quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

a nova mutação do SARS Cov 2 : uma bomba relógio ?

 Uma nova variante do vírus se dissemina pelo planeta.Identificada pela primeira vez no Reino Unido , hoje mais de 50 países registram sua presença , incluindo o Brasil.

Vírus sempre mutam , quase sempre sem nenhum impacto relevante,mas esta variante é bem mais transmissível - o que significa que se espalha com maior facilidade.

Ainda temos muito a conhecer sobre o que vem ocorrendo e a maior dúvida é sobre a eficácia das atuais vacinas contra ela ou se pode haver doença mais grave.Felizmente , as anlaises preliminares mostram que estas duas possibilidades não devem acontecer.

 Mas....

Uma variante mais transmissivel é sempre uma potencial catástrofe.No momento em que nos encontramos na pandemia isso pode representar mais perigo do que uma cepa que causasse doença mais grave. Isso porque maior transmissibilidade nos sujeita a um vírus mais contagioso e o risco absoluto de mais doentes graves é uma consequência natural, um aumento linear

Para entender : devemos comparar um aumento de 50% na letalidade vs um aumento de 50% na transmissibilidade. Vamos partir de um indice de reprodução (R) de 1.1 e um risco de mortalidade de 0.8 %. Vamos partir de 10 mil casos ativos. Como estamos hoje (numeros atuais) esperaríamos 129 óbitos em 30 dias. Se o indice de mortalidade aumenta 50%, isso levaria a 193 óbitos. Por outro lado, se houver aumento de 50% na transmissão aconteceriam 978 óbitos em 30 dias.

O aumento da transmissibilidade pode rapidamente expandir a linha de base : cada nova pessoa infectada potencialmente infectaria mais pessoas. Aumento da gravidade afeta apenas a pessoa infectada. É uma mudança que afeta em muito uma sociedade ao adoecer mais pessoas e super lotar os hospitais.Em resumo : uma pequena porcentagem de um grande numero pode ser muito maior do que uma grande porcentagem de um pequeno numero.

Tem sido notado nesta nova variante um maior indice de segundo "ataque",ou seja ,o numero de pessoas infectadas subsequentemente infectam mais outras.

 Outro achado : esta nova cepa parece resultar em maior carga viral

Quanto mais transmissivel ?...não sabemos ainda mas algo entre 50 a 70% é o que se especula.

Esta mutação tem um grande numero de mudanças genéticas,especialmente na proteína Spike,facilitando sua entrada nas células

Esta ocorr~encia nos remete ao inicio da pandemia.Novamente temos que falar em acahtar a curva , impor medidas restritivas etc para termos capacidade de atender a maior demanda que virá nos próximos meses.Por sorte temos as vacinas para ajudar.Mas no ritmo em que a vacinação está ocorrendo será uma corrida desproporcional


o pior já passou ?

Com um cenário político e social caótico, um presidente negacionista e negligente e incertezas sobre a chegada de uma vacina para a covid-19, chegamos ao fim de 2020 sem saber se o pior da pandemia - e da crise econômica associada à ela - já passou no país.

Entre os países emergentes, nenhum gastou tanto com auxílios como o Brasil.. E com esse auxílio emergencial, que chegou a 67 milhões de brasileiros (um absurdo que estava invisivel), um terço da população, "a taxa de pobreza foi para o menor nível da historia documentada, depois de todos os índices terem piorado muito entre 2014 e 2019, os anos de grande recessão dos pobres." Com isso, 15 milhões de pessoas saíram da pobreza, comparado com 2019. A pirâmide de distribuição de renda nunca foi tão boa quanto em setembro de 2020. 

 Só que o auxílio caiu pela metade, a partir de setembro, e com isso a pobreza aumentou 17% em um único mês. Ou seja , uma parte das pessoas que tinham saído da pobreza já voltaram. 

Agora, diante do agravo da pandemia, os caixas do governo já estão vazios, deixando a situação fiscal do Brasil deteriorada, com uma dívida bruta de mais de 90%. E ainda não há nada ,como sempre , anunciado para substituir o auxílio emergencial, que se encerra em dezembro.

O Brasil de 2021 é uma verdadeira era das incertezas máximas. 

É muito provável que quanto mais as eleições de 2022 se aproximam, mais radical o presidente tende a ficar, nas suas paranóias e idiotices banais. O caso da vacina contra o coronavírus é emblemático. Ele fala em união num dia, e grita contra a vacina no outro. Com isso, tenta dar sustento aos dois grupos que são importantes para seu plano de reeleição: a grande massa do povo, e os setores radicalizados do bolsonarismo.

As tarefas para 2021 serão difíceis.Estamos lidando com um governo muito ruim, sem qualidade, sem capacidade de articulação, sem generosidade para com a sociedade. O Brasil está na UTI com seus ministérios da saúde , educação e meio ambiente.

O governo deixou de lado o governar, não governou e tentou compensar essa falta de governança com uma exacerbação do discurso ideológico.  

A dúvida da vacina

Para um ano de 2021 melhor que 2020, muito depende do sucesso da vacina no Brasil. Num ritmo de mais de 800 mortes por dia, o Brasil se aproxima, atualmente, de 200 mil óbitos por covid-19.

O Brasil tinha tudo para ser, provavelmente, o primeiro país da América Latina a vacinar sua população inteira, pois tem um dos melhores programas de imunização do mundo, e nós sabemos fazer vacina e sabemos fazer campanha de vacinação..A grande surpresa foi ver que o atual governo realmente conseguiu atrapalhar até o que a gente tinha de melhor, por falta de planejamento, por falta de gestão e por interesse político.

O Brasil começa 2021 com uma superestrutura para a vacinação, mas sem vacina.Não foram feitos acordos internacionais em números suficientes para garantir o número de doses necessárias para vacinar uma população tão grande como a nossa. 

Provavelmente não vamos conseguir vacinas toda a população em 2021.

Não houve motivação e compromisso politico, e não houve - até este momento - uma conscientização da gravidade da situação. Nem pelo governo federal e nem por grande parte da população.

O pior já passou ?

quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Vacinas : eficácia

 Quando falamos em eficácia de uma vacina o que estamos medindo? Qual o significado de 50% ou 90% de eficácia? Importante começar discutindo as fases de produção de uma vacina.

