quarta-feira, 24 de junho de 2020

A pandemia avança



Pelo mundo a pandemia continua a avançar. Enquanto que em alguns países como Australia e Nova Zelândia demonstram experiências de sucesso, em muitas partes do planeta o número de casos atinge indices alarmantes.

Há 3 dias a OMS reportou 183.000 novos casos - o maior indice já registrado em um só dia. Novas infecções estão crescendo de modo exponencial : enquanto demoramos para registrar o primeiro milhão de casos em 3 meses,o próximo milhão foi atingido em apenas 8 dias. Hoje , ultrapassamos 9 milhões.

O mundo está perigosamente dividido. A pandemia está politizada forçando uma divisão irracional da escolha entre a vida e o sustento.Presidentes com perfis parecidos , o do Brasil e o americano , inundam seus países com declarações infundadas e inoportunas mostrando uma absoluta falta de preparo e competência na gestão da crise.Os números atestam seus (des)governos : os dois países lideram no número de óbitos e de casos.

No momento a Indonésia observa um alarmante aumento no numero de novos casos : mais de 1000 por dia (com baixo índice de testagem)

Enquanto isso, a India vem subindo de posição e os dados provavelmente refletem uma sub notificação : 440.000 casos e 14.000 óbitos.  Mais preocupante é o fato de países que tiveram controle da primeira onda estão observando uma recrudescência dos casos : a Coréia do Sul e a China por exemplo.

Na América do Sul , Chile e Peru disparam para , proporcionalmente , se aproximarem do Brasil.



segunda-feira, 22 de junho de 2020

Quem tem o melhor sistema de saúde no mundo ? : as lições do COVID 19



A pandemia pelo SARS Cov2 é um teste complexo para a saúde mundial.

Os Estados Unidos é uma nação que está no ranking dos mais altos nos ganhos per capita, números de leitos de UTI por pessoa e dispende boa parte de seu PIB em cuidados com a saúde.Mas está evoluindo muito mal em relação ao COVID 19 : detém 4,2% da população mundial e 27% dos casos de mortes pelo coronavírus globalmente.

Os dados de novos casos e óbitos demonstram como os diferentes países realmente cuidam de sua saúde.

Essa questão pode ser analisada no livro recém lançado Which Country Has the World’s Best Health Care?, escrito antes da pandemia por by Ezekiel Emanuel.Seu profético estudo marca os USA entre os piores e também a China , a despeito de seus resultados aparentemente melhores no controle da infecção . Emanuel escreve sobre a maneira que ranqueou os países contando com as diversas peculiaridades de um estudo com esta proposta.

Ele avaliou 11 sistemas de saúde entre 4 continentes: Estados Unidos , Alemanha, França , Suiça , Noruega , Holanda , Reino Unido, Australia, Canada, Taiwan e China. Cada país foi submetido a uma analise de tópicos que incluíam : cobertura de seguros ou planos de saúde, financiamentos, pagamentos, resultados, preços de insumos farmacêuticos e força de trabalho. Este ultimo tópico cobriu os salários dos profissionais , idade , número de médicos e proporção de profissionais estrangeiros etc. O estudo também abordou áreas específicas como a saúde mental , escolhas do paciente , acesso a especialistas e abordagem de doenças crônicas.

Usando esta metodologia, Os Estados Unidos ficaram acima apenas da China, a pior performance. Nenhum sistema foi agraciado como um total vencedor. Quatro foram considerados fortes competidores : Alemanha , Holanda , Noruega e Taiwan. Apresentaram as melhores performances por sua universal cobertura, benefícios e escolha dos médicos e hospitais. 

O sistema de Taiwan é similar ao Reino Unido com o pagamento público; Noruega utiliza um modelo simples com seguro privado limitado; e Alemanha e Holanda tem cobertura universal com seguro privado básico obrigatório.

Uma coincidência que os 4 estejam entre os de maior sucesso no manejo do COVID-19 ?

sábado, 20 de junho de 2020

Comportamento em tempos de Covid 19




A chave do sucesso na resposta global ao COVID-19 permanece uma incógnita enquanto as consequências são dramáticas. Em muitos países os esforços para combater a doença resultaram em recessão econômica com milhares de perdas de empregos. Além dos milhões de infectados pelo SARS-CoV-2, centenas de milhares morreram e irão morrer pelo COVID-19. Uma onda sem precedentes de problemas mentais e de comportamento está sendo já documentada — composta por fatores estressantes e incertezas — que implicará por danos atemporais na saúde mundial.

