segunda-feira, 31 de agosto de 2020

o valor de se usar uma máscara

 Podemos partir de uma premissa : o uso de máscaras pode , em parte , ser um substituto para os lockdowns.

As pessoas se sentiriam mais encorajadas a usarem o transporte público , o comércio poderia não sofere tanto as consequências da instabilidade etc.

O banco Goldman Sachs fez uma análise sugerindo que um aumento em 15% no uso de máscaras em geral pela população poderia reduzir o crescimento diário de casos de COVID em 1%.

Medidas de lockdown têm demonstrado subtrair 5% do PIB dos países.

A revista the Economist foi além : de acordo com sua análise , um cidadão americano usando uma máscara por dia estaria contribuindo para economizar o valor de 56,14 dólares deduzidos do PIB. Nada mal para um procedimento que pode custar 50 centavos de dólares a unidade .

Esses benefícios econômicos demonstram que os governos deveria incentivar mais as pessoas a usarem máscara. Em outros países o cálculo é tambem intrigante : na Inglaterra o custo de não se usar máscaras é de £100-3,200 (130-4,200 dólares).Talvez os governos deveriam ir mais além : pagar para as pessoas usarem. Os beneficios econômicos seriam enormes


domingo, 30 de agosto de 2020

uma corrida nada científica em busca de uma vacina contra o COVID 19

 


Estamos em busca de uma vacina para COVID-19,mas precisamos de uma que seja não somente eficaz, mas tambem segura.

Vacinas são uns dos produtos médicos de maior segurança.Isso acontece por causa do intenso rigor empregado durante os ensaios clínicos que testam sua segurança e eficácia. No caso do COVID , podemos acelerar muito o processo mas não podemos pular etapas fundamentais.

No momento (Agosto 2020) 9 vacinas estão na fase 3 dos testes. Ou seja , o momento em que se determina a proteção e os efeitos colaterais mais comuns. Somente após os resultados podemos atestar sua real segurança e mesmo assim efeitos adversos raros podem passar desapercebidos

Infelizmente existe um grande risco de governantes priorizarem a política no lugar da saúde pública, aprovando uma vacina ineficaz ou insegura – sem uma avaliação rigorosa dos dados da Fase 3.

Isso já aconteceu na China com a aprovação da vacina da Cansino e na Rússia com a Sputnik V.

Nos EUA, Trump precisa de uma vacina antes das eleições de novembro e a pressão para a aprovação  antes de terminarem a Fase 3 é grande. O FDA anunciou uma reunião "extra" em outubro p rever dados de uma vacina q está ainda na metade da Fase 3.Isso é sintomático e danoso.

Nos últimos dias temos visto promessas como essa aqui no Brasil. Para aqueles que conhecem o processo de testagem/distribuição de uma nova vacina sabem q isso é impossível - a menos q etapas importantes na testagem da vacina estejam sejam puladas.

A industria produtora de vacina sabe que a primeira que receber aprovação vai sair na frente. Para politicos isso rende bastante votos.

Para a ciência , liberar uma vacina com dados incompletos de Fase 3 seria desastroso. Quais seriam os riscos? As primeiras vacinas não serão necessariamente as melhores – são as mais fáceis e rápidas de produzir. Muitas das plataformas das vacinas em desenvolvimento são tecnologias novas, não testadas anteriormente em nenhuma outra. Isso requer um rigor de segurança ainda maior.Os possíveis efeitos adversos de uma vacina p COVID sem passar por todos os testes de segurança são inúmeros. Um dos mais importantes é o risco da vacina produzir um tipo de reação imune q torna uma exposição subsequente ao vírus mais perigosa.

Essa primeira vacina será administrada a milhões de pessoas.Mesmo um efeito adverso grave raro - 1/10.000 - em 1 bilhão de pessoas vacinadas, serão 100.000 pessoas afetadas. Não podemos correr esse risco.