Primeiro, são feitos testes em animais. A vacina é aplicada e comparada com placebo, geralmente uma solução salina. Após cerca de um mês medimos se a vacina foi capaz de provocar uma resposta imune nos animais, uma produção de anticorpos e outras células protetoras. Então inocula-se nos animais o vírus estudados. Observamos para ver quantos ficam doentes.Esta fase só pode ser feito em animais. Por questões éticas, quase nunca é feito em humanos.

Se a vacina der um bom resultado nos animais, mostrando que foi capaz de protegê-los contra a doença, começam os testes em humanos. Daí temos 4 fases.

Na Fase 1, aplicamos a vacina num grupo pequeno de pessoas, apenas para ver se é segura: se ninguém tem efeitos adversos graves ou fica doente.

Na Fase 2, vacinamos um grupo de voluntários um pouco maior, e medimos, como nos animais, se a vacina consegue provocar uma resposta imune.

Se a vacina for bem nas Fases 1 e 2, ela pode seguir para a Fase 3. Este é o teste de eficácia.

É importante frisar que os resultados de Fase 2 – quando vemos se a vacina é capaz de ativar o sistema imune – não contam como prova de eficácia. Porque não basta despertar a resposta imune, é preciso ver se essa resposta dá mesmo conta da doença. E isso só fica claro na Fase 3.

Na fase 3, vamos dividir as pessoas em dois grupos, um que recebe a vacina, e outro, um placebo. Mas agora não podemos mais inocular o vírus, então teremos que esperar que as pessoas fiquem se exponham naturalmente, no decorrer de suas atividades normais. Se a vacina for boa, deverá haver muito mais casos da doença no grupo placebo e, idealmente, nenhum no grupo vacinado (essa situação ideal é extremamente rara).

Cada vez que um voluntário é infectado, contamos um “evento”. Sabemos que precisamos de um determinado número de eventos para atingir o poder estatístico adequado para fazer uma boa comparação entre os grupos, isto é, para afirmar com segurança que a diferença no número de eventos entre um grupo e outro é mesmo mérito da vacina, e não só um acaso.

Exemplo :

No teste de Fase 3 da Pfizer, por exemplo, 42 mil pessoas participaram do estudo, sendo metade com a vacina, e metade com placebo. O número de eventos necessário foi estabelecido em 164. Quando o teste chegou em 170 eventos – pessoas infectadas –, a empresa fez a comparação entre os grupos, e constatou que dos 170, apenas oito estavam no grupo vacinado, e 162, no grupo placebo.

Isso resultou em uma eficácia de 95%, simplesmente porque 154 (a diferença entre o total de doentes nos dois grupos, 162 num e oito no outro) são 95% de 162 (o total de doentes no grupo não-vacinado).

 A lógica é que, sem a vacina, poderíamos esperar que o número de eventos (pessoas doentes) nos dois grupos acabasse sendo igual, então a diferença entre os números é o indicador da eficácia. Portanto, a vacina impediu que 154 pessoas do grupo imunizado pegassem COVID-19. Ela evitou 95% dos casos que seriam esperados, caso o grupo não tivesse sido vacinado.

Isso significa que podemos esperar que a vacina proteja 95 pessoas de cada cem que receberem o imunizante. Uma vacina de 50% de eficácia protege 50 pessoas em cem. Então a vacina de 95% é melhor, certo? Não tem por que usar uma de apenas 50%.

Em teoria, sim, uma eficácia maior é sempre mais desejável. Mas isso não quer dizer que devemos descartar vacinas com eficácia menor. A eficácia é calculada a partir da capacidade da vacina em prevenir a doença. Os eventos consideraram qualquer pessoa com sintomas, que teve seu diagnóstico confirmado para COVID-19. Esse é o chamado desfecho primário do teste.

Algumas vacinas estudaram também alguns desfechos secundários: a capacidade de proteger contra doença grave, e a capacidade de evitar infecção, ou seja, impedir mesmo infecções assintomáticas. Esses desfechos não são secundários por acaso. Doença grave é mais rara, vai aparecer, mas em menor número, e assim o poder estatístico dessa análise fica prejudicada. Já assintomáticos, para serem detectados, precisam de um rastreamento geral. É inviável fazer isso em 40 mil pessoas, então as empresas fazem um recorte menor, o que também implica menor poder estatístico.

Ainda assim, esses desfechos secundários podem trazer informações interessantes. Por exemplo, para a vacina Moderna, os trinta casos de doença grave que apareceram nos testes clínicos estavam no grupo placebo, nenhum no grupo vacinado. Isso sugere uma boa proteção contra doença grave, o que pode evitar hospitalização e morte.

Isso já muda a forma como encaramos a proteção que as vacinas podem gerar na sociedade. Podemos dizer, ok, uma vacina de 50% de eficácia não é tão boa quanto a de 95%, mas tem o potencial de prevenir doença grave e morte. Ou seja, mesmo que as pessoas fiquem doentes, a chance de desenvolver um quadro grave e morrer cai significativamente. Isso já é um sonho de consumo: transformar a COVID-19, de fato, em uma gripezinha. Uma gripezinha é manejável. Além disso, mesmo uma vacina de 50% vai diminuir o número de suscetíveis, e fazer com que a transmissão na comunidade seja reduzida, que é o que estamos tentando fazer desde março com as medidas de quarentena, e até agora sem muito sucesso.

Outro desfecho secundário avaliado por algumas empresas foi a capacidade de prevenir infecções assintomáticas. Novamente, a Moderna apresenta resultados interessantes, mostrando um número maior de assintomáticos no grupo placebo (38), quando comparado ao grupo vacinado (14), após a primeira dose, o que sugere que a vacina já pode ajudar a reduzir contágio, mesmo após só uma dose..

Além disso, outros fatores como a capacidade de importação, produção, transporte, armazenamento, cadeia de frio, tudo isso precisa ser considerado na estratégia de vacinação. O que precisamos, urgente, é de uma vacina que reduza hospitalizações e mortes. Não precisa ser a vacina perfeita, precisa permitir que a pandemia seja manejável.