O COVID-19 tem desencadeado uma ampla variedade de comportamentos sociais entre aqueles que estão isolados , dos que estão na linha de frente no combate á doença , dos que desafiam as medidas de controle. Diferentes graus de empatia são expressas ás vitimas. De alguma forma a pandemia aproximou diferentes culturas e credos levando a uma compreensão que nossa saúde é interligada e todos podemos estar expostos ao risco de se contaminar.

As doenças infecciosas sempre foram um exemplo paradigmático de patologias que mostram as conexões de nossa saúde. As vacinas asseguram que nossos filhos sejam protegidos e também protejamos a sociedade. Esta medida , durante a pandemia , é replicada pelo mundo todo entre aqueles que entendem a importância do distanciamento social. Nossa empatia , nossa capacidade para entender o modo como podemos ser afetados é uma poderosa ferramenta para os beneficios na saúde mental.

Mas não é dificil de perceber que nossa empatia é com frequência uma valorização do nosso risco pessoal. Podemos nos sentir afetados por aqueles que estão sofrendo. Mas este sofrimento é o nosso ?
O vírus não é discriminatório?
 As evidências mostram que o vírus exacerba as desigualdades,espelhando os problemas de saúde que são universais. Aqueles com melhores recursos e poder, geralmente de maioria racial ou étnica, têm condições de fazer um real distanciamento fisico, trabalhar de casa e manter seus empregos. Este mesmo grupo terá menor risco de adoecer ou morrer pelo COVID-19, provavelmente por uma série de fatores incluindo uma melhor assistência à saúde. Os mais vulneráveis —pobres , com baixa renda , menor educação , desnutridos etc serão as maiores vitimas.


E aqui é onde a empatia falha. Quem está numa situação mais privilegiada entende os riscos e consequências de uma forma diferente. Se pudéssemos estar dispostos a realmente entender nossa contribuição social , nos protegendo e ao mesmo tempo protegendo ao outro mudaríamos dramaticamente a história da pandemia.

Certamente este momento chama por uma cuidadosa reflexão e uma proposta de reinvestimento na compaixão quando o assunto é saúde. É buscar um ponto tangível onde a saúde para todos possa ser possível. O COVID-19 tem nos mostrado que uma pessoa saudável e um mundo saudável é a mesma coisa.

quinta-feira, 18 de junho de 2020

duração da imunidade no COVID 19 : pacientes assintomáticos


Uma questão recorrente na pandemia pelo SARS Cov2 é : quem foi infectado desenvolverá imunidade e por quanto tempo ela persistiria ?
Não muito tempo...sugere um novo estudo publicado no dia 18 de junho de 2020 na revista Nature Medicine. Anticorpos — proteínas protetoras geradas de uma resposta à infecção —podem durar somente 2 a 3 meses, especialmente em pessoas que não desenvolvem sintomas.
A conclusão não necessariamente significa que pessoas infectadas possam ser novamente sujeitas a uma nova infecção. Mesmo baixos níveis de anticorpos neutralizantes podem ser protetores.
Esses resultados lançam um alerta sobre a questão do "passaporte de imunidade" , uma espécie de certificado de segurança para pessoas que já se recuperaram da doença.
Anticorpos contra outros coronavírus, SARS e MERS, provaram persistir por , no mínimo , um ano.O novo estudo é o primeiro a caracterizar a resposta imune em pacientes assintomáticos.
Foram comparados 37 pacientes assintomáticos a um igual número de sintomáticos em Wanzhou na China. Os investigadores observaram que pessoas sem sintomas tiveram uma mais fraca produção de defesa contra o vírus. Os níveis de anticorpos caíram a valores indetectáveis em 40 % dos assintomáticos, comparado com 13 % nos sintomáticos.
O estudo envolveu uma amostra pequena de avaliações e os pesquisadores também não levaram em conta a proteção oferecida por células imunes que também combatem o vírus (outros estudos têm mostrado que o coronavírus estimula uma forte e protetora resposta imune celular)
Além das células T, capazes de destruírem o vírus, pessoas infectadas também produzem as chamadas células B de memória, que podem estimular a rápida produção de anticorpos quando necessário (por exemplo numa reinfecção).
No estudo, anticorpos contra uma proteína viral caiu abaixo dos níveis de detecção mas  um segundo tipo de anticorpos - contra a proteína S do vírus , necessários para a sua neutralização e prevenir a reinfecção ,estava presente.
Um outro estudo , publicado na Nature, sugere que mesmo níveis baixos de anticorpos possam ser suficientes para proteger contra uma nova exposição.
Entre 20 a 50 % de infectados podem nuncar apresentar sintomas. Cerca de um terço dos assintomáticos podem apresentar alterações na tomografia de tórax chamadas de "padrâo vidro fosco" , muito comum para o Covid-19. O estudo também mostrou que estes eliminam o vírus e por mais tempo dos que têm sintomas.Isto é desafiador porque na verdade sugere que pacientes sem sintomas transmitiriam por mais tempo.