Vacinas já nos salvaram de vários flagelos como sarampo, polio e varíola. Vacinas salvam no mínimo 3 milhões de vidas/ano!  Liberar a vacina precocemente pode diminuir a confiança do público, alimentar o movimento anti-vacina e comprometer os programas de imunização.


sábado, 29 de agosto de 2020

Uma vacina intranasal para o COVID



 O objetivo primário de uma vacina contra o COVID-19 é não permitir que as pessoas adquiram a infecção e fiquem doentes. Mas existe outro foco : prevenir a disseminação da infecção e isto não está bem claro com as vacinas atualmente em testes que saõ aplicadas em via intramuscular.

 No momento , alguns pesquisadores pensam em resolver este problema com uma vacina aplicada em forma de spray nasal .A lógica seria que uma vacina seguisse os passos iniciais de uma infecção natural. Um vírus respiratório tipicamente inicia seu infectividade atingindo células do nariz e da garganta.

A vacina aplicada por via nasal oferece um outro tipo de imunidade que ocorre primariamente nessas células. Um tipo de imunidade local e também sistêmica que protegeria o individuo imediatamente de continuar transmitindo o vírus.

O estudo foi publicado na revista Cell de 19 de Agosto e mostrou que uma simples dose intranasal induziu altos títulos de anticorpos neutralizantes e resposta de células T e Iga de mucosa.

 


quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Negação e conformismo na pandemia


 

O governo Bolsonaro busca difundir mensagens otimistas com relação à covid-19 sempre desviando o foco, preferindo falar em exagero e “histeria”, em vez de enfrentar a gravidade da situação.

Foi patética a estratégia da Secretaria de Comunicação do governo , em Maio , que passou a focar em “dados positivos”, como estatísticas sobre pessoas que haviam se recuperado da covid-19, em vez de refletir sobre o número de mortos.Um dos efeitos destas posturas repulsivas foi avaliado por uma pesquisa realizada pelo Insper, em abril : pessoas tendem a se expor mais à infecção depois de ouvir uma mensagem "positiva" sobre a pandemia.

No desenrolar desta tragédia que norteia as ações de um governo fascista a população permeia por uma fadiga sem precedentes.

A maioria das pessoas não estão mais aguentando permanecer em isolamento, mesmo porque o propósito deste implica numa tarefa social, grupal , uma ciranda que só funciona se todo mundo der a mão. Na medida em que alguns vão saindo e você vai ficando sozinho, não tem mais roda de ciranda. Perde-se a crença na possibilidade de contar com o outro e aí cada um passa a se voltar para si próprio.

Surge uma ideia de otimismo ao se achar que a curva de casos já alcançou seu ápice.Porém se esquece que a descida implica em milhares de mortes.Vive-se em constante negação desse fato e uma dificuldade de pagar o preço por se abster da vida pública em nome das mortes que virão. Pode ser pensado como conformismo: já que muitos morrerão mesmo, não adienta fazer nada.

Há uma tentativa do governo em plantar um otimismo sem base, sem nenhuma referência.

Nós podemos ser otimistas com relação a coisas que podemos fazer de modo diferente, das quais temos algum indício, alguma fundamentação. Quando esse otimismo se torna uma experiência totalmente irreal, estamos na ordem do delírio, da negação, da impossibilidade de ler os sinais dos acontecimentos, da falta de crítica.

Acreditar que a situação da pandemia está melhorando enquanto milhares continuam morrendo reflete uma crise de empatia na sociedade

Não fomos aprovados no teste do pensamento pelo bem comum, da ideia de se privar em nome do outro, de todos.Começamos o isolamento com certo sentido cívico mas não foi suficientemente bem feito por razões que dizem respeito também ao governo com exemplos discordantes do que era esperado cientificamente.

A fadiga foi consequência da perda das forças de quem tinha que abrir mão de algo.E ficou claro que, como sociedade, demonstramos uma grande dificuldade em pensar no outro, em se pensar como um país, como um coletivo. Continuamos sendo um país no qual o individualismo é uma marca central..


