Há grandeza nesta visão da vida, com seus vários poderes, tendo sido originalmente soprada em algumas formas ou em uma; e que, enquanto este planeta girava de acordo com a lei fixa da gravidade, de um começo tão simples, infinitas formas mais belas e maravilhosas foram e estão sendo evoluídas.
— A Origem das Espécies, Charles Darwin
O que começou como uma pandemia transmitida por um único
vírus tornou-se uma nuvem viral que se espalha pelo mundo graças a políticas de
saúde públicas que permitiram que a transmissão acontecesse de forma irrestrita.
Como consequência, a pandemia agora apresenta diferentes
ameaças em diferentes regiões para diferentes classes de pessoas vivendo
diferentes momentos.Ela nos afeta de modo que deveríamos tomar decisões
individualmente e em conjunto.Entramos em uma época de volatilidade biológica e
os riscos que isso acarreta exigem vigilância constante. O que estamos
aprendendo ....
1. Um vírus se tornou muitos.
Não enfrentamos mais um inimigo viral ou uma única variante
como Delta. A Omicron produziu quatro linhagens de descendentes geneticamente
diversos, transformando-se em um uma diversidade de cerca de 700 subvariantes
referenciadas por uma confusa combinação de números e letras. O que antes era
um único violino tornou-se uma orquestra complexa e em expansão, sem um maestro
a controlar seu ritmo. Até os virologistas agora têm dificuldade em acompanhar
de onde vêm as variantes e o que significam suas diferentes mutações.
Nossas ações, ou inações, estão impulsionando essa evolução.
As políticas atuais permitem a transmissão desimpedida. E nesse contexto,
vacinas e tratamentos antivirais, apesar de seus óbvios benefícios de
preservação da vida, criaram condições sob as quais o vírus está evoluindo
rapidamente. Algumas variantes tornaram- se imunes evasivas . Outras tornaram
-se mais transmissíveis ou hábeis em se ligar a células humanas. Muitas
mutações tornaram os tratamentos com anticorpos totalmente ineficazes. Um
estudo mostra que os descendentes de BA.2 e BA.5 se tornaram mais patogênicos .
E as variantes continuam a gerar novos descendentes em uma árvore genealógica
viral em constante expansão.
2. A COVID é um experimento único em evolução.
As lideranças em saúde deixaram rapidamente de conduzir as medidas
de proteção e diagnóstico. O uso de máscaras e testes são uma questão de
escolha pessoal e não de autopreservação coletiva. Parece haver um acordo
coletivo em não passar uma mensagem vital para os cidadãos sobre como as
pandemias realmente chegam ao fim. Então o teatro é este. Todos fazemos de
conta que a covid é coisa do passado e decretamos que nada realmente vem
acontecendo. As ações combinadas de “deixar o vírus se espalhar” em uma
população com graus variados de imunidade protetora criada por vacinas ou
infecções anteriores levou a um aumento sem precedentes na diversificação viral
em 2022. A escala em que o SARS-CoV-2 evoluiu para criar novas variantes e
linhagens parece sem precedentes na história da virologia moderna. Paralelamente
a hesitação vacinal das pessoas aumentou acentuadamente , apesar da pesquisa
que mostra que os reforços bivalentes salvam vidas. Portanto, as subvariantes
não têm problemas para encontrar hospedeiros humanos. À medida que se replicam,
eles sofrem mutações e se comportam como Darwin teria previsto. Enquanto isso,
a vigilância genômica dessas subvariantes em multiplicação está diminuindo em
todo o mundo. Isso significa menos transparência e menos avisos antecipados
sobre variantes mais perigosas.
3. O que eram picos virais são agora um mar crescente de
infecções com marés altas e baixas.
A pandemia não se parece mais com um gráfico padrão composto
de picos, vales e calmarias ocasionais em dados de infecções, mortes e
incapacidades. O novo momento viral está produzindo não uma ou duas ondas, mas
uma sucessão sustentada de ondas. Em outras palavras, a pandemia passou de uma
emergência aguda (morte súbita e hospitais lotados) para uma realidade crônica
contínua (doenças crônicas e hospitais lotados mais ondas de mortes em
excesso). Quais são as consequências de um mar crescente de infecções em oposição
aos tsunamis? Pressão sustentada sobre os sistemas de saúde sem grandes
tréguas.
Resultado: o Canadá,por exemplo, experimentou sua pior taxa
de mortalidade e hospitalização pelo vírus em 2022.
