quinta-feira, 14 de maio de 2020

manual para a pandemia







No inicio da pandemia pelo HIV vivemos a confusão e o medo. A AIDS era conhecida como a "peste gay". Foi comum , por um tempo , que os homossexuais recebessem o conselho de evitar o sexo. Em 1983, Richard Berkowitz e Michael Callen publicaram um documento para a comunidade gay chamado “How to Have Sex in an Epidemic.” Era o reconhecimento da importância do prazer para a vida das pessoas. Rejeitava a abstinência como abordagem exclusiva e propunha um guia para o que depois veio a ser cunhado de sexo seguro.

Sabemos há décadas que a mensagem única de abstinência não funciona para o sexo , como não funciona para quem usa drogas. De certa forma, na maioria dos países , a mensagem do distanciamento social , simplesmente , não irá conter o coronavírus.
Fique em casa: é a ordem da vez. Temos que achatar a curva. Não importa por quanto tempo e custo. Mas a fadiga da quarentena é bem real : um sentimento de profundo mal estar oriundo dessa experiência nunca antes vivida nos tempos modernos. Além do desastre econômico, o isolamento está proporcionando profundos danos psicológicos,especialmente em pessoas com tendências depressivas ou de ansiedade. Uma recente pesquisa do Kaiser Family Foundation mostrou que metade dos americanos percebem problemas com sua saúde mental.

Somamos a isso os constantes alertas das autoridades em saúde que consideram que o retorno ás atividades econômicas será um desastre em termos de novos casos de coronavírus. Muitos lugares não têm a segurança de testar e rastrear com segurança os pacientes e testes sorológicos mostram que a maior parte da população não foi exposta ao vírus. Uma vacina está distante enquanto novos casos aumentam a cada dia.
A escolha entre ficar em casa indefinidamente ou retornar ao trabalho neste momento é falsa. O risco não é binário. Uma abordagem de tudo ou nada quando se fala em prevenção de uma doença pode ter consequências imprevisíveis.
Campanhas públicas que promovem a total eliminação do risco, como a abstinência sexual, estão perdendo a oportunidade de promover a adoção de comportamentos de menos-risco,mais sustentáveis a longo prazo. A abstinência apenas não só é ineficaz mas associada com piores desfechos. Isso porque priva as pessoas de um real entendimento de como reduzir seus riscos e mesmo assim manter a atividade sexual.
Sem uma compreensível abordagem do risco a mensagem só estigmatiza.
Berkowitz e Callen sabiam que a abstinência indefinida não seria realisticamente  adotada. Esse modelo proposto por eles é uma redução do dano que reconhece que algumas pessoas irão se expor ao risco, queiramos ou não.A proposta então é oferecer estratégias para diminuir ao máximo as consequências.
O que funciona para o coronavírus? Primeiro , é necessário distinguir os tipos de atividades publicas (de baixo ou alto risco de transmissão viral); nestes casos podemos falar até em abstinência (ou seja , não se expor). Nem todas as ocupações oferecem riscos iguais de contaminação.Alguns ambientes podem ser remodelados ou adequados para oferecerem a maior segurança. Segundo, entender os fatores contextuais que estão levando as pessoas a tomarem decisões de risco (necessidade de contato humano , solidão, ansiedade , prazer , economia). Um exemplo clássico é a necessidade de praticar exercicios fisicos ao ar livre.De baixissimo impacto na questão de transmissão e que pode ser mitigada com segurança.

Na verdade o que precisamos é um manual para conviver com a pandemia. Semelhante ao escrito na década de 80.

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