sexta-feira, 30 de junho de 2017

Álcool : quem paga o preço ?


Os danos do álcool sobre a saúde são bem conhecidos.A ingesta de bebidas alcoólicas está entre as 5 principais causas de morte e incapacidade globalmente.Está associada a 5,9 % dos óbitos.
Infelizmente estes argumentos não parecem suficientes para os responsáveis por programas de saúde pública em tentar reduzir o seu consumo.
Dados britânicos demonstram custos diretos à economia de cerca de 32 bilhões de dólares por ano.
Muitos países tem sistema de regulação para o álcool considerados de leve intensidade : poucas dificuldades para a industria em relação à licença e taxas para o seu comércio.Ao mesmo tempo um forte marketing invade eventos musicais , esportivos e de mídia em geral.O consumo do álcool está integrado ao inconsciente britânico , segundo um editorial recente do British Medical Journal.

O que se tem observado é uma diminuição nos padrões de consumo alcoólico entre países ricos e pobres ao mesmo tempo que . absurdamente , se nota uma associação negativa nos níveis educacionais e status sócio econômico.
A Europa calcula que a maioria de seus países gaste cerca de 1,4 a 3,4 % do seu PIB com os danos do alcoolismo com perda direta de produtividade de 1%.A justificativa que é um bom negócio para os governos taxarem a industria de bebidas , falando de lucros com seus impostos , é uma falácia.A Inglaterra lucra 1,7% , portanto menos do que gasta.
Grupos não governamentais estão em busca de propostas.Alguns estudiosos do problema sugerem aumentar os impostos , estampar rótulos de advertência e instituir um preço mínimo para seu comércio.
O que entendo é que as medidas devem ser aditivas e que possam esclarecer o real dano que nos passa despercebido.
Quem escolhe o caminho do consumo de álcool tem que entender que os efeitos se estendem a muitas pessoas.Os acidentes de carro envolvendo motoristas embriagados escondem uma estatística aterrorizante.As opções , portanto , não têm apenas um direito assegurado.Tem deveres que repercutem muito mais.Não se pode subestimar a força dessa droga no nosso destino

Para quem acompanha meu blog :

neste Sábado , dia 01/07 , estarei com minha banda The Ace Rock Company no Enter Burger ( em frente ao Senai na rua Martin Luther 144) a partir das 21 horas.

até lá

quarta-feira, 28 de junho de 2017

Lealdade



No inicio do século passado , Josiah Royce , filósofo , escreveu The Philosophy of Loyalty ( a filosofia da lealdade).
Ele buscava entender porque muitas vezes a vida nos parece desprovida de sentido.Royce discutiu em seu livro uma busca que fazemos para uma causa que está além de nós mesmos.Ele pensou que isso seria intrínseco ao homem , uma necessidade.E a chamou de lealdade.

Seria uma oposição ao individualismo , que coloca seus interesses sempre à frente de quaisquer outros.Ele tinha antipatia pelo mundo egoísta.Um problema inato.
" Os seres humanos precisam de lealdade.Ela não trará apenas a felicidade , pode ser dolorosa , mas nossas vidas só terão sentido de nos despojarmos de nossa carcaça inviolável ".

A lealdade nos consola em nossa existência comum , faz com que nosso sentido de ser útil aflore.
Hoje a lealdade tem sido sinônimo de transcendência para alguns filósofos.

Infelizmente , demoramos uma vida para buscar o prazer das coisas simples.Deveríamos objetivar mais o estado de ser do que de alcançar.
Expressar a lealdade é o que deveria nos mover em direção a uma vida de valor e propósito

sábado, 24 de junho de 2017

Um problema silencioso



Existe um problema de saúde que custa muito e afeta muitas pessoas.Chama-se não aderência à prescrição de medicamentos ( ou seja : não tomar a medicação ou tomá-la de forma errada).
Os números que vêm à tona são impressionantes : 20 a 30 % das medicações prescritas nunca são adequadamente tomadas.Em 50% das doenças crônicas , que requerem que as drogas sejam de uso contínuo , elas são inadequadamente ingeridas.Cerca de um terço dos pacientes transplantados renais não usam suas medicações anti rejeição.41% dos indivíduos hipertensos estão com o tratamento descontinuado e metade das crianças com asma não usa seus inaladores consistentemente.