E para tornar a pandemia manejável, precisamos que a população se vacine. Uma vacina só é tão boa quanto a adesão popular a ela. De nada adianta uma vacina de 95% de eficácia se houver ampla rejeição entre o público. Uma vacina de 50% ou 60% de eficácia, com ampla cobertura, e capaz de reduzir casos graves, será extremamente benéfica para reduzir a pandemia no Brasil.

Uma vez aprovada para uso na população, a vacina segue sendo observada – um efeito colateral que só atinge uma pessoa em um milhão, por exemplo, não tem como ser notado nas Fases 1, 2 e 3. Essa vigilância contínua é às vezes chamada de “Fase 4”.

Também é só depois que a vacina começa a ser aplicada na população em geral que conseguimos medir sua efetividade, isto é, sua capacidade real de evitar a doença, fora do ambiente mais controlado dos testes, e os benefícios que traz para a saúde pública em termos de redução dos gastos com hospitais, etc.

vacina Oxford

 AINDA NÃO SABEMOS A EFICÁCIA REAL DA VACINA.

Um artigo de 8/dez com resultados da fase 3 mostrou eficácia de 70.4% em uma análise combinada de resultados de 3 países: Reino Unido, Brasil e Africa do Sul (AS).
Mas essa análise combinada envolveu dosagens incorretas (um grupo recebeu metade da dose na primeira imunização) e falta de padronização dos estudos nos países.
Qdo se excluiu o grupo com dose diferentes, a eficácia foi de 62%. Isso poderia seria suficiente (>50%), mas tem outro problema: o chamado intervalo de confiança (IC).
IMPORTANTE: De acordo c o estabelecido pelo FDA e OMS, o limite inferior do IC - uma medida de a faixa de incerteza do resultado - deve estar acima de 30%. O ensaio do RU não alcançou esse limite (IC: (28·0 to 78·2). O ensaio do BR passou raspando (30·7 to 81·5).

Além disso, a eficácia de 62% foi para pacientes com até 55 anos de idade. Apenas 718 pessoas dos vacinados tinham mais do que 56 anos e só 224 tinham mais do que 70 anos. Para comparar a vacina da Pfizer estudou 8.396 pacientes acima de 55 anos e 860 acima de 75 anos..
A vacina pode ñ ter eficácia adequada em idosos e há poucos dados de segurança p eles.

Um ensaio clínico está em andamento nos EUA (2 doses padrão) e tem resultados esperados para fevereiro. Esse ensaio confirmará a eficácia da vacina. Até lá, ou até q a AZ/Oxford mostre dados adicionais, a real eficácia da vacina permanece no ar.

A aprovação dessa vacina vem quando o Reino Unido enfrenta níveis sem precedentes de transmissão e imensa pressão no sistema de saúde. Mesmo com incertezas, autoridades esperam q com maior quantidade e fácil distribuição, essa vacina seja um importante ponto de inflexão da pandemia no país.

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

novo normal

Uma certa complacência cunharam um dramalhão em torno de máscaras, ficar em casa, evitar aglomerações etc como sendo um "novo normal". Entre o ridículo e a sordidez, narrativas vão ocultando que estamos mergulhados na verdade no odioso velho normal

Novo normal seria a valorização dos serviços essenciais e de seus trabalhadores, jamais ocorrida, sequer com o pessoal da saúde! Ou valorizar seria bater palmas na sacada e mandar mensagens fofas enquanto eles adoecem e morrem no front?

Novo normal seria colocar dedo na ferida das origens ambientais das mutações virais e da reemergência de doenças infecciosas, e dar um fim à farra de devastação ambiental p/ganho de poucos desgraçados. Novo normal seria, uma vez na vida, dar prioridade de fato à saúde pública.

Novo normal seria cadeia para quem dissemina voluntariamente o vírus; seria a prisão perpétua para quem usou dinheiro da resposta à pandemia para outros fins, inclusive propaganda ideológica e disseminação de notícias falsas. Seria uma postura corajosa e ética dos conselhos de medicina diante dos "médicos" influencers.

Novo normal seria investimento prioritário em educação e ciência. Nada disto aconteceu, nada disso vai acontecer. 2020 é o velhíssimo normal, é a mesma resposta dada a Brumadinho, às desigualdades pelo país.

O vexame diante da pandemia está longe de acabar -e logo virá outra. Enquanto não admitirmos a realidade c/força, inteligência, coragem, disposição p/trabalhar e graça (honestidade intelectual nunca foi impeditivo p/nenhuma delas), sem ilusões, não há possibilidade de mudança.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

porque aumento de transmissibilidade pode ser pior do que aumento de mortalidade

 Um exemplo : vamos supor que o indice de transmissibilidade (R) seja o atual na Europa + 1,1 e o indice de fatalidade seja de 0,8% e que cerca de 10 mil pessoas estejam infectadas.Esperaríamos , portanto , cerca de 129 óbitos após um mês de disseminação.

O que acontece se o indice de fatalidade aumenta em 50% = 193 novos óbitos.

Se a transmissibilidade aumenta em 50% = 978 novos óbitos após um mês

sobre a segurança das vacinas

Na medida em que as vacinas contra o COVID vão sendo aplicadas também surgem relatos de raros eventos colaterais , como a anafilaxia.

 A cada dia morrem pessoas de modo inesperado e inexplicável.Provavelmente incidentes cardio-vasculares.Em média , também a cada dia , nos Estados Unidos, 110 pessoas irão apresentar paralisia de Bell e outras 274 irão desenvolver a síndrome de Guillain Barré. O gatilho para estes eventos é quase sempre desconhecido.Mas quando uma vacinação está ocorrendo,associações precipitadas sempre são feitas

É de suma importância elucidar que muitos problemas que ocorrem após a vacinação não são ligados ao seu uso. O risco desse desentendimento é desacreditar nos beneficios da imunização e,para alguns , reforçar um descrédito nas mesmas

Revisões de relatos adversos em amplas campanhas de vacinação reportam que a anafilaxia é rara ; 1 caso para cada 1,3 milhões de doses.Em 855 dos casos o paciente tinha antecedentes de alergia.Não houve nenhuma morte.

