quinta-feira, 6 de outubro de 2022

Domenico de Masi sobre a pandemia no Brasil

 

Durante a pandemia foi possível constatar uma redução da inteligência coletiva do Brasil. O país foi governado através de um comportamento idiota .Como se fazem nas ditaduras.

Quando o país é comandado por pessoas tão tacanhas, a tendência é o rebaixamento geral do nível cognitivo da sua população. Fomos obrigados a retomar debates passados, alguns situados na Idade Média, ou no século 19, como se fossem novidades : o terraplanismo, a resistência à vacinação, medidas básicas de segurança sanitária, pautas morais entendidas como questões de Estado, além do descaso com o meio ambiente.

Quando entramos nesse tipo de debate entre nós, ou com as “autoridades”, é como se voltássemos da pós-graduação às primeiras letras do curso elementar. Somos forçados a recapitular consensos estabelecidos há décadas, como se nada tivéssemos aprendido.

É como forçar cientistas a provar de novo a esfericidade da Terra ou a demonstrar a eficácia da vacinação.É muita regressão e ela nos atinge. De repente, nos surpreendemos discutindo o óbvio, gastando tempo com temas batidos e desperdiçando energia arrombando portas abertas séculos atrás na história da humanidade. Além da luta política para tornarmos o país mehor, existe uma luta particular e que depende de cada um de nós: a luta para não emburrecer : manter a lucidez e a inteligência através da leitura de bons autores e da escrita,manter viva a sensibilidade pela conversa com pessoas normais e pela boa música, contrabalançar a barbárie proposta pela vida diária e pelas redes sociais.

Provavelmente, o que leva a esse rebaixamento é o ódio e o ressentimento por levar as pessoas a se sentirem, no fundo, perdedoras, e ter de encontrar bodes expiatórios para culpá-los. No  modus operandi da ignorância atravessamos a pior crise da nossa história. O país não só perdeu quase 700 mil vidas.Vimos a estupidez ser comemorada , o humanismo ser nivelado à superficialidade , a retórica eleitoreira ser fundamentada numa pretensa proteção econômica.

O legado desta pandemia é um pais analfabeto.  


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