Este problema é estimado em causar cerca de 125 mil óbitos e cerca de 10% das hospitalizações por ano nos Estados Unidos.E tem um custo : 100 a 289 bilhões de dólares para o sistema de saúde

O cirurgião Everettt Koop comenta que " as drogas não funcionam em pacientes que não as tomam.Isto explica , muitas vezes , que novas medicações têm resultados muito bons em fase de estudo e funcionam menos na vida real ".

A não aderência é um amplo problema e não se visualiza uma solução uma vez que existem diferentes razões para sua origem.Por exemplo : os pais interrompem o tratamento da asma de seu filho porque não gostam da idéia de manter " uma criança usando uma medicação contínuamente".
Outros paciente enxergam a droga como uma " quimica" ou um produto "não natural ".Para alguns , aderir a novos hábitos de dieta e de exercício os farão deixar de lado a necessidade de uma medicação.

Os remédios responsáveis pelo tratamento de situações silenciosas , como a hipertensão , são desprovidos de efeitos sintomáticos.Isso significa dizer que não trarão benefícios de alivio de nenhum sintoma, por isso tendem a ser descontinuados com bastante frequência.

O custo é outro ponto importante.Preços altos , quando não podem ser subsidiados , impedem até o próprio inicio de tratamento.
Diante deste panorama tão relevante esse é um desafio do médico na compreensão do seu paciente.Uma maior empatia , um controle mais acessível , uma discussão aberta e frequente podem ajudar.
Mas esbarraremos sempre na enorme diversidade do indivíduo e suas pretensões.
Esse é o problema silencioso que está por trás de toda relação médico - paciente.

sexta-feira, 23 de junho de 2017

Como ser bom


Muitos atos de bondade são praticados por egoísmo.O sociólogo Thorstein Veblen afirma que as doações beneficientes são a maneira perfeita para propagandear a própria riqueza.
Se avaliamos do ponto de vista evolutivo , a simples existência de motivações altruístas que não servem a propósito reprodutivo é totalmente condizente com a evolução biológica.Ela reage a cenários reais , momentâneos e refletem um desenvolvimento moral.Aspectos como a gentileza com desconhecidos estão ausentes em bebês e crianças pequenas.É algo que desenvolvemos , um dos comportamentos que pertencem à nossa cultura , um costume.

Somos mais influenciados pelos comportamentos que testemunhamos repetidamente.E ressalto que as crianças não elegem apenas as boas atitudes.Alguns trabalhos demonstram que elas são mais influenciadas pelos maus.
Pode-se , então , aprender a ser bom,sem necessárias motivações morais , apenas com a imitação da bondade dos outros

Dessa pequena introdução é possível aprender que nossas atitudes contam demais.

Uma maneira de refletir sobre nossos comportamentos , que está em frequente mudança , é usar o círculo moral (metáfora criada por William Lecky).Esse círculo abrange as pessoas com cujos destinos nos preocupamos , aqueles que nos são importantes.Nós somos gerados com mais afeições egoístas do que benevolentes e a função da moral é inverter esse processo.É preciso ampliar o círculo.E a força que nos move não pode ser o egoísmo.

O principal problema da humanidade é que seu desenvolvimento moral tem gerado círculos menores.
Qual o tamanho do seu ?

terça-feira, 20 de junho de 2017

Para quem precisa dizer adeus



Porque vc foi uma mulher ao contrário de tudo o que era possível entender, pois a lógica não apaixona.
Tentei ser cuidadoso em folhear as contradições para não provocá-la em sua indiferença entendendo que os sonhos não se guardam por secretos, mas para protegê-los da insignificância de quem não os merece.
Uma mulher como a soma de tudo :quando nua, vestida de luz e aromas; quando vestida,  uma prometida e desejada nudez
Mas são tantas as coisas que provocam adeus em cartas, bilhetes, conversas e telefonemas.

E ficamos assim...refens de minutos tão intensos que hoje parecem que duraram séculos tamanho é o vazio que provocam

segunda-feira, 19 de junho de 2017

Serenidade



A parte que sofre em nós é a inferior....assim como a que se alegra .
Só a parte serena é superior.
Sofrer como alegrar-se é ceder à paixão.A serenidade só é alcançada depois que se conhece e se vive o tédio.Então ela passa a ser criativa.