A desinformação se propaga muito mais rápida do que a informação

Num momento de intensa campanha mundial para o COVD diferenciar o que é relevante daquilo que é esperado numa ampla população faz toda a diferença.Se um evento ocorre , torna-se importante avaliar qual vacina foi utilizada , o histórico do paciente , a incidência deste efeito colateral numa população não vacinada etc

A idéia de que 1 em 500.000 pessoas inoculadas com uma vacina pode ter um evento importante - isto é hipotético - tem que ser bem explicado ao publico em geral.E também comparar com os riscos de pegar o COVID e adoecer de modo sério.


sábado, 26 de dezembro de 2020

terapia promissora contra o COVID

  A Astra - Zêneca anuncia uma nova proposta de terapia contra o SARS Cov2. 

O nome do medicamento é AZD7442 e se trata de uma terapia com anticorpos!

A ideia do tratamento é fornecer anticorpos específicos contra vírus SARS-CoV-2 para neutralizá-lo. Essa imunidade "instantânea" poderia ser administrada como um tratamento de emergência para pacientes internados em hospitais e residentes de lares para ajudar a conter os surtos.

No entanto, cabe lembrar que essa imunidade não é permanente! Não estamos mobilizando nossas células do sistema imunológico adaptativo, que vai não só responder, como gerar células que irão se lembrar da infecção. A pessoa permanece suscetível ao vírus!

Segundo a Astra, a empresa espera que o coquetel de anticorpos proteja contra Covid-19 por entre 6-12 meses. Os participantes do ensaio estão recebendo em 2 doses, uma após a outra. Se for aprovado, será oferecido a alguém que foi exposto à COVID-19 nos 8 dias anteriores.

Segundo o site da AZ, a fase 3 foi anunciada em Outubro, contando com mais de 6 mil participantes de diversas localidades dentro e fora dos EUA

Para a produção desses anticorpos monoclonais, os pesquisadores isolam os anticorpos de pacientes em recuperação e identificam aqueles que melhor ‘neutralizam’ o vírus ligando-se a ele e impedindo sua replicação.

Em seguida, eles produzem esses anticorpos em massa no laboratório. Se o tratamento for eficaz, as empresas aumentarão a produção, usando células cultivadas em biorreatores gigantes.

A abordagem é diferente do plasma convalescente. No plasma, temos uma mistura de diferentes anticorpos e moléculas retiradas diretamente do sangue de pessoas recuperadas de COVID-19. Nos anticorpos monoclonais, produzimos de forma bem específica vários clones do mesmo anticorpo

A revista Nature já publicou um artigo que discute este tipo de terapia.O problema |: "anticorpos monoclonais são geralmente mais caros de fazer do que as drogas de moléculas pequenas, eles devem ser injetadas em vez de administradas por via oral e são difíceis de serem duplicadas pelos fabricantes de medicamentos genéricos"

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

nossa relação com microorganismos

 Microorganismos são responsáveis pelas mais profundas diferenças entre humanos. Isto é uma verdade desde que o primeiro humano surgiu no planeta.

Alguns humanos nascem naturalmente resistentes ao HIV. Isso acontece graças a uma pequena mudança genética - o chamado receptor CCR5 delta 32. A maioria dos humanos não tem o CCR5 delta 32 em suas células. O HIV leva vantagem neste fato.

Ter uma resistência inata ao HIV (CCR5 delta 32) porém tem um custo. Uma expectativa de vida mais curta devido a um risco maior d eter outras infecções , como a influenza

Então : qual é a melhor herança genética? Resistência ao HIV (CCR5 delta 32), mas ter uma menor expectativa de vida Ou Ser susceptível ao HIV e ter maior sobrevida,a menos que a pessoa seja infectada pelo HIV.

Quando estamos falando dos méritos de toda uma biologia a resposta vem sempre no mesmo tom : depende !

ainda sobre a nova mutação do SARS Cov2

 A nova variante do SARS Cov2 que apareceu no Reino Unido tem forçado Londres a um novo lockdown além de restrições de alguns países aos vôos provenientes da Inglaterra

Sempre que uma mutação viral potencialmente significante emerge, os cientistas procuram entender 3 fatores fundamentais: o quanto ela se espalha, a doença que ela causa e se ela implica em alguma alteração na imunidade (natural ou induzida por vacina).

A primeira questão : esta variante parece ser mais transmissível,mas ainda precisamos de mais evidências.A segunda : até agora não há sinal que ela possa causar uma doença mais séria.A terceira : as questões sobre imunidade só serão respondidas com precisão mais tarde.

Até agora não existem evidências que o vírus tenha mudado o suficiente para alterar o perfil de imunidade . Portanto,algum impacto sobre a eficácia da vacina não está sendo cogitado

O Coronavirus tem uma dinâmica mais lenta que o vírus Influenza. SARS-CoV-2 tem adicionado uma ou duas mudanças por mês no seu genoma de RNA desde que surgiu no ultimo ano na China, e diferentes versões do vírus tem circulado através da pandemia.

Esta variante, chamada de B.1.1.7 ou VUI-202012/01, mostrou no minimo 17 mutações. Algumas estão no genoma que fornece instruções para a proteína spike, que se liga às células humanas dando inicio à infecção. Algumas vacinas foram desenvolvidas para ensinarem o sistema imune a criar anticorpos contra estas proteínas, então é possível que mudanças nesta estrutura viral possa alterar a eficácia vacinal. O mesmo poderia ocorrer com os anticorpos formados numa primeira infecção.Estes poderiam não reconhecer a "nova variante". Mas,é importante ressaltar que outros componentes imunes , por exempo , as células T, contribuiriam para a proteção

Desta forma, se o vírus evoluir para "escapar" das vacinas — agora ou no futuro — a imunização não seria de todo ineficiente; poderia ser menos protetora e isso exigiria uma atualização das vacinas periódicamente

A maioria das pessoas no mundo ainda estão suscetíveis ao vírus, portanto não é provável que exista uma pressão evolutiva para o vírus se adaptar.Porém, isso poderia ocorrer quando uma grande parcela da população for vacinada.

Uma teoria para o surgimento desta nova variante seria : um paciente imunocomprometido com uma "rara" COVID crônica — onde o vírus se replicasse por semanas, isso geraria o surgimento de uma mutação

Sobre a questão de causar doença mais grave ; pesquisas estão sendo feitas em pacientes hospitalizados avaliando a presença desta cepa

Todos os vírus mutam.E o SARS-2 está sendo bem monitorado. Uma outra variante conhecida como D614G, ajudou a aumentar a eficiência da velocidade de disseminação viral. Mas várias outras mutações não deram em nada.

