Uma célula cancerosa é apenas uma célula – uma das mais de
30 trilhões que compõem o corpo humano. Ao estudar a ciência das células
individuais talvez existam respostas não apenas para o câncer, mas também para
outras doenças, bem como para o segredo maior da própria biologia.
A vida em nosso planeta de 4,5 bilhões de anos surgiu há
cerca de 3,7 bilhões de anos, e pelos próximos dois bilhões de anos, pelo
menos, ela se deu perfeitamente bem como nada mais do que organismos
unicelulares. Foi apenas em algum momento entre 600 milhões e 1,5 bilhão de
anos atrás que essa vida microscópica se juntou e deu origem a algas, plantas,
árvores, peixes, dinossauros,baleias, macacos e humanos. O poeta Walt Whitman
pode ter cunhado a frase “eu contenho multidões”, mas a evolução realmente
realizou esse ato de contenção muito antes que as 30 trilhões de células que
compunham o próprio poeta pudessem se unir.
A ideia de sermos acumulações – unidades cooperativas [de
células] – é uma ideia tremendamente poderosa.Uma canção não é apenas um
conjunto de notas; produz algo que está além desse conjunto. Uma frase ou um
romance não é um conjunto de palavras. É algo que está além das palavras.
Hoje podemos estudar as células individualmente como as
plaquetas; as células T do sistema imunológico, o neurônio, as células-tronco e
inevitavelmente as células cancerígenas. Todas as células têm a sua função,são
autônomas, recebem e integram sinais. Mas é na função coletiva — a cooperação
entre os trilhões de células independentes para formar um único humano — que encontram seu significado e sua magia.
Os seres humanos podem não ser a única espécie multicelular do planeta, mas
somos a apoteose da multicelularidade – o melhor e o mais brilhante que a
natureza produziu nas longas épocas em que o conjunto químico de nosso planeta
vem misturando seus ingredientes.
As primeiras células , as bactérias, são altamente eficazes.
Elas são muito boas em sobreviver. Então, restaria uma pergunta : se são tão
bem-sucedidas, então por que não somos todos bactérias? Não somos porque em
algum momento a evolução chegou à conclusão inconsciente de que, de fato,
aglomerações de organismos eram muito eficazes. Em alguns ambientes
selecionados ajuda não ser uma bactéria. Organismos multicelulares podem
coletar comida, podem coletar informações, podem contemplar. Organismos
multicelulares também são extraordinariamente bem-sucedidos.
Bactérias não podem fazer um trabalho assim. Mas canções de
células – no caso de humanos, sinfonias inteiras de células – podem. Somos uma
espécie profundamente imperfeita, mas também uma espécie profundamente boa. É nas células individuais que começa a capacidade
de desenvolver esse comportamento altruísta. É nas multidões de células que se
faz uma pessoa — e nas multidões de pessoas que fazem um mundo.
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