A história mais dolorosa do contemporâneo pode ser contada
pelos indivíduos com doenças crônicas e imunodeficiências.
Por conta de suas fragilidades na formação de anticorpos não criam defesa após receberem vacinas contra a covid e se colocam em risco de
doença grave ou morte. O paradoxo de uma luta contra suas doenças de base , com
o uso de drogas que precisam exatamente neutralizar os excessos de anticorpos
indesejáveis, acaba por gerar um enorme numero de pessoas vulneráveis que são
casualmente dispensáveis (ou descartáveis) pelo bem da economia.A politica de
saúde pública em diversos países defende consistentemente a eugenia como parte de uma promessa de "voltar ao
normal".
O fracasso dos Estados Unidos em proteger pessoas
vulneráveis da covid é evidente nos comentários da diretora do CDC, Rochelle
Walensky, de 7 de janeiro de 2022 : "O número esmagador de mortes, mais de
75%, ocorreu em pessoas que tinham pelo menos quatro comorbidades”.
Os comentários de Walensky causaram indignação generalizada
na comunidade de deficientes, que continuam a observar o discurso de que as
mortes são infelizes, mas inevitáveis. Pior : existe uma temática contínua para
convencer o público de que implementar medidas simples (uso de máscaras ,
ventilação de ambientes , isolamentos adequados) para proteger aqueles mais
susceptíveis seria um fardo muito grande.
Numa inércia expectante, os governos oferecem à comunidade
de alto risco pouco mais do que uma regurgitação de sua estratégia de vacinação
que se se baseia em vacinas desatualizadas e muitas vezes desacreditadas. As
intervenções não farmacêuticas são muito menos eficazes quando apenas alguns
membros da comunidade as utilizam.Ao permitir que a escolha pessoal guie o
comportamento de saúde pública condiciona as pessoas a acreditar que tudo está
bem , a pandemia está acabando
Duas das "ferramentas" farmacêuticas disponíveis,
o medicamento Paxlovid e o anticorpo monoclonal Evusheld , foram indicados para
pessoas de alto risco quando lançados em Dezembro , e são absolutamente mal
distribuídos pelo mundo se tornando inacessíveis para muitos na população de
alto risco. Dados recentes do Evusheld mostram que é marcadamente menos eficaz
contra as subvariantes do Omicron, e evidências crescentes sugerem que um curso
de cinco dias de Paxlovid pode não ser suficiente para eliminar algumas
infecções, contribuindo para a recaída do Covid-19 . Pessoas doentes,
deficientes e imunocomprometidas ficaram sem nada em que confiar, a não ser na capacidade de navegar em um sistema que é
indiferente às suas mortes.
O mundo parece trabalhar arduamente para convencer as
pessoas de que a morte de pessoas vulneráveis é um subproduto aceitável da
expressão de suas liberdades civis . De forma asquerosa alguns políticos vêm a
publico em gestos performáticos de pena por seus cidadãos.
Também existe um ocultamento de riscos que a covid
representa para pessoas saudáveis. Não só o público foi convencido de que é
razoável voltar ao "normal" por conta e risco dos vulneráveis, mas
também foi convencido de que é razoável voltar ao normal por sua conta e risco.
Em maio de 2021, o CDC não recomendava mais máscaras para pessoas vacinadas,
apesar do aumento da variante Delta altamente contagiosa na Índia e no Reino
Unido. Em julho de 2021, o presidente dos EUA alegou que as pessoas vacinadas
não pegariam o Covid-19 e, em outubro de 2021 , afirmou que as pessoas
vacinadas não transmitiriam o vírus. Nenhuma dessas afirmações é verdadeira ,
mas os comentários permitiram que as pessoas vacinadas baseassem seu
comportamento em uma avaliação (desinformada) de sua própria segurança, em vez
da segurança de suas comunidades. Com a permissão oficial, grande parte do
público abandonou as máscaras e distanciamento, que anteriormente eram
entendidos como uma responsabilidade cívica.
Embora o CDC tenha finalmente publicado de que uma em cada
cinco pessoas que contraem a covid pode evoluir para sintomas arrastados (covid
longa) , os dados que deveriam ter acionado alarmes foram amplamente ignorados.
Foi feito pouco esforço para educar o público sobre o fato de que mesmo um caso
leve de Covid-19 pode levar a complicações potencialmente devastadoras de
vários órgãos e sistemas, incluindo as do coração , cérebro e pulmões .
A orientação parece ser a de propagar o mito de que a
pandemia acabou para quem deseja. Talvez o ato de negligência mais horrível
deste momento seja a recusa em reconhecer que abandonar algumas medidas de
propagação do vírus é o que garante o ciclo contínuo de morte e sofrimento da
pandemia. É devastador ver o público usar a (des)orientação criminosa de muitos
governos como desculpa para desvalorizar vidas vulneráveis . Acabar com as
proteções de saúde pública porque pessoas doentes e deficientes estão morrendo
desproporcionalmente de Covid-19 é, inquestionavelmente, eugenia .
Infelizmente caminhamos para uma situação onde a eugenia não
é apenas uma escolha política monstruosa. É um ideal. A noção de que a escolha
individual pode de alguma forma substituir a política de saúde pública foi
perfeitamente integrada à doutrina do excepcionalismo profundamente enraizada
em vários países ocidentais. A urgência de voltar ao normal substituiu o
imperativo moral de proteger os outros da morte e da invalidez. Esse
desrespeito aberto pela vida humana foi apresentado como uma obrigação de
respeitar as "escolhas" de cada um. Mas ter uma doença crônica e
sistema imunológico comprometido durante uma pandemia não é uma escolha. A
morte e o sofrimento foram normalizados em uma extensão tão horrível que agora
se espera que os vulneráveis permaneçam "civis" ao pedir para não
ser descartado para que outros possam manter intactos os planos sociais. O
vácuo moral do momento atual é chocante.
Aqueles em alto risco foram deixados à própria sorte. A
maioria está se escondendo em casa. Muitos foram forçados a renunciar a
cuidados médicos essenciais, isolar-se das famílias e redes de contatos. Nosso mundo
abandonou sua responsabilidade de proteger os cidadãos, culpando seus fracassos
nos próprios indivíduos. Mas, como a história recente nos mostrou, as pessoas
mais vulneráveis em nossa sociedade, apesar de se comportarem de forma mais
responsável individualmente, são as que mais sofrem .
A saúde pública depende do compromisso coletivo e compassivo
do público. Em nosso momento atual, conta com o compromisso da população de
responsabilizar quem está no poder. Até que o público exija responsabilidade
daqueles que estão no poder e uns dos outros, certamente não estamos nisso
juntos.
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