Estamos longe do controle da pandemia


 

O Brasil resolveu minimizar e não combater o SARS Cov 2. As consequências estão sendo pagas pela população . Dados da Imperial College de Londres, divulgados na segunda-feira (24) mostram que o número de reprodução do novo coronavírus no Brasil voltou a subir.Houve um certo alivio , há uma semana, depois do registro, da primeira queda desde abril.

O número efetivo de reprodução da infecção, conhecido como Rt, revela para quantas pessoas um infectado transmite o vírus.Esta é a ferramenta que pode ( e deveria) ser utilizada pelos gestores públicos para planejar medidas de isolamento social e também suas flexibilizações.

Indice igual a 1 significa que uma pessoa infectada transmite a uma outra pessoa. Quando o número fica acima de 1, a quantidade de doentes vai crescer exponencialmente, o que caracteriza uma epidemia. Quando o indicador fica abaixo de 1, como registrado na semana iniciada em 16 de agosto no Brasil, a tendência é que haja o desaparecimento da doença. Mas para isso o índice precisa ser mantido, algo que não aconteceu nesta semana.

Em abril, tivemos a maior taxa de contágio do mundo, de 2,81. Isso significava que cada 100 doentes transmitiam o vírus para outras 281 pessoas. Essas 281 infectavam 789, que então transmitiam para 2.217, e assim por diante, num ritmo acelerado.

O relatório do Imperial College divulgado na segunda-feira (24) afirma que a volta do aumento da taxa de transmissão no Brasil deve ser observada com cautela. Isso porque o Ministério da Saúde passou a registrar casos de infecção diagnosticados por exames de imagem, como tomografia, sem necessidade de confirmação por testes, algo que pode ter levado a um aumento atípico de notificações.

Na epidemiologia, o primeiro índice a ser calculado é o R0 (lê-se “erre zero”), que é a capacidade inerente de transmissão do vírus quando ninguém ainda se tornou imune a ele e nada foi feito para evitar o contágio. O R0 do novo coronavírus varia de 2,5 a 3. Um infectado contamina, em média, de duas a três pessoas.

Com opassar da pandemia, esse R0 varia. A mudança se deve, por exemplo, à adoção de medidas de prevenção, como o distanciamento e o isolamento social e o uso de máscaras.. O índice também leva em consideração o risco de transmissão em cada contato realizado e o tempo médio em que um doente pode transmitir o vírus.

Em seus cálculos, em vez de usar o número de casos registrados da doença, o Imperial College se baseia na quantidade de mortes, que está menos sujeita a subnotificações. A instituição estima que o Brasil registra oficialmente apenas dois terços de todos os casos de covid-19. O restante fica de fora das estatísticas por falta de testes.

A maneira como o R0 se comporta no tempo dá origem ao Rt, o número efetivo de reprodução da infecção. Ele muda constantemente, e uma variação aparentemente pequena em seu número na verdade pode significar centenas de milhares de novos casos numa cidade populosa como São Paulo.

Para os epidemiologistas, medidas de flexibilização das quarentenas só deveriam ocorrer com o Rt abaixo de 0,8 ou 0,7, por exemplo. Muitos países europeus só voltaram a reabrir atividades não essenciais 40 dias após o pico de contágio, quando a doença já estava sob controle e os indicadores vinham caindo.

No Brasil, a maioria dos estados autorizou a retomada do comércio a partir de junho mesmo com os casos e óbitos ainda em alta. Desde junho, a pandemia no país se estabilizou com uma média de mil mortos pela covid-19 por dia.

Importante lembrar que o país continua sem uma política de ampla testagem e rastreamento de contatos dos doentes. Identificar, tratar e isolar pacientes, e descobrir com quem eles entraram em contato para pôr em quarentena as pessoas mais próximas e cortar, assim, a cadeia de transmissão do vírus é justamente a maneira mais eficaz de frear a taxa de contágio.



