sexta-feira, 9 de junho de 2017

O orgulho fragmentado


A cirurgia cardíaca sempre foi uma especialidade pioneira.Desenvolveu técnicas e tecnologias para melhorar a segurança e aumentar a abrangência de suas intervenções.Promoveu mudanças significativas nas patologias do coração até então mortais.

Mas após multiplos escândalos envolvendo as cirurgias de próteses valvulares  cardiacas na Inglaterra , o NHS (serviço nacional de saúde) decidiu publicar os indices de óbito por cirurgião pretensiosamente para expor as melhores performances.De modo evidente isso foi uma espécie de retaliação para punir os maus profissionais.
A consequência , que já seria esperada , foi que os melhores cirurgiões tiveram as maiores taxas de mortalidade pois são aqueles que lidam com os casos mais complexos.A taxa  foi publicada sem o devido cuidado com o objetivo demagógico de possibilitar aos pacientes que escolhessem o seu cirurgião.

É preciso avaliar estes indicadores de um modo bastante criterioso.São muitos os fatos que concorrem para uma taxa de mortalidade : o tipo de doença , a gravidade , o time envolvido nos cuidados assistenciais etc.
As consequências geradas foram amargas.A maioria dos cirurgiões experimentou uma frustração enorme com essa falta de critério.Isso é o que ocorre quando politicas de saúde feitas por pessoas desqualificadas se envolvem com a medicina.
O que se viu foi uma reação absolutamente desconectada com o pretensioso objetivo inicial : muitos médicos passaram a não aceitar a tratar pacientes mais graves , muitos cirurgiões cardíacos procuraram outros países para trabalhar ( a Austrália , por exemplo) , médicos recém formados buscaram outras especialidades cirurgicas....
O que se viu foi o orgulho ferido por números que longe de expressarem verdades expunham de modo cruel o trabalho muitas vezes bem realizado.

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