quarta-feira, 17 de junho de 2020

mortal



Uma das questões mais cruciais sobre uma nova doença infecciosa é o quanto ela é mortal.
Os pesquisadores têm usado uma métrica chamada de (IFR) , indice de fatalidade da infecção , para calcular a mortalidade causada pelo SARS Cov 2.É a proporção de pessoas infectadas que vão morrer pelo vírus, incluindo aquelas que não forem testadas ou mostrarem sintomas.
O IFR é um dos mais importantes números numa epidemia e que nos mostra o quâo séria ela pode ser. Calcular de modo adequado é um desafio no meio da pandemia pois necessita-se do pleno conhecimento do numero de pessoas infectadas — não apenas daquelas que foram testadas. No caso do COVID 19 existem muitas pessoas com sintomas leves ou assintomáticas que não serão detectadas e também porque o intervalo de tempo entre contrair a infecção e ir a óbito pode ser de até 2 meses. Muitos países têm dificuldades de refletirem seus números com precisão.
Dados do inicio da pandemia superestimaram a mortalidade e depois a confusão de informações provavelmente a subestimaram. No momento , vários estudos estimam que em muitos países  de 5 a 10 em cada 1.000 pessoas podem vir a óbito pelo COVID-19..
O real conhecimento de quanto mortal é o vírus requer que conheçamos como ele pode ter uma taxa de mortalidade entre diferentes categorias de pacientes : o risco relacionado a idade , etnia , status sócio econômico, acesso `a saúde e condições mórbidas.
IFR é também especifico para uma população e pode variar com o tempo e a evolução do tratamento. Ter a avaliação correta é importante pois isso norteia as condutas de um país.
As primeiras métricas sobre o vírus foram do total de casos no inicio da pandemia na China. A OMS no final de Fevereiro estimava que 38 pessoas morriam para cada 1000 casos confirmados. O indice de morte atingiu níveis tão altos quanto o de 58 por 1000 em Wuhan. Mas foi uma cálculo impreciso pois não se levou em consideração o total de pessoas infectadas.

Os pesquisadores tentaram avaliar a diferença estimando o IFR importado de modelos que projetavam a disseminação do vírus. O resultado então caiu para 9 por 1000. Esta correção estimou o IFR da China para 7 óbitos por 1000 pessoas (aumentando em 33% para pacientes acima de 60 anos).
Dados também foram analisados da famosa epidemia que ocorreu no navio Diamond Princess . Quase todos as 3.711 pessoas a bordo foram testadas.O IFR foi de 0.6%.

