Há dias em que o silêncio não é fuga, nem retração, nem um gesto
dramático de recolhimento.
É apenas um estado de presença mais fiel do que qualquer palavra
conseguiria oferecer.
Um estado cru, anterior à formulação, onde algo dentro de nós pensa sem linguagem.
É como se a psique respirasse melhor quando não está obrigada a se traduzir.
Nise da Silveira lembrava que o inconsciente não fala em frases.
Ele se mostra em imagens.
"E, quanto mais observo, mais claro fica que as palavras que usamos para explicar o que sentimos chegam tarde demais. Elas simplificam o que é complexo, achatam o que é profundo, organizam aquilo que, às vezes, ainda nem deveria ser organizado."
Uma imagem interna não precisa ser dita para existir. Ela aparece, age,
afeta. Ela é inteira mesmo quando eu não a compreendo por completo.
As palavras, por mais precisas que tentem ser, já vêm filtradas pela consciência. A imagem não. Ela é mais honesta porque não se preocupa em fazer sentido.
Ao transformar a experiência em frase, algo vivo se perde. Não é
ornamento, não é exagero. É uma constatação clínica e humana.
A palavra delimita aquilo que, até então, era amplo.
A psique trabalha melhor quando não está sendo empurrada para dentro da lógica apertada da linguagem. Nesses momentos, a ausência de palavras não é falta. É elaboração.É movimento interno em estado bruto.
Não se trata de exaltar o silêncio. Trata-se de respeitar o tempo da experiência.
Tudo que é dito antes de amadurecer dentro da alma se dispersa.
Já o que é dito depois, quando já tomou forma, temperatura e gesto, esse tipo de palavra encontra morada.
O silêncio nunca é interrupção. Ele é parte do caminho.
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