Síndrome pós COVID


Muitos pacientes que saem da fase aguda do COVID 19 experimentam uma gama de persistentes sintomas que incluem exaustão , falhas na memória , dores musculares e de cabeça , astenia entre outros que podem durar semanas ou até meses

Especialistas em doenças infecciosas ja têm experiência com quadros semelhantes que podem suceder algumas infecções agudas . O nome atribuído a estes sintomas, na maior parte das vezes de carater subjetivo, é encefalomielite mialgica.

O numero cada vez maior de pacientes é mais um dos efeitos imprevisíveis da doença muitas vezes negligenciados pelas autoridades em saúde.

Este quadro clínico ainda é pouco compreensível em termos de patogenia , fatores predisponentes , diagnóstico preciso e consequentemente tratamento.

O nome "encefalomielite mialgica" foi cunhado nos anos 50 após um surto de uma doença infecciosa em Londres que acarretava complicações de longo prazo. Na época , nenhum patógeno foi identificado. Na metade dos anos 80 , um surto similar ocorreu na localização de Lake Tahoe , nos Estados Unidos, e o CDC rotulou a doença como síndrome da fadiga crônica, tendo o nome sendo bastante utilizado para explicar sintomas gerais que ocorreriam após algumas infecções agudas como a Mononucleose infecciosa.

Estima-se que cerca de 2,5 milhões de americanos tenham essa complicação,na maioria das vezes diagnosticada incorretamente.

A sintomatologia principal não é a fadiga mas uma prolongada exaustão associada a disfunções cognitivas que se agravam diante de mínimas atividades físicas (mal estar pós esforço).

Com muita frequência os pacientes não saõ entendidos em seu sofrimento sintomático pelos médicos e até mesmo familiares.São tratados como ansiosos ou depressivos e acabam recebendo medicamentos psiquiatricos.

Ainda é motivo de debates a maneira correta para melhor ajudar o paciente. Mas antes de buscar a terapia (que não existe no momento) é preciso ouvir atentamente aquilo que só quem sofre do problema tem condições de expressar.

quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Tipos de imunidade e COVID 19


 

Nestes quase 8 meses de discussão sobre o SARS Cov 2 , o tema da imunidade é um dos que mais desperta debates. Vou fazer um resumo do que aprendemos e discutir os novos termos de definição de resposta imunológica.

Quais são os tipos de imunidade ?

1. Imunidade "esterelizante" .

Esta seria o melhor cenário : um sistema imune capaz de uma resposta definitiva e que protegeria o paciente indefinidamente. A resposta imune é robusta e duradoura . Um exemplo : o sarampo.Raramente se viram novas infecções em um paciente previamente exposto.
Más noticias em relação ao COVID 19 : vírus que infectam as mucosas do nariz e da garganta não induzem a este tipo de defesa

2. Imunidade funcional

Este parece ser o cenário mais provável em relação ao novo coronavírus. O sistema imune é estimulado pela infecção ou vacinação e passa a reconhecer o vírus se novamente exposto. Normalmente haveria uma proteção de não se infectar ou então de se ter uma nova infecção inaparente ou leve. O debate é saber por quanto tempo esta proteção duraria . Então o fato de alguem ser reinfectado não seria surpreendente mas isto não levaria a uma nova doença . Porém com o pouco tempo de estudo sobre o comportamento do vírus muitas respostas estão ainda pendentes.

3. Imunidade minguante

O terceiro cenário é a chamada imunidade minguante.Neste caso as pessoas infectadas ou vacinadas perdem sua imunidade com o passar do tempo. Mas, se forem expostas novamente , os sintomas podem ser mais leves. Este padrão é visto nos coronavírus que causam o resfriado comum.Os pacientes podem ser reinfectados por estes vírus num curto espaço de tempo.

4. Imunidade perdida

Neste caso a pessoa infectada perde sua munição imune em algum prazo de tempo . Uma nova exposição seria como a primeira , com todo risco inerente. Nenhum expert em imunologia pensa no COVID 19 desta forma.

