Só a música consegue se aproximar da perfeição em refletir o mundo interior. Nos permite percorrer a vida com uma constante sensação de saudade, uma silenciosa desconfiança do conforto e a consciência de que, sob a beleza, sempre há algo terno e inquieto.
Enquanto alguns músicos compõem em busca da beleza como algo
que pode ser alcançado e mantido,outros o fazem a partir da memória e da
ruptura, da dor de saber e não saber ao mesmo tempo.É como oferecer luz sem
falsa felicidade, tristeza sem desespero e verdade sem resolução.
A experiência musical torna-se menos sobre chegar a algum
lugar e mais sobre se desdobrar momento a momento. Emocionalmente, oscila entre
alegria e perda, admiração e vulnerabilidade. A felicidade está presente, mas
nunca se consolida totalmente. "A realidade deixa muito para a
imaginação", disse John Lennon certa vez.
O que atrai alguém para a música raramente é técnica. É o
reconhecimento. Algo nessa harmonia espelha como o mundo interior realmente se
sente. A música relembra a alegria sem reivindicá-la, a beleza sem
estabilizá-la. O deslumbramento está presente, mas também a desorientação. A
canção não tenta resolver essa tensão. Ela permite que ela seja verdadeira.
Todos nós vivemos dentro de estruturas herdadas —
psicológicas, culturais, emocionais — que nos dão coerência enquanto,
silenciosamente, nos confinam. Em algum lugar abaixo delas, existe um anseio
por afrouxar essa estrutura sem nos perdermos.A música dá voz a esse anseio. Ela
nos lembra que a liberdade não exige o abandono da forma, apenas o afrouxamento
de nossa fixação na resolução. A harmonia se torna profunda o suficiente para
permitir a distorção; a certeza, relaxada o bastante para que a verdade
respire. Não é apenas assim que a grande música funciona. É assim que a
consciência aprende a evoluir, afrouxando sua fixação na resolução, pairando e
circulando, repousando como o terreno aberto no qual a experiência surge e desaparece,
e, de alguma forma, parecendo mais real por causa disso.
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