quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Estamos longe do controle da pandemia


 

O Brasil resolveu minimizar e não combater o SARS Cov 2. As consequências estão sendo pagas pela população . Dados da Imperial College de Londres, divulgados na segunda-feira (24) mostram que o número de reprodução do novo coronavírus no Brasil voltou a subir.Houve um certo alivio , há uma semana, depois do registro, da primeira queda desde abril.

O número efetivo de reprodução da infecção, conhecido como Rt, revela para quantas pessoas um infectado transmite o vírus.Esta é a ferramenta que pode ( e deveria) ser utilizada pelos gestores públicos para planejar medidas de isolamento social e também suas flexibilizações.

Indice igual a 1 significa que uma pessoa infectada transmite a uma outra pessoa. Quando o número fica acima de 1, a quantidade de doentes vai crescer exponencialmente, o que caracteriza uma epidemia. Quando o indicador fica abaixo de 1, como registrado na semana iniciada em 16 de agosto no Brasil, a tendência é que haja o desaparecimento da doença. Mas para isso o índice precisa ser mantido, algo que não aconteceu nesta semana.

Em abril, tivemos a maior taxa de contágio do mundo, de 2,81. Isso significava que cada 100 doentes transmitiam o vírus para outras 281 pessoas. Essas 281 infectavam 789, que então transmitiam para 2.217, e assim por diante, num ritmo acelerado.

O relatório do Imperial College divulgado na segunda-feira (24) afirma que a volta do aumento da taxa de transmissão no Brasil deve ser observada com cautela. Isso porque o Ministério da Saúde passou a registrar casos de infecção diagnosticados por exames de imagem, como tomografia, sem necessidade de confirmação por testes, algo que pode ter levado a um aumento atípico de notificações.

Na epidemiologia, o primeiro índice a ser calculado é o R0 (lê-se “erre zero”), que é a capacidade inerente de transmissão do vírus quando ninguém ainda se tornou imune a ele e nada foi feito para evitar o contágio. O R0 do novo coronavírus varia de 2,5 a 3. Um infectado contamina, em média, de duas a três pessoas.

Com opassar da pandemia, esse R0 varia. A mudança se deve, por exemplo, à adoção de medidas de prevenção, como o distanciamento e o isolamento social e o uso de máscaras.. O índice também leva em consideração o risco de transmissão em cada contato realizado e o tempo médio em que um doente pode transmitir o vírus.

Em seus cálculos, em vez de usar o número de casos registrados da doença, o Imperial College se baseia na quantidade de mortes, que está menos sujeita a subnotificações. A instituição estima que o Brasil registra oficialmente apenas dois terços de todos os casos de covid-19. O restante fica de fora das estatísticas por falta de testes.

A maneira como o R0 se comporta no tempo dá origem ao Rt, o número efetivo de reprodução da infecção. Ele muda constantemente, e uma variação aparentemente pequena em seu número na verdade pode significar centenas de milhares de novos casos numa cidade populosa como São Paulo.

Para os epidemiologistas, medidas de flexibilização das quarentenas só deveriam ocorrer com o Rt abaixo de 0,8 ou 0,7, por exemplo. Muitos países europeus só voltaram a reabrir atividades não essenciais 40 dias após o pico de contágio, quando a doença já estava sob controle e os indicadores vinham caindo.

No Brasil, a maioria dos estados autorizou a retomada do comércio a partir de junho mesmo com os casos e óbitos ainda em alta. Desde junho, a pandemia no país se estabilizou com uma média de mil mortos pela covid-19 por dia.

Importante lembrar que o país continua sem uma política de ampla testagem e rastreamento de contatos dos doentes. Identificar, tratar e isolar pacientes, e descobrir com quem eles entraram em contato para pôr em quarentena as pessoas mais próximas e cortar, assim, a cadeia de transmissão do vírus é justamente a maneira mais eficaz de frear a taxa de contágio.



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