segunda-feira, 1 de maio de 2017

A doença como ferramenta filosófica


As minúcias de cada dia vivido podem ter sua própria fascinação. Está é a base do excelente livro da filósofa Havi Carel Phenomenology of illness (fenomenologia da doença).
Ela inicia lamentando que a maioria dos filósofos negligeciem uma grande proporção daquilo que importa a nós : amor , a família , envelhecimento e doença.Com exceção dos estóicos e de Epicuro que discutiram nossa fragilidade e mortalidade , os filósofos posteriores pretenderam abordar o etéreo.
Ela discute o poderoso argumento do nosso dever de reconhecer as vozes e experiências dos pacientes que cuidamos.A também filósofa , Miranda Fricker , utiliza o termo injustica epistêmiológica para se referir a como os profissionais nem entendem nem valorizam à experiência vivida da doença.De como pensamos que estar doente necessariamente implicaria numa menor qualidade de vida.Essa mensagem é transmitida de modo inconsciente em nossa educação médica

No seu livro , Carel utilizou a palavra fenomenologia no sentido de abranger uma diversidade de abordagens.Há um capítulo bastante intenso explorando o debate de alunos de Heidegger para o que representaria o termo " estar morrendo " e o que o próprio Heidegger pensa sobre a morte.
O livro nos faz refletir sobre as fronteiras entre doença e incapacidade : Carel usa o termo arquitetura social da doença - uma interação com os outros que não entendem o que seria ter uma limitação física.
A filosofia pode nos ajudar a entender a doença e , de certa forma , a doença pode ser uma ferramenta filosófica motivando a reflexão.A doença nos retira das condutas regulares de cada dia.Os paciente têm a subjetividade do adoecer e podem nos transmitir seus feitos únicos.

Eles podem ter o passaporte para um lugar que só eles entendem e que nós deveríamos ter a obrigação de conhecer.

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