O melhor objetivo da vida é aquele que nos permite viver em serenidade.

Desta forma é possível discutir-se porque o homem busca sempre um caminho para fugir da solidão e passa sua vida lutando contra ela.Desta forma se explica o casamento , as amizades , a paternidade entendendo que a felicidade está no encontro.
A solidão é necessariamente algo a ser evitado

É preciso se afastar dessa ilusão.Estamos a sós boa parte do tempo.
Acabamos sem notar que as exigimos dos outros o que já temos em nós.

sexta-feira, 16 de junho de 2017

narrativas da imortalidade


A diferença entre aqueles que ingerem 200 cápsulas de suplemento por dia e a maioria de nós não está no fato que eles viverão para sempre.Todos nós iremos morrer.A diferença é que eles contam a si próprios uma história sobre alcançar a imortalidade o que pode , muitas vezes , aliviar as angústias existenciais.Eles estão seguindo , sem saber , uma longa tradição humana pela procura do elixir da longa vida , pela ressurreição , pela reincarnação , pela negação do óbvio.

Muitas narrativas da imortalidade tem moldado a história das civilizações , para o bem e para o mal.
Em essência não somos adeptos de modo inato a sermos felizes ou buscarmos apenas a alegria.Estamos fadados a nos esforçarmos para a nossa sobrevida , às custas de tudo o mais incluindo a nossa felicidade

De todos os pretensos caminhos na busca de uma vida longa a sabedoria é o mais consistente.Ela é diferente no sentido que ao invés de perpetuar uma angustia existencial de negação da morte ela possibilita atitudes que nos ajudam a repensar o fato imutável.Nos possibilita cultivar o apreço pela vida que está acontecendo .Mas a pratica da sabedoria não é fácil : as atitudes e virtudes que precisamos correm na direção contrária a poderosos impulsos.Ela precisa ser então aprimorada.

A filosofia nos ensina que os Estóicos seguiam exercícios diários para treinarem seu conhecimento.Uma abordagem da vida que depois seria familiar a várias religiões.O próprio Dalai Lama ensina que a compaixão pela vida nem sempre vem de modo fácil.
A narrativa da sabedoria é uma poderosa alternativa à fé.Foca nossa atenção ao momento e ao mundo fora do ego possibilitando uma vida com maior significado.

Nossas vidas são moldadas pelo principio e pelo fim e composta de momentos que podem nos melhorar se estivermos atentos e dispostos.Deste modo ela é como um livro que contém suas capas e permite ser preenchido pelo conteúdo que escolhermos.No final ele nos mostra na nossa essência : quem fomos e como fomos.

qual será a sua história ?

quinta-feira, 15 de junho de 2017

Como encontrar sentido diante da morte ?


O psiquiatra William Breibart , do Kettering Cancer Center em Nova Iorque , tem dedicado o seu trabalho a entender os limites entre a vida e a morte. Mais precisamente a busca por um sentido da vida.Para muitos de seus pacientes a questão mais valiosa não é quando irão morrer ou quanto dolorosa será a sua condição terminal.Mas sim o que faz a vida ter sentido.Eles estão em busca de um significado que não pode ser destruído pela morte.

Existirá algum ?

Breibart vem tentando responder a essa questão.Sua pesquisa mostra que enquanto o espectro da doença frequentemente leva os pacientes a concluírem que suas vidas são insignificantes ele também pode ser um catalisador para que , como nunca o fizeram antes , trabalhem num sentido para tudo.

Emily Smith , autora do livro " the power of meaning" , demonstra que o que contribui para que os pacientes sintam que suas vidas valem a pena são três condições :
1. eles sentem que sua existência é valorizada pelos outros
2. eles têm uma proposta de vida , com objetivos importantes
3. eles entendem suas vidas como coerentes e integradas

Filósofos e psicólogos dizem que o caminho para o sentido está em contribuir para algo maior que o ego , como a família , o país , ou mesmo o deus em que acreditam.
Significado e morte são os dois lados da moeda - o problema fundamental da condição humana.