domingo, 14 de junho de 2020

uma esperança para os casos graves do COVID 19



Uma pessoa infectada pelo SARS Cov2 pode desenvolver uma doença de alta mortalidade.
E quando isso acontece é o pulmão o orgão alvo. A razão: o vírus penetra nas células pulmonares através de um receptor chamado ACE2, uma enzima que é comumente encontrada na superfície dos alvéolos dando inicio a uma intensa reação inflamatória.
O ACE2 não é só uma porta de entrada, a ciência entende que é um caminho para tratar a forma grave da inflamação pulmonar. A empresa de biotecnologia Constant Therapeutics de Boston , espera ter descoberto a droga que pode ajudar a reverter o processo.
O ACE2 atua num sistema chamado renina-angiotensina que regula a pressão sanguínea.Quando a angiotensina II, um peptídeo que contrai os vasos sanguíneos , está alto ,o ACE2 o converte em angiotensina , relaxando a contração e reduzindo a inflamação.
Além de seus efeitos na inflamação, a angiotensina tem mostrado uma excelente proteção contra a formação de coágulos, oxidação e morte prematura de células. A droga TXA127 desenvolvida pela empresa é uma versão sintética da angiotensina.
O TXA127 pode ser um tratamento para o hospedeiro , não para o vírus, ganhando tempo para o paciente se recuperar da chamada tempestade inflamatória. O primeiro ensaio com a medicação será realizado neste mês pela Columbia University, avaliando 100 pacientes  que farão uso de uma dose diária da droga comparada com placebo.
Enquanto o TXA127 pode fazer efeito no tratamento do Covid-19 , provar seus benefícios é um processo árduo. Como a maioria dos pacientes tem quadros leves , o estudo pode demorar para arrolar doentes graves o suficiente para comprovar sua eficácia . É possível que doentes que necessitem de oxigênio mas não tenham critérios de admissão em UTI possam também obterem vantagem com uma abordagem mais preventiva.

sábado, 13 de junho de 2020

O sucesso da Nova Zelândia no combate ao coronavírus





A Nova Zelândia registrou seu primeiro caso de COVID-19 em um cidadão que havia retornado de viagem internacional. O paciente permaneceu isolado em um hospital e seus contatos foram também identificados e da mesma forma isolados.Outros casos adicionais também foram sendo identificados no inicio de Março,todos oriundos de outros países.Em 21 de Março, as autoridades em saúde anunciaram os dois primeiros casos detectados de infecção comunitária,ou seja contraída dentro do próprio país. 

No total,a Nova Zelândia reportou 1.504 casos confirmados com 22 óbitos. A maioria destes foram relacionados à viagens (69%) ou contatos com viajantes.O restante foram casos de infecção local.O país registrou seu pico de incidência em 12 de Abril e depois o numero de casos foi caindo drasticamente sendo o ultimo reportado em 2 de Maio.

O país implementou precocemente medidas de distanciamento social. Em 21 de Março haviam 88 casos confirmados ou prováveis. Naquele momento o governo anunciou o estabelecimento de um nível de alerta de alto risco de transmissão ( de 4 níveis - risco 2) que imediatamente limitava o aglomeramento de até 100 pessoas e reforçando o distanciamento social em todos os negócios. Dois dias mais tarde, foi emitido o alerta de nível 3 que instruía as pessoas a ficarem em casa com exceção para as atividades essenciais.O limite para presenciamento fisico era para até 10 pessoas.O comércio foi fechado.Em 25 de Março a Nova Zelândia entrou em nível 4 com 384 casos : restrições como limitação de viagens locais , fechamento de escolas e fechamento de toda atividade essencial foram implantadas.

Na medida em que o controle foi se estabelecendo o país progressivamente foi descendendo dos níveis de alerta. As escolas puderam ser abertas parcialmente em 28 de Abril e depois totalmente em 18 de maio. Em 08 de Junho o nível 1 de alerta foi atingido o que terminou com a maioria das restrições domésticas mantendo as recomendações de higiene e distanciamento social.

Além dos controle locais,restrições internacionais também foram implementadas. No inicio de Fevereiro foi proibida a entrada de não residentes no país e de cidadãos que tivessem viajado para a China. Em 14 de Março a primeira ministra Jacinda Ardern anunciou que todos os viajantes internacionais seriam submetidos a duas semanas de quarentena com suspensão do turismo e vistos de entrada no país. Algumas destas proibições ainda vigoram.

