Ao humano cabem duas concepções da sua atividade produtiva : o trabalho como sobrevivência (sob o jugo da necessidade) e o por vocação ( um sentido de realização pessoal). A idéia que poderia haver um trabalho como uma primeira necessidade vital , pensado por Marx , onde não haveria uma hierarquia impositiva não vingou.
Um progressivo aumento do consumo neutralizou o papel do trabalho como preenchimento do vazio existencial. Trocamos o verbo : fazer pelo ter . Em meio à abundância tecnológica e de marketing, um sentimento de vazio só cresce.Mas o que move o consumo ?
Os filósofos estóicos , particularmente Epicuro, já alertava que a riqueza que se origina do imaginário não tem tamanho e é muito dificil de se obter. Muito tempo depois , John Ruskin , sociólogo , escreveu sobre as demandas que nos permeiam. Três quartos delas, segundo ele, são romãnticas,visionárias,ideológicas e o que regula a imaginação e os desejos se origina nos comandos econômicos.
Abre-se um "gap" inmensurável entre o minimo que é indispensável à vida e o desejo infinito consumista . O que nos é indispensável vem crescendo conjuntamente com nossas novas demandas.Não é o caso de atribuir aos benesses da tecnologia essa febre de obter,mas de questionar o que realmente sustenta e revigora o consumo. Uma parte da resposta está no incremento dos estímulos publicitários.Porém ,se nos submetemos aos seus comandos é porque oferecemos uma imaginação muito fértil e receptiva.
Uma analise da nossa condição contemporânea pode ser resumida nos dois tipos de riqueza que criamos. Uma primeira , democrática , é constituída de bens que nos servem,independentemente do que os demais humanos obtêm. A segunda riqueza é a oligárquica : o desejo de ter algo que diferencie , impacte ao outro , crie um status de poder e de projeção pessoal. São os bens posicionais. Adam Smith , no livro " a riqueza das nações ", escreveu que a principal fruição da riqueza consiste em poder exibi-la. A riqueza democrática pode ser desfrutada por todos , a oligárquica se enfraquece na medida em que se dissemina.
O consumo se estende a todas as esferas . A escassez vem sendo recriada. Num planeta com recursos finitos, os humanos sonham os delírios narcísicos e acordam para o papel de ávidos consumidores.
Nenhum comentário:
Postar um comentário