Breibart vive seus questionamentos : como um ser humano deveria viver sua vida finita ? Como encarar a face da morte com dignidade ? Como não negar o fato da morte inevitável ?
Seu trabalho vem rendendo artigos interessantes analisando o tempo entre o diagnóstico de uma doença terminal e a morte.Neste momento , ele argumenta , pode haver uma oportunidade para um extraordinário crescimento : " uma realização que traga aos pacientes alguma medida de paz e consolo diante do seu ultimo desafio ".

domingo, 11 de junho de 2017

Eu não te amo


Estamos , muitas vezes reféns do cotidiano.Sem tempo para refletir a dimensão do outro , sua singularidade.Vivemos um tempo de ruptura de relacionamentos reais.Um tempo de urgências.Um tempo de perdas do tempo de olhar , tocar e sentir.

As informações , na maioria das vezes , vêm prontas e reproduzidas de modo instantâneo , fadadas a fulgurar e morrer.
As relações se tornam superficiais , velozes e efêmeras.
A felicidade é ensaiada , postada e precisa ser curtida para ser validada.
O individualismo , gradativamente , desrespeita o outro.Relacionamentos se tornam imediatos.A reciprocidade e a generosidade perdem significado diante do " eu " exigente e insaciável.
As redes sociais constroem a facilidade para o encontro de pessoas mas são usadas para a satisfação do ego.Servem de escudo para que se esconda o verdadeiro.Servem de espelho para mostrar as vaidades .

Conviver e viver um relacionamento gera conflitos e questões que não são vividas por aqueles que só mostram as suas máscaras.Lidar com a realidade de pessoas reais é muito diferente da fantasia daqueles que só espelham sua perfeição.
Viver a dificuldade de uma relação fragmentada é tentar consertá-la.Não trocá-la.Nem testá-la.Esse é o verdadeiro amor.

A superficialidade do que alcançamos se estende às pessoas que , supostamente , conhecemos.
Como entender um status frequentemente postado  : " em um relacionamento sério "  ???
Existem relacionamentos que não sejam sérios ?...Supõe-se que sim. Muitos.

O amor no tempo do imediatismo não existe

sábado, 10 de junho de 2017

De volta para o futuro


A clássica psicologia sempre foi obcecada pelo passado.Mas a moderna abordagem parte da premissa que nós podemos esquecer o passado e o presente e olhar adiante.Martin Seligman , o pai da psicologia positiva e autor do livro " Homo Prospectus" , considera essas preocupações com o que já ocorreu como meras distrações : " a chave para a felicidade está na habilidade única do ser humano em contemplar o futuro ".

Ele explica que a depressão , por exemplo , não resulta apenas de traumas passados e stresses do presente mas sim de visões distorcidas do que temos pela frente.E conclui : " a principal proposta das emoções é guiar o comportamento no futuro " .
Ele sugere a criação de uma nova disciplina : a psicologia prospectiva.Esta não abordaria o paciente como vitima de sua trajetória.Entende que nós não agimos na idade adulta através de padrões infantis.Nossos atos são determinados por como concebemos o futuro.

Estudos têm mostrado que na maior parte do tempo nós estamos pensando no futuro e não no passado.Portanto uma nova visão analitica pode ser a tendência para nos conhecermos melhor.O passado e o presente podem nos moldar.O futuro pode nos mudar

sexta-feira, 9 de junho de 2017

O orgulho fragmentado


A cirurgia cardíaca sempre foi uma especialidade pioneira.Desenvolveu técnicas e tecnologias para melhorar a segurança e aumentar a abrangência de suas intervenções.Promoveu mudanças significativas nas patologias do coração até então mortais.

Mas após multiplos escândalos envolvendo as cirurgias de próteses valvulares  cardiacas na Inglaterra , o NHS (serviço nacional de saúde) decidiu publicar os indices de óbito por cirurgião pretensiosamente para expor as melhores performances.De modo evidente isso foi uma espécie de retaliação para punir os maus profissionais.
A consequência , que já seria esperada , foi que os melhores cirurgiões tiveram as maiores taxas de mortalidade pois são aqueles que lidam com os casos mais complexos.A taxa  foi publicada sem o devido cuidado com o objetivo demagógico de possibilitar aos pacientes que escolhessem o seu cirurgião.