Uma das chaves do sucesso foi a extensiva testagem para o SARS-CoV-2.No inicio de Abril muitos dos insumos para os testes eram produzidos fora do país. O Ministro da Saúde liderou um grupo de trabalho a fim de suprir a demanda. Mais de 300 mil testes foram realizados o que representa um dos maiores testes per capita do mundo. Com o curso da epidemia em andamento , a positividade diária dos testes — uma importante métrica para um país conhecer o tamanho de seu problema — atingiu menos de 1% que foi uma das menores marcas já atingidas por um país.
Uma importante operação de rastreamento de contactantes de casos positivos foi também estabelecida. O Ministério da Saúde chamou essa operação de National Close Contact Service (NCCS), composta por 190 pessoas. Menos de duas semanas após sua criação esse orgão tinha encontrado 5.000 casos.Essas pessoas eram orientadas a se manterem em quarentena. também foi disponibilizado um aplicativo chamado de NZ COVID Tracer que permitia ás pessoas escanear atravé de QR code um determinado local que visitasse a fim de facilitar o conhecimento de seu deslocamento.Os dados ficavam armazenados por até 30 dias e depois eram automaticamente deletados

Em contraste com outros países,as autoridades em saúde na Nova Zelândia não exigiam o uso de máscaras.Essa decisão foi orientada por estudos conduzidos dentro e fora do país e que não foram convincentes no sentido de tornar a máscara um item obrigatório

Aconteceram impactos econômicos para o país.Turismo e educação de estrangeiros são importantes contribuidores da economia e foram totalmente afetados. O país anunciou em Março um pacote assistencial para reduzir o dano na econômico. Cerca de NZ$12.1 bilhões , o equivalente a 4% do PIB foram injetados no país.

O COVID 19 é reflexo de como uma nação se comporta em termos de seriedade.
Países que lideram o numero de casos e óbitos e que devem sofrer as consequências de seus líderes desastrados são bem fáceis de se identificar

A incrível história do Vietnã contra o coronavírus



O Vietnam registrou nenhuma morte pelo SARS COV 2 a despeito de uma população de 96 milhões de pessoas e seu governo comunista espera um crescimento da economia em 5 % este ano diante de uma recessão global.
O país faz fronteira com a China com quem mantém estreita relação econômica e registrou seu primeiro caso em 23 de janeiro de 2020. Rapidamente instituiu um rigido regime de quarentena na capital Hanoi e estabeleceu um impressionante esquema de rastreamento de contactantes de pacientes diagnosticados mesmo com escassez de exames laboratoriais. O governo distribuia informações sobre a epidemia via mensagem de texto e cobrou de sua população o dever patriótico de se auto-isolar e lavar as mãos.
O Vietnam é um estado de vigilância onde os cidadãos são monitorados.As estruturas que controlam epidemias são as mesmas que controlam as ações públicas. Centenas de pessoas foram multadas por causarem pânico desnecessário ou discordarem das causas nacionais através de redes sociais.
Assim como a China, o Vietnam vem desde os anos 80 vem equilibrando repressão politica com liberdade econômica.Isso levou aos indices quase zerados de extrema pobreza que antes eram de 50%.Na última década o país foi a segunda mais rápida economia a crescer no mundo (atrás da China).
Sua economia está se beneficiando de duas maneiras: foi a primeira a reabrir com poucas restrições e já está se envolvendo com uma enorme gama de investimentos de companhias como Apple. O próximo passo é retomar o turismo que contribui para 9% da arrecadação nacional e isso deve ocorrer em breve , quando o governo retomar os vôos internacionais. Mas isso só será possível quando os países de origem não tiverem casos novos registrados há mais de 30 dias

Histórias de sucesso contra a pandemia não são exclusivas de países autoritários mas também de democracias como a Australia, Alemanha e Nova Zelãndia. Os exemplos estão alinhados com a responsabilidade civil e de governantes sérios e não caricatos como os dos Estados Unidos e Brasil.

