Enquanto ainda vivemos a imprevisibilidade da covid 19,
surge a possibilidade de uma nova pandemia muito mais mortal.
A gripe aviária sempre foi uma ameaça para a humanidade. Ela
é causada por um tipo de vírus Influenza, a cepa H5N1, que felizmente não
infecta as pessoas com muita frequência, mas, quando o faz, tem uma taxa de
mortalidade de até 56%. Por enquanto a transmissão inter humana é bastante
baixa o que tem sido o principal fator para que já a infecção já não tivesse
causado estragos enormes para a civilização.
Mas as coisas estão mudando . O vírus, que se espalha
facilmente entre pássaros, está infectando cada vez mais aves migratórias,
permitindo sua ampla disseminação. Dados atuais apontam que ele está infectando
também vários mamíferos, tornando um salto para os humanos plenamente possível.
De forma alarmante, foi relatado recentemente que o H5N1 não estava apenas
sendo detectado entre visons em uma fazenda de peles desses animais na Espanha,
mas também provavelmente se espalhando rapidamente entre eles, um fato sem
precedentes. E o pior : o trato respiratório superior do vison é
excepcionalmente adequado para atuar como um reservatório de adaptação facilitando
sua capacidade de chegar até os humanos.
A melhor defesa contra um novo patógeno com essas
características é suprimir agressivamente e precocemente os primeiros surtos, o
que requer detectá-los rapidamente. Muitos países já possuem redes de
vigilância da Influenza, mas parece que não estão funcionando bem o suficiente
diante das evidências de ameaça. Essa vigilância precisaria priorizar o
monitoramento de pessoas que estejam associadas à indústria avícola, e também
criar uma rede de seguimento. Fazendas de porcos – outra espécie suscetível à influenza
– também devem ser vigiadas quanto à gripe aviária . Porém, não basta detectar:
a supressão exigiria um grande esforço e uma coordenação global.
Infelizmente, as fazendas de visons devem ser fechadas –
mesmo que isso signifique sacrificar os animais. Eles são normalmente abatidos
de qualquer maneira para o uso de sua pele por volta dos 6 meses de idade. É assustador
pensar que podemos estar diante de uma maneira ideal de incubar e espalhar um
vírus mortal ao deixá-lo evoluir entre dezenas de milhares de animais com um
trato respiratório superior semelhante ao nosso.. Quando o coronavírus infectou
fazendas de visons dinamarquesas em 2020,os animais geraram novas variantes que
infectaram humanos.
Se diferentes cepas de Influenza infectaram a mesma pessoa
simultaneamente,elas podem trocar segmentos de genes e dar origem a novos vírus
mais transmissíveis . Se isso ocorrer num vison , um humano posteriormente
infectado pode ser o suficiente para desencadear uma pandemia. Para se evitar
isso, os testes rápidos devem estar amplamente disponíveis e fáceis de se obter
em toda área de risco : especialmente para trabalhadores aviários e pessoas que
lidam com aves ou outros animais selvagens.
Talvez a melhor notícia seja que temos várias vacinas H5N1
já aprovadas pela Food and Drug Administration, cuja segurança e resposta imune
foram estudadas. O governo dos Estados Unidos tem um pequeno estoque dessas,
mas não atenderia a demanda caso ocorresse um surto grave.A produção de
centenas de milhões de doses de uma nova vacina pode levar seis meses ou mais. As
plataformas baseadas em mRNA usadas para produzir vacinas contra a Covid também
podem ser uma opção podendo ser produzidas em massa mais rapidamente, em apenas
três meses. Atualmente não há vacinas de mRNA aprovadas para influenza, mas os
esforços para fazer uma devem ser acelerados.
Já temos drogas antivirais para influenza, que funcionam
independentemente da cepa, mas não apresentam boa eficácia clínica e precisam
ser administrados precocemente, no inicio dos sintomas.
Até 2020, quando a nova cepa do H5N1 começou a se espalhar
extensivamente entre as aves silvestres, a maioria dos grandes surtos ocorreu
entre as aves domésticas. Mas agora, com aves selvagens atuando como condutos,
não é apenas o maior surto de todos os tempos entre aves, causando a morte de
pelo menos 150 milhões de animais até agora, mas também está expandindo
constantemente seu alcance.
Em 2006, os cientistas descobriram que o H5N1 não se
espalhava facilmente entre os humanos porque se instala profundamente em seus
pulmões.Mas se o vírus evoluír para se ligar a receptores no trato respiratório
superior - a partir dos quais poderia se tornar mais facilmente transportado
pelo ar - o risco de uma pandemia entre os humanos aumentaria substancialmente.
O surto de vison na Espanha é um sinal de que podemos estar seguindo exatamente
esse caminho.
Os sinais de alerta sãos claros e alarmantes para uma
pandemia potencialmente terrível. As pessoas, é claro, não querem ouvir falar
de outro vírus.Hoje não mais de notam quaisquer esforços para conter a covid 19.
Podemos ter sorte - já tivemos surtos de gripe aviária antes sem propagação
humana. Mas é muito arriscado contar com isso. Uma cepa pandêmica poderia até
ter uma taxa de mortalidade muito menor do que os 56% dos casos humanos
conhecidos até agora, mas ainda pode ser muito mais mortal do que o
coronavírus, que se estima ter matado de 1% a 2% dos infectados antes das
vacinas ou tratamentos estarem disponíveis
Desta vez, não temos apenas o aviso. Não devemos esperar até
que seja tarde demais.
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