terça-feira, 9 de agosto de 2022

produção em série

 

Para uma promessa de infinitas extensões de informação,a possibilidade de que o alcance da mente poderia ser ilimitado, a internet e suas metastáticas rede sociais vem se mostrando uma ferramenta de contrastes cujo desfecho parece evoluir para o incontrolável...

A vida online ficou mais rápida, mais superficial, mais acusadora ,mais viciante. Estamos plugados num pouco de tudo o tempo todo. Os smartphones  estenderam as conexões para todos os lugares, intercambiando momentos antes nunca concebidos.

As repercussões coletivas são piores.Se prestarmos atenção será possível notar expressões e comportamentos que se repetem no social. A atenção vem perdendo espaço para a abstração. Uma insaciedade toma conta das expectativas que se avolumam no dia a dia , nas inúmeras e fúteis mensagens que nos chegam , no compromisso prescrito com o desempenho. A conexão é a maior droga da contemporaneidade . A fome que assola a maioria e que só aumenta numa proporção inigualável. Os cérebros estão à deriva no oceano denso de clicks , notificações , likes e checagens. A estratégia do compromisso de validação pessoal une a tribo. A todo instante ecoa o som de uma batida de tambor : Você existe. Você é visto .

A idiotia tecnológica caracteriza a adesão ás mídias : a exploração narcísica , tão primária no humano , é o imã da atração. Posto , portanto existo.

Os meios passaram a valer mais do que o conteúdo. Regras muito bem atreladas a objetivos de anular a diferença governam toda a criação e consumo , anulam o surgimento da espontaneidade, mudam as pessoas e a sociedade.Estamos “pensando” como multidão.

Num livro profético de 1985, “Amusing Ourselves to Death”, Neil Postman argumentou que a distopia que devemos temer não é o totalitarismo de “1984” de George Orwell, mas a sonolência narcotizada de “Admirável Mundo Novo” de Aldous Huxley. Estamos diante de uma cultura que é estampada por sua produção de trivialidades.

Somos transformados pelos meios que usamos.Não deixa de ser assustador observar que os comportamentos transgrediram algumas convenções clássicas . Instigados pelo modismo endêmico adolescentes publicam fotos pessoais para avaliação pública. A privacidade e os momentos de intimidade são expostos como uma nudez da personalidade . A maneira como o Instagram funciona está mudando a forma como os adolescentes pensam. Está sobrecarregando sua necessidade de aprovação de sua aparência, do que dizem e do que estão fazendo, tornando-os sempre disponíveis e nunca suficientes.

Nós moldamos nossas ferramentas para depois sermos moldados por elas. Como queremos ser moldados? Quem queremos nos tornar?

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