De acordo com o que aprendemos até aqui as pessoas infectadas devem ter uma queda na sua imunidade especifica com o passar do tempo.Nosso sistema imune irá saber como lidar com isso. Esperamos que seja da melhor forma possível.



terça-feira, 25 de agosto de 2020

o legado do COVID 19

 Este é o nosso mundo , o legado que teima em persistir. Nos posicionamos complacentes em filas com espaço de 2 metros ; nos comunicamos com nossos pais idosos ou avós à distância enquanto deixamos algumas compras estratégicamente em suas portas ; nos distanciamos o máximo que nossa mobilidade permite ; sempre precisamos encontrar uma máscara antes de sair de casa.

Fotografias de escolas que tentam reabrir na França mostram crianças separadas por uma demarcação no chão delimitando um espaço que elas absolutamente não reconhecem.

 Abraços ou aproximações são proibitivos.Um simples toque fisico é censurado imediatamente.Este é o cenário que as crianças estão vivenciando do relacionamento entre cada um e com a sociedade.

E ainda temos as possibilidades incertas dos casamentos , funerais , aniversários que inverteram seus papéis de congraçamento para um distanciamento.Quem imaginaria um futuro com este espectro de distopia ? Qual ficção científica ousou chegar próxima deste cenário ? 

Enquanto o páis escolhe o caminho do descontrole da epidemia , os números enfraquecem na sua tarefa de comoção , o exercício do egocentrismo impede que as medidas tomadas por muitos se dissolvam na inutilidade , não estamos compreendendo o mais grave : o legado da pandemia será incalculável.

Poucos têm se voltado para a sequela inmensurável desta sociedade que está se formando. Reclusa na sua redoma de incertezas e temerária do outro.  


domingo, 23 de agosto de 2020

a fábrica das fake news

 

Leda Gitahy, professora do Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT) Instituto de Geociências (IG) da Unicamp é uma das coordenadoras do Grupo de Estudo da Desinformação em Redes Sociais (EDReS).

Segundo ela : as mensagens que viralizam nas nossas redes sociais não tem a espontaneidade que aparentam.São cuidadosamente construídas, usando estratégias de marketing e contam com uma base de lançamento estruturada, o que possibilita sua difusão rápida e articulada.

No caso do COVID 19 , desde o início da pandemia este mecanismo tem se utilizado de narrativas de negação da doença , procurando minimizar sua capacidade de transmissão ou letalidade além de propor curas milagrosas.

O objetivo é a total desregulação das instituições democráticas com base no fundamentalismo de formas religiosas, econômicas ou políticas.E este é o grande problema : qualquer tipo de fundamentalismo se afirma pela negação do outro e quem pensa diferente se transforma em inimigo.

Tudo isso fragiliza a sociabilidade, provocando conflitos mesmo entre as pessoas que mantêm vínculos afetivos fortes.

Segundo Leda Gitahy, a narrativa desenvolvida pelo ecossistema da desinformação tem passado por diferentes fases desde o início da pandemia.

A primeira fase teria sido de negação da existência da doença, de sua capacidade de transmissão e de sua letalidade. "No início, as mensagens diziam que não era nada, que não existia doença ou que era só uma gripezinha. As mensagens eram contra o isolamento e contra qualquer medida de segurança", afirma. Como exemplo dessa fase a professora cita o vídeo do Ministro da Defesa de Israel, Naftali Bennett, que circulou no Brasil sem data e com legendas em português. Nele, o ministro minimiza os impactos da Covid-19 e afirma que a única coisa importante é isolar os idosos. "Aquele personagem existe. A fala é verdadeira. Mas no momento em que está sendo divulgada aqui, Israel já estava em lockdown", pontua.

