estão passivamente dentro de nós, como uma jazida de minério ou um
reservatório de petróleo, esperando para serem extraídos. Pelo contrário, nós
os produzimos ativamente. Quando dirijo ou caminho de um lugar para outro,
produzo dados de localização. Quando compro algo, produzo dados de compra.
Quando troco mensagens com alguém, produzo dados de afiliação. Quando leio,
assisto ou compro algo online, produzo dados de preferência. Quando publico uma
foto, produzo não apenas dados comportamentais, mas dados que são, em si, um
produto. Em outras palavras, somos muito mais uma fábrica de dados do que uma
mina de dados.
As empresas de plataforma, por sua vez, agem mais como
gerentes de fábrica do que como donos de poços de petróleo ou minas de cobre.
Além de controlar nossos dados, essas empresas buscam controlar nossas ações,
que para elas são essencialmente processos de fabricação, a fim de otimizar a
produção de dados (e, do lado da demanda da plataforma, nosso consumo de
dados). Elas querem roteirizar e regular o funcionamento da nossa fábrica — ou
seja, nossa vida. O controle exercido por essas empresas, em outras palavras,
não é apenas o da propriedade, mas também o do comando. E elas exercem esse
comando por meio do design de seus aplicativos e outros softwares, que regulam
cada vez mais tudo o que fazemos durante nossas horas de vigília. Os
aplicativos são, como rotinas de fábrica e máquinas industriais, ferramentas de
modificação comportamental. Eles são projetados para maximizar a eficiência das
pessoas na produção de dados valiosos.
A metáfora da fábrica deixa claro o que a metáfora da
mineração obscurece: trabalhamos para os Facebooks e Googles do mundo, e o
trabalho que fazemos é cada vez mais indistinguível das vidas que levamos. As
questões que precisamos enfrentar são políticas e econômicas, sem dúvida. Mas
também são éticas e filosóficas. A metáfora da extração sugere que nos falta
responsabilidade e capacidade de agir individualmente. A metáfora da fábrica
enfatiza nossa responsabilidade e capacidade de agir. Somos agentes, não meros
reservatórios de recursos.