4. Uma pandemia se transformou em epidemias regionais.
A pandemia não apresenta mais uma face para o mundo porque
se tornou uma hidra de várias cabeças. Como consequência, ela se comporta de
maneira diferente em diferentes regiões. Isso reflete a situação de casos e
mortes na China recentemente na medida em que o país abandonou a maioria das medidas
restritivas em nome da economia global. Prevê-se mais de um milhão de mortes na
China, o que tem um só nome : como uma catástrofe humanitária.
A diversificação nas variantes também significa que as
mortes podem estar diminuindo em alguns países, mas aumentando em outros a
qualquer momento. A Suécia, que adotou uma abordagem criminosa para o vírus com
poucas proteções, agora registra suas maiores taxas de mortalidade pandêmica:
cerca de 300 por semana. E consideram isso uma coisa normal .
O Japão já ostentou a menor taxa de infecção e mortalidade
por COVID do mundo, apesar do envelhecimento da população. Mas subvariantes
mais transmissíveis alimentaram a sétima onda do Japão e sua maior taxa de
mortalidade. Desde dezembro, a covid já matou mais de 10.000 cidadãos
japoneses. A maioria tem mais de 60 anos . Quase 40% da população do Japão tem mais
de 65 anos. Essas novas subvariantes estão contornando a imunidade de
vacina/reforço até agora alcançada nas populações. Portanto, uma nova pandemia
de COVID-19 está surgindo em todo o mundo com novos desafios médicos.
5. Reinfecções raramente aconteciam. Agora elas são comuns.
Desde o aparecimento da Omicron e suas linhagens, os
pesquisadores relataram uma mudança dramática na pandemia. As reinfecções,
antes raras, explodiram. Os fatores responsáveis por essa mudança são,
novamente !, a redução de medidas que reduzem a transmissão combinada com a
evolução de subvariantes imunoevasivas. Como resultado, dados da Austrália
mostram um número elevado de pessoasinfectadas até cinco vezes em um ano.
Esse aumento na taxa de reinfecção ajudou a alimentar um
grande evento incapacitante na população em geral: a covid longa. Cerca de uma
em cada dez infecções leva a essa condição debilitante , que afeta
principalmente adultos mas que podem prejudicar o sistema imunológico de
crianças. Há motivos para se preocupar que as subvariantes sejam mais propensas
a causar a covid longa.
No ano passado, um estudo da Nature mostrou que as
reinfecções não são benignas. O estudo, que se baseou em dados de saúde de uma
grande população de veteranos dos EUA, descobriu que as pessoas com reinfecções
“tinham duas vezes mais chances de morrer e três vezes mais chances de serem
hospitalizadas do que aquelas sem reinfecção”. O risco de desenvolver problemas
pulmonares, derrames, batimentos cardíacos irregulares, problemas intestinais e
danos cerebrais aumentou em pessoas com infecções repetidas em comparação com
aquelas que foram infectadas apenas uma vez. A covid está nos ensinando que
existe uma linha clara entre infecções e doenças crônicas. Em uma recente
revisão os pesquisadores liderados pelo cientista americano Eric Topol
observaram que as vacinas reduzem apenas o risco de covd longa 14 a 41%.
6. Podemos fazer mais para atenuar a ameaça evolutiva das
subvariantes .
Então, a pandemia não acabou. Os vírus, uma das entidades
mais abundantes neste planeta, não param. Eles sofrem mutações. Eles mudam. Eles
se adaptam.
Quanto mais um vírus transmite, mais oportunidades ele pode explorar para mudar sua forma. Infecções repetidas geram mutações aleatórias e a seleção natural leva a variantes melhor adaptadas ao ambiente em que os vírus sobrevivem e se reproduzem - ou seja, nós. Podemos fazer melhor ao reconhecer essa realidade e responder coletivamente para salvar vidas e limitar as constantes ondas de infecção.
Podemos :
Ampliar nossa política de vacinação com cobertura para as
novas subvariantes.
Estabelecer padrões para melhorar a renovação do ar em
nossas escolas e locais de trabalho : isso reduzr drasticamente a propagação
viral no público.
Educar as pessoas sobre os benefícios multiplicadores do uso
de máscaras em locais públicos disponibilizanto máscaras eficazes facilmente ao
público e aos profissionais de saúde.
Cobrar das autoridades em saúde uma discussão mais engajada,
precisa e especializada sobre onde chegamos nesta pandemia e por que ela não
está perto de terminar.
O discurso público deve reconhecer duras verdades sobre os
riscos de infecções repetidas, longa covid e incertezas sobre o desfecho a
longo prazo dessas complicações
Quem está disposto....Qual será a nossa resposta ¿
De onde estamos hoje, a evolução viral, que nunca é linear,
pode perseguir muitos futuros.
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