domingo, 18 de dezembro de 2022

a manipulação da atenção

 



Em 1830 , o jornal New York Sun resolveu apostar em uma maneira de alavancar suas vendas.Uma espécie de inversão da lógica econômica para a época.Em lugar de vender conteúdos de qualidade o The Sun passou a vender conteúdos de baixa qualidade a preços irrisórios.Captou muito mais a atenção dos leitores com matérias sobre  crimes , fofocas , violência. Em 1835 chegou a publicar uma matéria anunciando que um potente telescópio havia observado humanóides com asas habitando a Lua. A mentira nunca foi retratada e o jornal continuou vendendo.

As atuais plataformas digitais seguem a mesma lógica invertida porém sem precisar produzir conteúdo : apenas circulam conteúdos gerados pelos usuários.O foco dessas empresas se foca num mecanismo de captura da atenção desses mesmos usuários.Na economia da atenção a relação entre plataformas e usuários aliena o controle destes sobre a própria atenção produzindo paralelamente " o sujeito liberal autopossuído , dono (!!) dos próprios pensamentos e da própria vontade.

Como as plataformas se tornam donas da atenção dos usuários ?

O ritmo imposto pelas midias sociais ao cotidiano propicia os efeitos cognitivos pretendidos pontuando o dia-a dia com eventos que demandam sua atenção e reação - uma curtida , um compartilhamento , um comentário. O conteúdo não importa. Para os algoritimos é indiferente se a expressão for de amor ou ódio.

Existe um conceito de uma camada cognitiva dos processos primários conhecida como "cérebro reptiliano ". Aquela responsável pela produção de hábitos,afetos e memória encorporada. A arquitetura das midias desvirtua hábito em adicção , um estado mental de dependência com relação a estímulos externos,destruindo a autonoia do sujeito.A adicção em sua forma moderada é um das bases da sociedade de consumo de massa onde estar satisfeito com o que se tem é estar fora de sincronia.Essas dependências movem a "sociedade em rede" e sua lógica de captura.

Daí a sensação estranha de estarmos sempre em dívida-sempre um passo atrás de onde deveríamos estar. Outro efeito da temporalidade de crise permanente é a experiência de "imediaticidade" : o usuário passa a entender como verdadeiro aquilo que chega a seu smartphone em tempo real. Seu acesso ao mundo passa a depender da entrega ininterrupta de eventos pelas suas redes.

Num regime social baseado na competição entre redes emergentes, verdade passa a ser "o que quer que se venda".Para cada segmento de mercado , uma verdade.

O sujeito vem sendo vitimado por mudanças na sua constituição. Quando o hábito degenera em adicção,instala-se uma dinâmica involutiva. Isso significa que ele deve estar sempre se atualizando "apenas" para conseguir continuar no mesmo lugar. Se não posta,não chama a atenção para si,não gera engajamento,seu perfil "some". Nunca emerge sozinho,mas junto com outros grandes agregados.

Os algoritimos agregam perfis com comportamentos que eles entendem como similares, o conteúdo importa pouco. Como a cognição humana vem se tornando incapaz de acessar a realidade a não ser através de mediações (midias), o resultado pode ser a sua segmentação em mundos personalizados que se conectam parcialmente em realidades paralelas.

As midias enfraquecem as formas de subjetivação e produção de verdades baseadas no reconhecimento universal. As mídias intermediam novas identidades com base em reconhecimento bifurcado , distorcido

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