As lições do Diamond Princess e coronavírus



A ocorrência de casos de infecção pelo SARS COV 2 no navio de cruzeiro Diamond Princess foi uma lição sobre o comportamento da infecção. O navio tinha 3711 pessoas (tripulantes e passageiros) e ocorreram 712 casos da doença. Destes, 410 (58%) eram pessoas assintomáticas no momento do teste diagnóstico.
A revista New England estudou 96 pacientes infectados que eram assintomáticos junto com 32 acompanhantes que testaram negativo.Todos esses casos foram transferido do porto da cidade japonsesa de Yokohama para o hospital entre o dia 19 e 26 de Fevereiro para observação. Sinais clínicos e sintomas de Covid-19 subsequentemente apareceram em 11 dos que testaram positivo (96 pessoas) numa média de 4 dias após o teste.Isso significou que esses pacientes eram pré sintomáticos.Os pesquisadores determinaram que o risco de ser pré sintomático aumentou com a faixa etária. 8 dos 32 acompanhantes que eram negativos testaram positivo dentro de 72 horas após a chegada ao hospital e permaneceram assintomáticos. No total dados de 90 pessoas com SARS-CoV-2 assintomáticos, ou seja aqueles que nunca desenvolveram sintomas, foram avaliados.
O grupo de assintomáticos consistiu de 58 passageiros e 32 membros da tripulação, a média de idade foi de 59.5 anos. Um total de 24 destes (27%) tinham condições médicas coexistentes : hipertensão (20%) e diabetes (9%).
Outros relatos destacam a questão de pacientes assintomáticos e sua importância na transmissão do vírus : situação semelhante ocorreu em um navio menor em rota pela península antartica . Os passageiros e a tripulação foram isolados desde sua partida de Ushuaia na Argentina em meados de Março até uma parada não programada 13 dias depois em Montevidéu. Antes de embarcarem , 95 tripulantes e 128 passageiros foram avaliados com analise de sintomas ou aumento de temperatura para possível infecção por SARS Cov 2. No dia 20 da viagem ,128 (59%) das 217 pessoas ainda a bordo testaram positivo. 81% estavam assintomáticos.

quinta-feira, 11 de junho de 2020

Transmissão do coronavírus por pessoas assintomáticas


Essa semana, Maria Van Kerkhove, da OMS,declarou de forma polêmica que "parece ser muito raro que pessoas sem sintomas transmitam o coronavírus".Um dia após a OMS clarificou seu depoimento contrariando o fato. As respostas sobre essa possibilidade estão ficando cada vez mais evidentes assim como já sabemos que antes mesmo de uma pessoa apresentar sintomas (fase pré sintomática) o vírus já está sendo eliminado de modo consistente.
O Covid-19 tem uma natureza dualitica - às vezes silencioso e algumas vezes mortal - uma rara condição entre os microorganismos que nos afligem.
Desde Abril, estudos vem monitorando e rastreando casos de transmissão em determinadas comunidades mostrando uma prevalência que fica em torno de 43 % de pessoas infectadas mas que não desenvolvem sintomas.Recentemente a revista Annals of Internal Medicine publicou uma revisão de 16 localidades distribuídas pelo mundo todo envolvendo pequenas cidades , instituições de saúde , prisões etc. confirmando o percentual.Por exemplo , entre 3,277 prisioneiros em 4 diferentes penitenciárias americanas que testaram positivo um numero altissimo de 96 % eram assintomáticos
Pesquisadores italianos fazendo um cuidadoso seguimento de rastreamento demonstraram que pessoas sem sintomas podem infectar outras.Esta tambem foi a conclusão dos estudos feitos no navio da marinha americana USS Theodore Roosevelt onde o período de trnsmissão provavelmente ocorreu por 14 dias ou mais.O que não sabemos é a frequência e a força com que alguem com o vírus transmitiria ao outros estando assintomático.
O potencial para infectar não é o unico risco de estar sem sintomas. Estudos da Coréia do Sul e do Japão,mostraram que pessoas assintomáticas podem ter alterações pulmonares reveladas pela tomografia de tórax ! . Não está claro se estas anormalidades pulmonares podem levar a complicações de saúde a longo prazo.
O que devemos considerar diante destes fatos? Em nivel individual, preconizar o uso de máscaras sempre que sair de casa.Comportar-se como se estivesse infectado - uma norma de relacionamento social obrigatória hoje em dia. Em nível coletivo, o conhecimento que a infecção assintomática significa disseminação viral importante, aumentar a testagem e rastreamento. Concentrar os testes apenas em quem tem sintomas se prova um erro de saúde publica.
A ciência sempre tenta tornar o invisível em visivel — olhar para coisas habituais de forma não habitual.
O novo conhecimento sobre os assintomáticos significa repensar as táticas de controle.