Embora os britânicos rotulem a mutação B.1.1.7 como sendo até mais 70%  transmissível ainda não podemos afirmar com precisão. É possível que uma variante possa parecer mas contagiosa em uma determinada área e não se sustente epidemiológicamente

Outra afirmação ainda não totalmente embasada é que a nova variante tenha um coeficiente de transmissão de 1,5 versus 1,1 da cepa tradicional. esta é uma grande diferença : 10 pessoas infectadas levariam a 11 novas infecções vs 10 pessoas infectadas levariam a 15 novas infecções.

Outra possibilidade é que pacientes infectados tenham maior carga viral

Importante frisar que na Africa do Sul uma variante muito similar a esta do Reino Unido tambem apresentou maior indice de transmissão. Outra discussão também que vem sendo abordada é a possibilidade da nova variante ser capaz de infectar mais crianças

Já temos relatos da B.1.1.7 na Holanda, Dinamarca,Itália,Islândia e Australia.Se procurarmos vamos achar.


domingo, 20 de dezembro de 2020

sobre o contágio

 Temos visto poucos estudos onde grupos de pessoas em abientes fechados com limitada circulação de ar tê gerado surtos de infecção pelo SARS Cov 2. Rastrear com precisão os contatos e relacionar à duração do evento é dificil mas , na maior parte dos casos,é improvável que todos os infectados tenham tido contato direto.

Na Coréia do Sul , em um centro empresarial,94 de 216 empregados de uma empresa que ocupava um andar foram infectados. A proporção (ou indice de ataque) foi de 44% .Todos os contactantes familiares foram rastreados e testados e, de modo interessante, o indice de ataque secundário (os que foram infectados) foi de 16%.Se esperava , pelo contato mais direto em casa,uma transmissão maior.

Em outros estudo , 2 ônibus que transportavam passageiros para um evento religioso ao ar livre (ambos levaram 50 minutos de viagem) foram avaliados.O ônibus 2 transportava o paciente considerado index (responsável pela transmissão).Os que estiveram presente passaram 150 minutos no evento que teve um almoço (299 pessoas no total) - 67 estavam no ônibus 2.

30 pessoas (excluindo o paciente index) do evento foram diagnosticadas com COVID- 23 estavam no ônibus 2. Nenhum caso no ônibus 1 e 7 do evento que não foram de ônibus mas que relataram contato próximo com o paciente index.

O paciente index sentou-se na fileira 8 do ônibus.Muitos que se sentaram em fileiras dostantes foram infectados.O indice de ataque foi de 34% no ônibus e 10% para o evento em geral .

Um terceiro estudo mostrou que uma familia (A) infectou duas outras ( B e C) em um restaurante sem janelas e com ar condicionado em Wuhan.As familias permaneceram cerca de 50-70 minutos no local.No total 83 pessoas estiveram almoçando ocupando um total de 15 mesas.Somente 5 pessoas das familias B e C foram infectadas.O indice de ataque é baixo :6%.Mas 45% dos casos ocorreram nas pessoas submetidas ao fuxo do ar condicionado.

Estes exemplos demonstram que a regra dos dois metros e a excessiva preocupação com a higiene ambiental podem ocultar a importância dos ambientes fechados e com pouca circulação de ar além do aglomeramento de pessoas.


a nova mutação do SARS Cov2

 O governo britânico anunciou, há poucos dias, um endurecimento das medidas restritivas de controle da pandemia, ou seja, um "quase " lockdown com um cancelamento simbólico do Natal.

A justificativa : o surgimento de uma linhagem mutante do vírus SARS-CoV-2 que, segundo dados a que aparentemente só o governo britânico teve acesso, é muito mais infecciosa (transmissível). Não temos dados ainda para correlacionar esta possível nova variante com o aumento sesível de novos casos no Reino Unido.

O termo “mutante” sempre desperta preocupações e especulações. A palavra mutação é geralmente associada a uma evolução prejudicial. Mas na verdade mutações são comuns a todos os organismos, e suas consequências variam muito. Elas podem ser benéficas ou prejudiciais.Na maioria das vezes não terão nenhuma repercussão 

Se uma mutação for vantajosa para o organismo, ela pode ser passada a futuras gerações e se tornar um bom fator de evolução adaptativo.

Durante a pandemia de COVID-19, alguns eventos relacionados a mutantes já foram reportados gerando as perguntas : o vírus está mais agressivo ? ou mais transmissivel?

O primeiro mutante que chamou atenção foi reportado em Julho. Uma mudança de aminoácido na região da proteína S. Os autores reportaram que esta mutação havia se tornado predominante, e que poderia indicar uma vantagem adaptativa, uma maior “aptidão viral”. Essa aptidão foi confirmada em ensaios de laboratório: o mutante parecia realmente ter maior capacidade de infectar células em cultura.

Resultado semelhante também foi observado em animais, mostrando predominância do mutante 614G no trato respiratório superior (nariz e garganta), mas não nos pulmões, sugerindo que realmente essa variante pode ser mais infecciosa. Não há nenhum indício, no entanto, de que a doença que causa seja mais grave, ou que a variedade possa escapar de vacinas.

Cientistas observaram que os pacientes infectados com esta variante apresentam maior carga viral no nariz, mas não desenvolvem casos mais graves da doença. Ensaios com anticorpos neutralizantes também verificaram que o mutante 614G é mais suscetível à neutralização, mostrando que as vacinas vão dar conta dele tranquilamente.

Recentemente tivemos a mutação da Espanha. Neste caso, havia diversos outros fatores epidemiológicos envolvidos que podiam explicar a maior prevalência deste vírus na Europa, entre eles as férias de verão, e o grande número de viagens de jovens pelo continente, ao mesmo tempo em que as medidas de prevenção foram relaxadas. Logo, chegou-se à conclusão de que a segunda onda na Europa era muito mais provavelmente causada por comportamento humano do que por uma mutação do vírus.