A fala do ministro, mesmo sendo verdadeira, se deslocada do seu contexto, torna-se parte do ecossistema da desinformação. Por isso, ela prefere evitar o termo fake news, por acreditar que ele não é adequado entender a complexidade do cenário informacional. "Existem coisas que não são articuladas, que tem a ver com pessoas assustadas, confusas, que gravam qualquer coisa. Mas existem mensagens divulgadas com objetivo de desinformar, com objetivo político, com intenção, em ações claramente articuladas. Distinguir cada uma delas é fundamental para compreender o funcionamento do ecossitema".

A segunda fase da narrativa identificada durante a pandemia é a dos "remédios mágicos". São tratamentos de todos os tipos, de chás a fármacos, que prometem a cura da Covid-19.

A Cloroquina começa a se popularizar nessa fase, circulando no WhatsApp com imagem da versão brasileira do remédio e o slogan "O remédio do Trump". Não é a 'indústria que faz Cloroquina' que está por trás dessas mensagens. Elas estão mais ligadas a sede de certos políticos em anunciar a cura", explica. A pesquisadora ressalta ainda que o que move o ecossistema da desinformação são sempre tramas de interesses, que envolvem diferentes tendências políticas e interesses comerciais. "Há prefeitos de todos os partidos distribuindo coquetéis. Há fornecedores interessados que vendem para essas prefeituras. É sempre uma trama de interesses, não é um único agente", afirma. A defesa de remédios sem comprovação científica como, como a Cloroquina e a Ivermectina, entre outros, como solução para o coronavírus, esteve também vinculada a uma pseudo "defesa da economia", em sua falsa oposição ao isolamento social. 

Para Leda, a desinformação tem na nossa falta de atenção sua principal aliada. "As pessoas compartilham sem ler, sem assistir até o fim os vídeos, sem refletir sobre o significado daquilo, sobre o que aquilo está querendo dizer. Encaminham rápido e porque combina com sua ideia política no momento. E isso acontece com tendências políticas de todas as cores".


sexta-feira, 21 de agosto de 2020

O controle de sucesso do COVID 19 na Mongólia

 




A Mongólia foi alertada sobre a presença de um novo vírus na China na passagem de ano 2019-2020. A primeira medida a ser tomada , no dia 10 de Janeiro , foi a orientação para que toda a população passasse a usar máscaras.

O país não tem um eficiente sistema de saúde pública (poucos respiradores , por exemplo). Desta forma seu governo temia o estrago que o novo coronavírus poderia causar no país.Todos precisavam , portanto , estar preparados para o pior

Outra grande motivação : o país tem a maior fronteira do mundo com a China : 4.600 kms além de um fluxo de pessoas intenso entre os dois países.


A Mongolia tem um grande território com uma população bastante esparsa : cerca de 3,2 milhões de pessoas.

O clima é bastante seco e frio e , a cada ano ,de Novembro a Fevereiro, o país enfrenta a sua temporada de Influenza.O ministério da Saúde encoraja sua população a praticar hábitos de higiene , lavar as mãos , especialmente entre crianças mais jovens. 

Desde janeiro testes diagnósticos são feitos com apoio da OMS.Nenhum caso foi mais registrado desde 9 de Março.Um grande programa de rastreamento tambem foi aplicado a partir de casos identificados

Um folclore sobre o povo da Mongólia é que a população se alimenta de forma saudável e tem um estilo de vida nômade e que portanto teria uma imunidade natural.Porém a implantação das medidas de isolamento e cuidados na transmissão forma fundamentais também para a diminuição da Influenza (um problema sério todos os anos) 

Ainda hoje nos locais publicos a mascara é exigida. O estado de alerta continua.As fronteiras são rigorosamente controladas.As escolas voltam em Setembro.

Como a Suécia enfrenta o COVID 19

 


A Suécia registrou seu maior indice de mortalidade em 150 anos nesta primeira metade de 2020. 

Entre Janeiro e Junho, 51.405 óbitos foram notificados -- mais de 6.500 - ou 15%- comparando o mesmo período em 2019.