Ainda sobre imunidade ao coronavírus



A questão essencial depois de 6 meses de pandemia ainda está para ser respondida : produzir anticorpos contra o coronavírus significa estar protegido de uma nova infecção ?
Sabemos que uma infecção inicial vai levar a um determinado grau de imunidade por algum período de tempo. Mas não sabemos quais tipos de anticorpos,células e outros marcadores realmente significam proteção. Deteminar esse nível de proteção é crucial para o entendimento de risco de adoecimento e também para o conhecimento do potencial benefícios das vacinas em termos de eficácia e tempo de atuação na defesa imunológica.
O conhecimento da correlação de proteção é diferente do conhecimento do mecanismo de proteção.A imunidade é resultado de uma interação de diferentes proteínas e células variando bastante de acordo com cada patógeno.
A ciência não precisa , necessariamente , de um pleno entendimento nesse sentido para progredir na produção de vacinas.Atualmente mais de 100 vacinas vêm sendo estudadas.Uma forma de avançar nesse sentido é,por exemplo, estudando a maneira como os outros coronavírus atuam na resposta imunológica.
Os experts afirmam que a chave é testar vacinas em larga escala e não somente aprová-las baseado em correlação de proteção , num primeiro momento. Apenas estudos clínicos demonstram se uma vacina diminui o risco de infecção.
Para estudar as correlações de proteção, a ciência está avaliando pessoas recuperadas do  Covid-19 para mapear as defesas geradas pelo sistema imune. Nas útrimas semanas foram descritos diversos tipos de anticorpos produzidos com efeitos contra proteínas - chave do vírus , em quase todos os pacientes que tiveram a doença de forma leve ou grave. Isso é um sinal positivo e um tipo de anticorpo , chamado neutralizante, em quantidades suficientes é relacionado à proteção por , no minimo , um período de tempo.
Para confirmar que uma pessoa que se recuperou da infecção está protegida e por quanto tempo será necessário acompanhá-la e ver o que acontece se ela for exposta ao vírus novamente.Essa pesquisa pode ser focada em profissionais de saúde que possuem maior risco.Em animais isso também é possível de ser feito.Experiências com macacos rhesus estão em andamento : animais que geraram anticorpos neutralizante pela infecção ou pela vacina e o fizeram com produção alta de anticorpos mostraram maior proteção quando inoculados com o vírus em laboratórios. Essa é a maior evidência que altos títulos de anticorpos neutralizantes seriam de fato protetores.

sábado, 6 de junho de 2020

Pandemia : direitos e deveres


Muito da retórica moral na nossa resposta ao coronavírus é motivada pela polarização entre interesses individuais e coletivos,ou seja , deveríamos ser liberais em tempos comuns e comunitários em tempos extraordinários : um novo balanço entre os direitos e deveres de cada um .
As intervenções restritivas têm sido a arma mais efetiva no combate à pandemia : é possível ver essa situação não como um sacrificio dos direitos individuais mas de interesse da comunidade acima de tudo.

Na democracia a declaração de estado de emergência torna isso bem claro : ações são tomadas visando o bem estar geral.Isso está implicito nas constituições e são aplicadas pelos governos eleitos pela maioria.
Ameaças coletivas são as melhores razões para a vigilância na proteção dos direitos individuais.

Os indivíduos devem ter sua proteção garantida.Alguns dos interesses são relacionados à autonomia(por exemplo a liberdade de movimento);outros não são (direito a um tratamento igualitário).Na sociedade certos interesses fundamentais de cada um podem conflitar com o outro.Direitos , então, não são a palavra final no conflito de interesses.Eles são a guia para a nossa atenção direcionada ao bem comum.

Não deveríamos reservar solidariedade apenas nas crises,nem priorizar direitos básicos individuais em tempos de normalidades.Pelo contrário, a todo momento temos que considerar que nossas prioridades devem visar um amplo fundamento nos interesses de todos os membros de uma sociedade. Este é o único modo para respeitarmos a liberdade individual e a solidariedade entre as pessoas em qualquer momento

sexta-feira, 5 de junho de 2020

testes diagnósticos para o Coronavírus

Os testes diagnósticos são essenciais na epidemiologia e no controle de pandemia como a do COVID-19. Entre outras medidas , a testagem norteia ações de contenção e até da erradicação da infecção Dúvidas nos resultados, escassez de exames,recursos limitados contribuml para a disseminação do vírus.Esses desafios são mais acentuados em países pobres ou com despreparo no enfrentamento.