Agora temos a mutação do Reino Unido. Neste caso, não temos quase nenhum dado científico publicado, apenas a observação de um grande número de pessoas infectadas com ele, e a constatação de 17 mudanças em aminoácidos, em locais possivelmente relacionados com infectividade, como o sítio de ligação do vírus às células humanas, e uma proteína acessória. Não foi nem sequer feito um ensaio de competição in vitro, o experimento usado para detectar maior ou menor aptidão viral.

E mesmo que o experimento aconteça e se confirme que o novo mutante é capaz de, num vidro de laboratório, tomar o lugar do vírus comum, a questão de se ele consegue fazer o mesmo no mundo real segue em aberto. É preciso distinguir claramente dois conceitos: aptidão viral e aptidão epidemiológica.

Aptidão viral é a capacidade do vírus de se replicar em um determinado ambiente. Aptidão epidemiológica é a capacidade do vírus de se tornar dominante em uma determinada região ou população.

Estudos em laboratório, medindo a capacidade do parasita de se multiplicar em células,medem a aptidão viral. Apesar de na maioria das vezes, a aptidão viral se transformar em aptidão epidemiológica – isso já ocorreu no vírus Chicungunya,e aumentou a capacidade de replicação no mosquito em quase cem vezes e se disseminou pelo mundo –, um mutante pode ganhar a briga com outra versão do vírus no laboratório e isso não se traduzir automaticamente numa vantagem epidemiológica..

Em termos de população vários outros fatores pesam. Um deles é o acaso. Nem tudo que é selecionado tem vantagem evolutiva. Às vezes é só estar no lugar certo na hora certa. Um evento de super-espalhadores, uma festa com 500 pessoas, tudo isso pode fazer com que um mutante se dissemine mais do que outro.

Ainda é cedo para se dizer que esta linhagem encontrada no Reino Unido realmente tenha mais aptidão epidemiológica. Mas, no momento, nem estudos de aptidão viral foram feitos, e o que temos são correlações que sugerem uma prevalência desta linhagem na população, o que, como vimos aqui, pode ocorrer por diversos motivos. A nova linhagem parece estar atrapalhando um pouco os testes diagnósticos também, mas isso precisa ser mais investigado. 

E as vacinas?

Como para os outros mutantes, não temos dados suficientes para dizer se essa mutação vai afetar a efetividade de uma vacina. Mas é bem mais provável que não. Os outros mutantes não afetaram: um estudo conduzido pelo grupo da Pfizer mostrou a capacidade dos anticorpos gerados pela vacina de neutralizar diversos mutantes de proteína S. As vacinas foram desenhadas para gerar anticorpos para regiões grandes da proteína S, ou a proteína inteira, e algumas mudanças não devem ser problema..

Mesmo que ocorra e a mutação prejudicar o reconhecimento do vírus por anticorpos, cabe lembrar que esta não é nossa única resposta imune, talvez nem a mais importante, e que vacinas como a da Pfizer, da Moderna, e as vetorizadas, provocam uma boa resposta celular, que é outro braço do sistema imune, menos suscetível a esse tipo de engano.

Vacinas como a Coronavac, de vírus inativados, também dependem menos de detalhes muito específicos do vírus: não é uma mudança pontual numa proteína que vai esconder o SARS-CoV-2 delas.

O que a situação no Reino Unido mostra é a importância da vigilância epidemiológica para detectar rapidamente mutantes que possam ser causa de preocupação. O que não se deve fazer, no entanto, são afirmações para as quais ainda não temos dados, que podem assustar a população e causar um pânico desnecessário.

Enquanto estudamos a aptidão viral e epidemiológica deste mutante, e como ele pode afetar a população, convém lembrar que para qualquer linhagem do vírus, os cuidados de prevenção permanecem os mesmos. E que, quanto mais o vírus circula, mais linhagens surgem. A maneira de prevenir isso é com distanciamento social, uso de máscaras, evitando aglomerações – e vacinando-se.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

a atual dinâmica de transmissão do SARS Cov2

Um estudo da Science mostrou que o risco de transmissão do SARS Cov2 é maior dentro da familia,depois nos contatos sociais e finalmente no dia a dia da comunidade.Isso acontece pois nestes contatos mantemos menor distância,usamos menos máscaras e higiene das mãos.Além de ter mais tempos juntos.Nos eventos sociais os adolescentes e adultos jovens passam a COVID para os da mesma idade mas em casa as idades se misturam.O grupo que mais trás a doença para casa está entre os 25 e 60 anos.

Um estudo da Nature Behavior coloca que cancelar eventos de pequeno e médio porte é uma medida bastante eficaz para se bloquear a cadeia de transmissão.

Ivermectina

 Não temos, até o momento, nenhum remédio capaz de evitar ou tratar a infecção pelo vírus SARS-CoV-2..

Apesar deste conhecimento científico vemos notícias de médicos receitando freneticamente o antiparasitário ivermectina para pacientes com COVID-19.Isso promove a confiança em pessoas que se sentem protegidas da doença porque tomam um regime semanal (ou quinzenal,de acordo com alguns) do medicamento

A ivermectina é um antiparasitário, muito usado para controle de piolho, pulgas e carrapatos em animais, incluindo seres humanos, e algumas verminoses. Sua ação é no sistema nervoso central de animais invertebrados ocasionando paralisia muscular.

Nas doses recomendadas, o fármaco não chega no sistema nervoso central de mamíferos, e por isso é muito bem tolerado.Porém em algumas raças de cães, pode, por causa de uma mutação genética,ser extremamente tóxica (exatamente por atacar o sistema nervoso).

A fama do remédio começa com um estudo feito por pesquisadores da Monash Univeristy, na Austrália, divulgado em abril e que mostrou atividade antiviral in vitro, ou seja, em cultura de células. As células estudadas são células Vero(o mesmo tipo, aliás, em que a cloroquina “funciona”).

 Os problemas começam aí: primeiro, praticamente qualquer coisa – sal de cozinha, água e sabão – é capaz de impedir replicação de vírus em células cultivadas; já no organismo humano temos um ambiente muito mais complexo.

Células Vero, derivadas de rins de macacos, são muito diferentes das células pulmonares, onde o SARS-CoV-2 causa mais dano. Já está provado que a cloroquina, por exemplo, não funciona contra o vírus em células pulmonares humanas.