É preciso avaliar estes indicadores de um modo bastante criterioso.São muitos os fatos que concorrem para uma taxa de mortalidade : o tipo de doença , a gravidade , o time envolvido nos cuidados assistenciais etc.
As consequências geradas foram amargas.A maioria dos cirurgiões experimentou uma frustração enorme com essa falta de critério.Isso é o que ocorre quando politicas de saúde feitas por pessoas desqualificadas se envolvem com a medicina.
O que se viu foi uma reação absolutamente desconectada com o pretensioso objetivo inicial : muitos médicos passaram a não aceitar a tratar pacientes mais graves , muitos cirurgiões cardíacos procuraram outros países para trabalhar ( a Austrália , por exemplo) , médicos recém formados buscaram outras especialidades cirurgicas....
O que se viu foi o orgulho ferido por números que longe de expressarem verdades expunham de modo cruel o trabalho muitas vezes bem realizado.

quinta-feira, 8 de junho de 2017

Alzheimer


As melhorias nos cuidados`a saúde ocorridas nas últimas décadas contribuíram para uma maior expectativa de vida.Existe uma projeção que em 2050 tenhamos 2 bilhões de pessoas vivendo no mundo com mais de 60 anos.Essa conquista é acompanhada por uma preocupação sobre a incidência de doenças demenciais.

A demência é crônica e progressiva e afeta diversas funções cerebrais , incluindo a memória , raciocínio , aprendizado e julgamento.Esses déficits cognitivos são normalmente seguidos de deteriorização no contexto emocional e no comportamento social.
60 a 70% dos casos de demência são atribuídos ao mal de Alzheimer.Achados científicos recentes mostram que alterações leves já podem ser notadas 10 anos antes do estabelecimento do diagnóstico definitivo.A doença ainda é incurável.O avanço na evidência genética dos genes envolvidos na sua patologia poderá ajudar no diagnóstico precoce e talvez numa terapia mais eficaz.

A prática da medicina exige que nos aprofundemos nos aspectos clínicos das doenças.Tal conhecimento , no entanto , é insuficiente no caso das doenças demenciais.Nos sobram então os desafios de lidar com as abordagens éticas diante do fardo pesado que domina o paciente e seus familiares.
A autonomia do doente está completamente prejudicada.Esta perda amplia a necessidade de um exclusivo e permanente cuidado.Nem sempre fica claro se os familiares estão aptos a assumirem esta responsabilidade.Quais são as reais carências e desejos ?

A perda irreversível da autonomia é um desafio pois a imagem e identidade de cada paciente estarão alteradas e esta " nova " pessoa é totalmente dissociada da biografia familiar.

No universo do sofrimento da doença de Alzheimer é recomendável que atitudes humanitárias sejam a regra na tríade médico - paciente - família.Há uma linha tênue nesse cenário que pode transformar solidão em solidariedade.
O respeito pela dignidade é o conceito primário para exercer o cuidado indispensável à pouca qualidade de vida desses pacientes

terça-feira, 6 de junho de 2017

Pensamento crítico


Pascal escreveu que o homem é óbviamente feito para pensar.

A idéia do pensamento crítico vem de Sócrates quando ele estabelece o pensamento associativo : uma necessidade de evidência , de se analisar conceitos básicos , determinar o valor da presunção e do racionalismo e concluir com as implicações do que deve ser feito e dito.Sua conclusão é preciosa : " o conhecimento não virá do cérebro mas do questionamento ".

O pensamento crítico , por sua natureza , demanda reconhecimento de que todas as questões sobre um ponto de vista procedem de alguma proposta para responder uma pergunta ou resolver um problema.É um julgamento com discernimento.É uma arte de analisar e avaliar o pensamento com a intenção de melhorá-lo.Ele é reflexivo , razoável , auto-regulador e possibilita que as explanações para os diagnósticos e condutas sigam a atenção da evidência.

Esse pensamento vem sendo pouco experimentado no nosso imediatismo.A tendência de se pretender viver com respostas prontas ou de fácil acesso irá gerar uma população incapaz de exercer seu raciocínio.
Em medicina podemos dizer que pensar criticamente é a melhor ferramenta para entendermos a individualidade.A crescente importância da ciência baseada nas evidências tenta retomar uma antiga forma de pensar , clássica e de sabedoria .