Tipos de testes

Os testes para diagnóstico do SARS COV 2 podem ser realizados com finalidade de diagnóstico de infecção ativa ou pesquisa de anticorpos que refletem exposição pregressa ou atual

No teste PCR,a pesquisa é pelo RNA viral obtido de swabs das vias aéreas superiores ou inferiores.A técnica é uma amplificação através da reação da cadeia de polimerase
Os testes sorológicos se baseiam na mensuração da resposta imunológica através da detecção de proteínas específicas chamadas de IgG , IgM e IgA. A maioria dos testes IgG/IgM usam proteínas virais recombinantes ou peptídeos já preparados como reagentes.Esses testes precisam distinguir com precisão infecção pregressa pelo SARS-CoV-2 e não de outros coronavírus.Cada teste usa técnicas diferentes para determinar a presença de anticorpos.

A precisão de um teste é definida comumente pela sua sensibilidade (teste positivo em um paciente com a infecção), especificidade (teste negativo em um paciente saudável),valor preditivo negativo (chance de uma pessoa com um teste negativo estar realmente sem a doença) e valor preditivo positivo (chance de uma pessoa com um teste positivo estar realmente com a doença).
Na prática clínica a sensibilidade de um teste varia de acordo com a duração da doença,a sintomatologia do COVID-19,o local de coleta , a carga viral , o estado imunológico do paciente etc. Falsos negativos têm sido notados em até 30% dos pacientes.

A acurácia dos testes sorológicos melhora muito quando as amostras são coletadas 20 dias após os primeiros sintomas.Antes disso a sensibilidade e a especificidade vão depender da resposta imune.
Testes mal interpretados podem levar a dois problemas maiores : uma falsa convicção de já ter sido infectado ou a suposta não exposição. Ambos os erros vão afetar os esforços de controle da infecção .


segunda-feira, 1 de junho de 2020

como andam as vacinas contra o coronavírus ?

Existem , na presenta data , 95 vacinas em desenvolvimento contra o SARS-CoV2 em diferentes estágios de desenvolvimento. A maioria delas estão na chamada fase 1 duas já na fase 2.
Uma efetiva vacina é a melhor forma de retornarmos à normalidade.

A necessidade na descoberta é urgente , mas as estimativas nos mostram que mesmo que as fases sejam atingidas de modo favorável,uma vacina efetiva não será amplamente disponibilizada em nível mundial por 12 a 18 meses. Boa parte desse tempo é relacionado à segurança dos ensaios.Primeiro eles saõ realizados em animais.Primatas não humanos raramente apresentam sintomas relacionados ao COVID 19 e doença critica não é observada em nenhum tipo de animal.

Na fase 1 e 2 a vacina é testada em pequenos grupos de indivíduos para se determinar se ela é segura e determinar o tipo de resposta imune.Na fase 3 ela é testada em um grande número de pessoas .Esta fase requer tempo para que o grupo controle (aquele que recebeu a vacina) apresente imunidade consistente e convincente.

A esperança de uma aceleração no processo pode resultar em resultados catastróficos.Em 1966, o estudo para uma vacina contra o Respiratory Syncytial Virus (RSV) demonstrou que a reação de anticorpos apresentada era muito transitória e levava a risco de infecção.

A resposta imune é de dois tipos : adaptativa ou inata. A ultima não é especifica a uma determinada infecção e é considerada uma primeira linha de defesa. Porém ela pode ser "treinada" para responder mais rapidamente a uma infecção. A imunidade adaptativa é promovida pelas vacinas e mediada pelos linfócitos. Os do tipo B produzem anticorpos,alguns dos quais neutralizam vírus. Esta resposta requer a participação das células  CD4 que otimizam a respostas das células B > Os linfócitos CD8são capazes de matar céluas infectadas por vírus. Estudos com o SARS-CoV (responsável pela SARS) demonstraram resposta clínica correlacionada ao número de células CD4.

O genoma do SARS-CoV2 tem 4 proteínas estruturais: a S (responsável pelo reconhecimento e entrada do vírus nas células através de um receptor ACE2); a glicoproteína M; a proteína N e a proteína do envelope E. Anticorpos contra a proteína S tem o potencial de prevenir a entrada do vírus nas células.A maioria das vacinas em desenvolvimento envolvem o foco da proteína S
.