Outro detalhe ; a quantidade de medicamento necessária para inativar metade ou mais dos vírus presentes, mesmo nas células derivadas de macaco, é enorme, correspondendo a uma verdadeira overdose. Existe pelo menos um estudo, já publicado, mostrando que as doses necessarias para "inibir" vírus são inatingiveis em seres humanos.

A própria universidade australiana dos responsáveis pelo trabalho que lançou a moda do antiparasitário publicou um aviso para que as pessoas não usem a ivermectina contra COVID-19. 

Um ponto crucial e que talvez escape, até mesmo, a muitos médicos, é que estudos de má qualidade tendem a gerar resultados falsamente positivos. É fácil entender o porquê: ninguém (ou quase ninguém) decide estudar um medicamento achando que ele não funciona. .

Um estudo de má qualidade quase sempre diz o que o autor quer ouvir.

Somando os resultados de boa qualidade que mostram que o antiparasitário não tem praticamente nenhuma chance de funcionar contra vírus no corpo humano à baixa qualidade dos poucos resultados positivos que existem, e reconhecendo o fato de que estudos ruins com desfecho positivo tendem, geralmente, a apresentar conclusões falsas, o que sobra é a constatação de que não há motivo para achar que a ivermectina tenha qualquer efeito na COVID-19.

A COVID-19 é uma doença da qual mais de 90% dos pacientes se recupera sem sofrer maiores consequências. Qualquer remédio apresentado como profilático ou redutor de sintomas vai acabar surfando na onda – roubando o crédito – do que é, na verdade, uma simples recuperação natural.

Se aos casos de recuperação espontânea de pacientes confirmados de COVID-19 adicionarmos os casos “suspeitos” — gente que na verdade teve só uma crise alérgica ou um resfriado comum –, a falsa estatística do “sucesso” da ivermectina realmente explode.

Atribuir o fato de não pegar COVID-19, ou não ter complicações da doença, ao uso de qualquer fármaco faz tanto sentido quanto atribuir o fato de nunca ter sido atropelado atravessando a rua a um amuleto da sorte. A verdade é que a maioria esmagadora das pessoas que atravessam ruas nunca são atropeladas, com ou sem amuletos.

O Brasil já gastou muito com remédios que não funcionan.

Um exemplo é a cidade catarinense de Itajaí que gastou R$ 4,4 milhões só com ivermectina além de cloroquina ,homeopatia,cânfora e ozônio retal. Os resultados foram  ridículos e trágicos: a cidade tem o quarto maior número de mortes do estado e o dobro de Chapecó, cidade com população quase igual.

O mito da ivermectina fica ainda mais forte neste fim de ano.As correntes de WhatsApp e o desejo de ter um salvo-conduto para as festas de fim de ano incrementam o seu uso..

 Quem corre o risco de perder a vida é quem se acredita nele.

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

absurdos de um tempo homicida

 Nesses triste momentos o mais triste é ouvir



"abrir novos leitos"

isto não é ação de combate a pandemia

é uma medida adotada porque a epidemia não foi controlada no seu local de origem, a comunidade

e que leitos estamos abrindo?

de onde virão os profissionais para cuidar de quem vai ocupar o leito?

são leitos remanejados?

quem deixará de ser cuidado?


segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

os incríveis 11 meses para se chegar a uma vacina

  O cientista Barney Graham passou 10 dos ultimos 11 meses trabalhando sem pausa para desenvolver uma vacina contra o COVID 19.O laboratório de Graham ajudou a decifrar uma tecnologia inovadora.

O desenvolvimento de vacinas leva anos. O progresso dos ultimos 11 meses expõe o paradigma de que é possível criar um novo modelo de imunizante nunca antes utilizado em doenças virais.

Bem antes da pandemia, Graham trabalhava com seus colegas para criar uma versão em 3-D das proteínas "spikes" que emergem da superficie dos coronavirus — uma inovação rejeitada em 5 ocasiões por jornais cientificos por que os revisores questionavam a sua relevância. Seu laboratório é parceiro da companhia Moderna e buscava desenvolver uma tecnologia de vacina rápida e flexível , na expectativa de que a ciência deveria estra pronta para responder a uma nova pandemia.

Desde 1961 os cientistas sabem sobre o RNA mensageiro, o material genético que torna a vida possível, pegando as instruções inscritas no DNA e levando-as às partes produtoras de proteínas nas células. O RNA-m é poderoso, uma espécie de componente da construção da vida — e ao mesmo tempo apenas um mensageiro instável pronto a se degradar após sua missão.

Com o tempo se viu que ele poderia se tornar uma ferramenta médica.Codificar,por exemplo,fragmentos de vírus que ensinariam ao sistema imune como se defender de patógenos.Ele pode ainda criar proteínas uteis para tratamento de doenças genéticas,como a finbrose cistica. Porém,os cientistas descobriram que ele também pode ser frágil

Em 2005,os cientistas descobriram uma maneira de modificar o RNA quimicamente mexendo em uma das letras de seu código e assim controlar a sua resposta inflamatória


Todas as vacinas são baseadas na mes,ma finalidade: treinar o sistema imune para bloquear um vírus. As tradicionais fazem isso utilizando vírus mortos ou enfraquecidos. As mais novas usam pedaços diferentes do vírus, como proteínas. A inovadora técnica do RNA - m entrega um código genético que instrui as células a construir as proteínas por si próprias.

Para fazer isto a ciência tem que escolher qual parte do vírus deve mostrar ao sistema imune.Antes da pandemia, Graham tinha revelado que algumas proteínas virais mudam após entrarem em células humanas. Graham tem trabalhado em desenvolver tambem uma vacina para o vírus sincicial respiratório;A revista Science considerou sua pesquisa em 2013 como a mais importante do ano.


Os Coronavirus eram bons candidatos. A SARS em 2003 e a MERS em 2012 assustaram o mundo.Para Graham e Jason McLellan, da University of Texas, um novo coronavírus era questão de tempo. Nesse período eles trabalharam com a proteína spike do coronavírus HKU1, causa do resfriado comum.

Ao saber do novo coronavírus na China,o time se reuniu novamente de modo intensivo

. Quando o genoma foi compartilhado online, os laboratóros no Texas e em Maryland começaram a desenhar uma vacina partindo dos anos de pesquisa intensiva.