Precisamos saber mais sobre nossos pacientes assim como precisamos saber como melhor aplicar a ciência

segunda-feira, 5 de junho de 2017

Sífilis : uma antiga doença em tempos modernos



Os primeiros casos de sífilis na Europa foram relatados há cerca de 500 anos quando soldados franceses invadiram a cidade de Napoli na Itália.Desde então a doença tem sido conhecida através de vários codinomes : cancro , roséola , grande imitadora etc devido ao seu amplo espectro de apresentação clínica.
A literatura científica e histórica é repleta de referências à sua vasta trajetória.
Hoje a sífilis é tratada com penicilina e  pode ser curada.Apesar de muito comum em países sub desenvolvidos (muitas vezes associada ao HIV) , vem crescendo de incidência de um modo preocupante no resto do mundo.O Brasil registrou nos últimos 5 anos um aumento de 320% nos novos casos.Esta situação serve de alerta para lembrar que doenças clássicas podem manter-se aparentemente controladas mas constituem-se em ameaças silenciosas à população.

A sífilis é causada por uma bactéria chamada Treponema pallidum e geralmente é transmitida por via sexual.Porém o contato com lesões de pele , transfusões sanguíneas , uso de drogas injetáveis e congenitamente são observados também.Quem está infectado pode transmitir a infecção até cerca de 3 anos após o contato.Existe também uma forma mais rara da doença que pode manifestar-se após mais de 20 anos e é chamada de sífilis terciária.Nestes casos os sistemas cardiovascular e neurológico podem ser acometidos.

As estratégias de controle são fundamentais para um correto tratamento e diagnóstico.A exposição sexual através de relações sem preservativo constituem-se , atualmente , na situação de maior risco.
Pacientes que apresentem lesões de pele , lesões nos órgãos genitais , febre prolongada , aumento de linfonodos (ínguas) etc devem ser testados para a infecção.O diagnóstico se dá através de exames laboratoriais que definem a atividade da doença.

A sífilis ainda faz a história.Ela continua sendo a mesma ameaça.O modo de transmissão é o mesmo.O que também não muda é a irresponsabilidade humana.

domingo, 4 de junho de 2017

Cultivar emoções



Lisa Feldman acaba de publicar " how emotions are made : the secret life of the brain" . Neste livro ela elabora uma nova teoria para as emoções.A clássica maneira que as enxergamos é como inatas e limitadas nas suas variedades e capazes de acontecerem fora de nosso controle.Mas para Lisa os últimos estudos não confirmam essas definições.Ela expõe sua teoria através de uma teoria interessante.

Por anos temos considerado que em algum lugar do nosso cérebro existam circuitos especificos para a raiva , o medo , a alegria etc e quando algo acontece, um determinado impulso fará a emoção aflorar.Qualquer ser humano seria capaz de . sem nenhum aprendizado , expressar as mesmas emoções.Existe porém uma ampla variabilidade que expressará a emoção.Uma pessoa poderá pular de medo , congelar de medo , gritar de medo , sorrir de medo etc.Segundo a escritora uma situação muito importante é o que é realmente significativo para entender como as emoções atuam no dia-a dia.Na verdade nosso cérebro está reconhecendo algo mas nossas prévias experiências é que expressarão as emoções.

Nosso cérebro é organizado de tal modo a se antecipar a algo que está prestes a acontecer.E isto ocorre fora de nossa consciência.Nossas vivências anteriores serão determinantes , manterão uma conexão pronta para a emoção.
O livro sugere que as emoções estão acontecendo para nós.Nosso cérebro as produzem de acordo com nossa necessidade.Somos os arquitetos de nossa própria experiência.

Como controlar essas emoções ? Existem dois modos para que não nos tornemos escravos de nosso passado.O primeiro é que o cérebro é capaz de juntar fragmentos do que já vivemos e combiná-los de uma nova forma ( como utilizar diversos ingredientes e fazer uma nova receita).
O segundo é que nós deveríamos investir esforços no presente e cultivar boas emoções.Ler e falar sobre compaixão , imaginação . moral , ética etc. Esses sentimentos não são propriedades da emoção,são propriedades da consciência pois estarão sempre conosco independentemente se estarão sendo utilizados.Serão parte de nossa experiência do mundo.