domingo, 9 de outubro de 2022

reinfecções

 

Durante o primeiro ano da pandemia, quando os relatos de reinfecções por coronavírus começaram a surgir, o fenômeno foi considerado extremamente raro. Em outubro de 2020, o mundo havia registrado trinta e oito milhões de casos de covid 19 e menos de cinco reinfecções confirmadas. Dois anos depois, as reinfecções tornaram-se extremamente comuns. Agora está claro que não apenas quase todos contrairão o Sars Cov2, mas provavelmente muitos serão infectados várias vezes. O vírus evolui com muita eficiência, nossa imunidade diminui muito rapidamente e, embora as vacinas tenham se mostrado notavelmente duráveis ​​contra doenças graves, elas não conseguiram quebrar a cadeia de transmissão.

À medida que mais pessoas experimentam infecções repetidas, podemos afirmar que o vírus continua sendo uma ameaça constante, mesmo quando é ignorado. Nos EUA, a covid 19 ainda está a caminho de matar mais de cem mil pessoas por ano; não sabemos se reinfecções recorrentes causarão danos a longo prazo à nossa saúde e qualidade de vida.

É consenso que, apesar da implacabilidade das reinfecções, nossos problemas maiores com a covid estão lentamente começando a diminuir. Embora as infecções sempre tragam riscos e ainda possamos sofrer surtos periódicos e novas variantes, as repercussões clínicas devem ficar menos graves e menos frequentes à medida que nossa imunidade cresce. Vacinas e medicações antivirais também continuarão a melhorar, ajudando a diminuir os piores efeitos da reinfecção. Mas a duração e a gravidade desse período de transição também são importantes. Quantas vezes teremos que passar por quarentenas e enfrentar os sintomas, nos preocupando com o quão ruim isso pode ser? Quantas surpresas mais o coronavírus poderia ter reservado?

A era  da reinfecção começou no ano passado passado, quando a variante Omicron se espalhou pela primeira vez pelo mundo. Um estudo feito na Europa mostrou que quase noventa por cento de todas as reinfecções ocorreram no mês de janeiro de 2022. (Os pesquisadores descobriram que uma em cada cem reinfecções levou à hospitalização e uma em cada mil resultou em morte.) De acordo com algumas estimativas , o surto inicial de Omicron causou dez vezes mais reinfecções do que a variante anterior , a Delta . E a Omicron agora circula na forma de subvariantes ainda mais contagiosas, como BA.4 e BA.5.

Com que frequência o coronavírus está nos reinfectando agora? “Provavelmente estamos todos sendo reinfectados o tempo todo”, é a opinião de Marcel Curlin, médico de doenças infecciosas da Oregon Health & Science University, que opina que a maioria absoluta das reinfecções ocorrem de forma assintomática ou com sintomas muito leves.

Fundamentalmente, nosso risco de reinfecções depende de três fatores principais: quanto nossa imunidade diminuiu, quanto o vírus mudou e quanto nos expomos. Nossa imunidade coletiva aumenta com infecções, reinfecções e vacinas. Mas as nossas proteções imunológicas também exercem pressão sobre o vírus para evoluir. Eles podem mudar a ponto do nosso sistema imune ter dificuldade em reconhecê-los e ataca-lo. A variante Omicron original tinha pelo menos trinta e duas mutações em sua proteína spike – duas vezes mais que a Delta – e, nos últimos meses, suas subvariantes acumularam muito mais.O Sars -CoV-2 está sofrendo mutações mais rapidamente do que qualquer um de seus primos coronavírus – mais rápido até do que a cepa de gripe dominante no mundo. É mais do que apenas um jogo de números: nossas células imunológicas precisam estar nos lugares certos.

Aubree Gordon, epidemiologista da Universidade de Michigan, acompanha centenas de famílias na Nicarágua para entender os riscos da covid ao longo do tempo. O trabalho de Gordon mostrou que, em média, uma primeira infecção diminui a gravidade de uma segunda e uma segunda de uma terceira. Mas, para alguns, o vírus continua apresentando riscos significativos à saúde . As pessoas que são reinfectadas pelo vírus são muito mais propensas a sofrer uma série de problemas médicos nos meses subsequentes, incluindo ataques cardíacos, derrames, problemas respiratórios, problemas de saúde mental e distúrbios auto imunes. Em comparação com aqueles que não foram reinfectados, eles têm duas vezes mais chances de morrer.

As pessoas ainda devem fazer o possível para evitar contrair e transmitir o vírus.. Enquanto isso, há mais que os gestores de políticas devem fazer: manter programas de teste e tratamento, financiar vacinas de última geração, investir em departamentos de saúde pública, melhorar os sistemas de ventilação.

Mas a maioria não está vivendo “com o vírus” . Está ignorando a sua existência.

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