Mas era necessário buscar uma estabilidade para a proteína spike do novo coronavírus para se criar uma nova vacina — uma tecnologia que pudesse entregar o RNA-m ao paciente - e Graham ja estava trabalhando com a Moderna usando o RNA-m para criar uma vacina contra o vírus Nipah. Eles deixaram o projeto de lado para se dedicarem apenas ao novo coronavírus.

Em 13 de Janeiro a Moderna começou a trabalhar para buscar uma maneira de estabilizar a proteína spike.

mRNA in

lipid shell

RNA vaccines contain a strip of genetic material within a lipid bubble.

Cell

Inside the cell, ribosomes read the mRNA instructions for the spike protein.

Ribosome

Nucleus

The cell then begins to generate copies of the spike protein.

Spike proteins

Antigen-presenting cells (APCs) consume the viral proteins and pass viral peptides to T-helper cells.

APC

The immune system, presented with the peptide, learns to recognize the virus and releases cytotoxic T cells and B cells.

H

T-helper cell

Cytotoxic

T cell

Virus-infected cell

T

Virus

Cytotoxic T cells detect and eliminate virus-infected cells.

B cell

B

Antibodies

Antibodies from B-cells block the virus from infecting healthy cells.



domingo, 13 de dezembro de 2020

a vacina da Novavax

 Feita por células de mariposa aproveitadas para produzir a proteína spike do vírus - que sabemos ter muita relevância para a invasão do vírus em nossas células - a vacina da Novavax ofuscou os principais concorrentes em medidas-chave em testes em macacos e humanos.

A Novavax é uma dass sete empresas de vacina a ganhar financiamento até agora da Operação Warp Speed, uma multiagência americana com o objetivo de produzir rapidamente pelo menos 300 milhões de doses de vacinas COVID-19 no momento que o sucesso for observado.

A maioria dessas empresas apoiadas pela Warp Speed são gigantes do ramo. Mas a Novavax tem seus pontos altos em relação aos seus colegas: a estabilidade e conformação ("forma") da proteína Spike produzida por eles é notável, bem como a resposta de anticorpos produzida por ela.

Em comparação com suas colegas (Moderna, Pfizer, Janssen e AstraZeneca), que usam ou sequências de DNA ou de RNA mensageiro para transportar instruções genéticas para a construção da proteína spike, a Novavax usa essa sua versão da proteína S pronta.

Essa proteína Spike pronta deve se aproximar e simular o pico observado em uma infecção e deve também ser estável o suficiente para reter sua força imunológica durante a fabricação, embalagem e distribuição. A maioria dessas vacinas também tem um fator extra: ADJUVANTES.

Esses adjuvantes ajudam a estimular uma resposta imune forte e protetora. Essas etapas extras tornam o desenvolvimento das vacinas de proteína mais lento do que aquelas que fornecem instruções genéticas, no entanto, podem gerar respostas tão ou mais robustas quanto!

Isso pode ser observado pelo próprio histórico de eficácia dessas vacinas: A vacina bem-sucedida contra hepatite B licenciada em 1986 e recomendada para todos os bebês dos EUA em seu primeiro dia de vida é uma vacina de subunidade de proteína.

O mesmo ocorre com outras vacinas, como a vacina contra a gripe aprovada em 2013 e as vacinas contra o papilomavírus humano (HPV) que têm auxiliado nas baixas taxas de câncer cervical desde que as primeiras foram licenciadas nos anos 2000.

Devido a esse bom histórico, muitas outras empresas estão correndo para lançar suas candidatas de subunidades proteicas, mas apenas a Novavax está em fase 3 atualmente! A Sanofi Pasteur provavelmente será um bom páreo nessa corrida para a Novavax.

Outras características interessantes que beneficiam essa proposta da Novavax é a estabilidade. A Spike da Novavax é estável por muitas semanas a - 2°C a - 8°C , uma vantagem importante sobre as vacinas Moderna e Pfizer, que precisam ser armazenadas a -20°C e -70°C.

Como ela é produzida ?

Baculovírus são vírus que infectam insetos, e possuem uma boa capacidade espacial de transportar informações em seu material genético (genoma), como um DNA exógeno (vindo de outro organismo).Esse vírus é capaz de transferir essa info para a célula, como da mariposa, instruindo ela a produzir a proteína Spike, por exemplo!

Hoje, esse sistema é amplamente utilizado na biotecnologia para produção de grandes quantidades de proteína.

Na Novavax, inúmeros baculovírus infectam células de mariposa instruindo-as a produzir a proteína Spike, em biorreatores de 2000 litros. As células expressam as proteínas em suas membranas, que são coletadas e misturadas com uma partícula artificial que é o veículo de entrega.
Essa particula chega a comportar até 14 proteínas Spike! Em seguida, é adicionado o adjuvante para amplificar a resposta imunológica do hospedeiro. No fim de Maio, a Novavax lançou seu 1º teste de segurança em 131 indivíduos na Austrália: resultados positivos!

O ensaio foi do tipo randomizado, com placebo, com ou sem um adjuvante (Matrix-M1) para estimular a resposta imunológica frente ao imunizante. O estudo de fase 1/2 contou com a participação de 131 pessoas saudáveis.

Na fase 1, a vacinação compreendeu duas injeções intramusculares, com 21 dias de intervalo. Os principais parâmetros avaliados foram a imunogenicidade (tipo de resposta), segurança, anticorpos IgG específicos contra Spike, resposta de céls T, além de possíveis efeitos adversos.

A análise foi realizada no dia 35 pós a imunização.

Após a randomização: - 83 participantes foram designados para receber a vacina com adjuvante - 25 sem adjuvante - 23 participantes foram designados para receber placebo Nenhum evento adverso sério/grave foi observado

As principais conclusões foram que, aos 35 dias, a vacina apresentou segurança e desencadeou respostas imunológicas maiores que os níveis no soro convalescente COVID-19. O adjuvante Matrix-M1 induziu respostas de células T CD4 + (perfil Th1).

Dessa forma, colecionando uma série de dados promissores, a Novavax se encaminha pra fase 3! Essa vacina tem vários pontos positivos: escalabilidade na produção, logística mais facilitada pra distribuição (não requer temperaturas muito baixas), sendo super promissora!