Este é o maior número desde 1869, quando o pais foi abatido pela fome e 55.431 pessoas morreram.
Muito diferente de outros países a Suécia não implantou um lockdown quando a pandemia se espalhava pela Europa. Pelo contrário ,houve uma orientação para a responsabilidade pessoal com a maioria dos bares,escolas,restaurantes permanecendo abertos.
A despeito desta abordagem,somente 7.3% das pessoas em Estocolmo desenvolveram anticorpos num inquérito sorológico realizado no final de Abril - bem abaixo da pretensiosa e absurda proposta de se atingir a taxa de 70% necessária para a chamada imunidade de rebanho.
Boa parte da crítica sobre este enfrentamento foi diante do numero de mortes qua aconteceram em casa,principalmente em residências para idosos
O país também tem pago um pesado preço por sua postura.O turismo foi seriamente afetado assim como os bens de exportação (cerca de 50% da economia). 5% dos empregos foram perdidos.
O grande contraste ficou pela maneira como os outros países nórdicos enfrentaram a pandemia.Absolutamente de sucesso. 

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

crianças e COVID

 


Enquanto os planos de reabertura de escolas são discutidos em todo mundo , um estudo nos ajuda a refletir sobre a relação entre o SARS Cov 2 e a população infantil. Acaba de ser publicado no Journal of Pediatrics.
Crianças de 0 a 22 anos com suspeita de COVID 19 que procuraram os cuidados do Massachusetts General Hospital foram avaliadas para comporem o estudo.
Um total de 192 crianças (média de idade de 10.2 anos) foram o publico alvo do trabalho.
49 crianças (26%) foram diagnosticadas com infecção pelo SARS-CoV-2
Destas , 25 (51%) tiveram um quadro agudo com febre e outros sintomas inespecificos. A carga viral foi maior nos primeiros dois dias de sintomas e significativamente maior do que pacientes adultos hospitalizados com doença grave.
A idade não impactou na carga viral mas as crianças mais jovens tiveram detecção tambem menor dos receptores ACE2 , resposnáveis pela expressão do vírus.
Anticorpos IgM e IgG estavam aumentados com uma resposta imunológica desregulada.
A conclusaõ deste estudo revela que as crianças podem ser uma fonte potencial de contágio a despeito de apresentarem menos sintomatologia ou serem assintomáticas

terça-feira, 18 de agosto de 2020

Novidades sobre anticorpos na COVID 19




O jornal JAMA acaba ( em 18 de Agosto) de publicar um estudo feito em Shangai sobre a evolução na produção de anticorpos em pacientes com COVID 19

O que foi observado : altos títulos de anticorpos foram vistos em homens mais idosos mas isso não foi acompanhado de melhor resposta clínica.Foi exatamente esta categoria que teve pior desfecho clínico sugerindo que altos títulos de anticorpos não necessariamente levam a maior taxa de recuperação.

O estudo avaliou apenas pacientes com doença leve que sobreviveram,desta forma não foi possível correlacionar níveis de anticorpos com prognóstico.Não sabemos se certos grupos vão necessitar de altos títulos para ter melhor desempenho clinico.

Tambem não ficou claro se a produção de altos níveis de anticorpos, geralmente visto como um indicador intermediário do sucesso de uma vacina, irá resultar em maior proteção contra o vírus.

10 de 175 pacientes não tiveram anticorpos detectáveis apesar de infecção documentada. Esses seriam suscetíveis a uma futura infecção ou eles teriam uma proteção baseada nas células T ou células B de memória? 


segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Sete meses de COVID : o que ainda não aprendemos

 What we know - illustration


Há 7 meses o mundo foi apresentado a um novo e perigoso coronavírus.Desde que os chineses confirmaram a rápida disseminação da doença em Wuhan e sequenciado seu genoma, uma enorme quantidade de informações foram geradas sobre o SARS-CoV-2 mas são enormes as dúvidas que nos atormentam. Algumas delas :

1. Quem já teve a doença está protegido de nova infecção e por quanto tempo ?

O que se pressupõe é que no caso do Covid-19, como em outras infecções , teríamos o desenvolvimento de imunidade que conferiria proteção á reinfecção.Mas não sabemos exatamente quanto tempo esta proteção duraria. Alguns casos de reinfecção têm sido relatados.Pesquisadores têm demonstrado que a maioria das pessoas apresentam uma resposta imune envolvendo anticorpos e células T. Mas também alertam para a possibilidade que esta resposta caia com o tempo.

2. Se a imunidade não perdurar : como seriam as reinfecções ?

A maioria dos vírus respiratórios não induzem imunidade duradoura.Portanto , é possível sim que no as pessoas possam ter mais de uma infecção. Experiências com outros coronavírus - causadores do resfriado comum - suportam essa idéia.Um estudo feito na Noruega acompanhou pacientes por décadas medindo seus anticorpos a 4 coronavírus ligados ao resfriado procurando por mudanças que poderiam indicar nova infecção. Foi visto que a reinfecção pode ocorrer dentro de um ano da primeira.Alguns cientistas teorizam que na infecção subsequente o sistema imune pode responder mais rapidamente levando a quadros mais leves. Se for verdade para o SARS-CoV-2 ,novas exposições poderiam ser de carater mais brando.

3. A quantia de vírus importa na hora da transmissão ? 

Para muitos patógenos a questão da infecção não é se o paciente está imune ou não : depende muito mais da quantia de microorganismo que for inoculado.Esse fenômeno é conhecido como dose minima infecciosa. Alguns patógenos tem uma dose baixa : por exemplo ,a E. coli 0157, uma perigosa bactéria transmitida pela alimentação, necessita de pouco inóculo para causar doença.

Qual é a dose de SARS-CoV-2 ? Esta é uma resposta a ser obtida

4. Quantas pessoas já foram infectadas ?

Neste inicio do mês de Agosto de 2020 existem 21 milhôes de casos no mundo , muito menos do que o real numero 

Problemas com testagem, sua baixa disponibilidade,têm contribuído para o sub diagnóstico.Um numero aproximado é obtido através de estudos de soroprevalência - pesquisa de anticorpos numa determinada população.Um estudo recente do CDC estima que o numero de infecções seja cerca de 10 vezes maior.Isso poderia levar a cerca de 20% das pessoas a terem uma potencial imunidade ao Covid-19. 

5. Porque algumas pessoas adoecem e outras não ? 

O Covid-19 pode variar amplamente em relação ao quadro clínico : de formas assintomaticas a sintomas graves.Existem alguns fatores bem definidos que predispõem a doença mais grave: idade , comorbidades , doenças imunológicas etc.Mas casos que levam ao óbito são também vistos em pessoas aparentemente saudáveis.Pesquisadores têm estudado diferenças genéticas enquanto outros buscam a resposta na tipagem sanguínea , por exemplo.

Uma nova hipótese vem sendo discutida nos últimos dias : talvez metade da população tenha um sistema imune de células T gerado em resposta a um outro coronavírus previamente (como o do resfriado comum) capaz de reconhecer o SARS-CoV-2.Essa imunidade cruzada reativa poderia servir como um "boost" contra sintomas graves.


Diagnóstico do Covid pela saliva

 



O FDA ( Food and Drug Administration ) autorizou , de modo emergencial o uso de um novo teste para Covid-19 que pode resultar numa grande expansão dos métodos diagnósticos.

Muito mais barato,o SalivaDirect foi desenvolvido por pesquisadores da Yale School of Public Health . Ele é realizado através de amostra de saliva coletada em um recipiente estéril.É um procedimento bem menos invasivo que o tradicional PCR.A dúvida é sua capacidade de atingir níveis de sensibilidade e especificidade.

O teste dispensa o uso de reagentes e pode avaliar cerca de 90 amostras em menos de 3 horas (podendo ser maior em laboratórios que tiverem sistema de automação).

A Yale tem a intenção de providenciar protocolos abertos para laboratórios em todo mundo a fim de realizarem o procedimento.

O custo final deve ser de 10 dólares por exame.