sábado, 29 de julho de 2017

um olhar a mais



Antonio Quinte escreve em " um olhar a mais " que a nossa sociedade pode ser considerada escópica : para existir é preciso ser visto pelo outro. A vida se torna um espetáculo a ser permanentemente encenado.Fomenta uma ilusão narcisista com o sujeito preso à própria imagem , vivendo sua dura batalha para ser jovem , com um sorriso sempre pronto.

A tecnologia criou o selfie para este fim .Percebeu que o sujeito poderia correr o risco de ser excluído , deixado de lado , se não mostrasse o que fez e o que faz.
Uma sociedade consumista se alimenta desse sujeito pois é preciso "performar".Superar as expectativas do outro que por sua vez também se liga a essa cadeia da mesmice.Mas não percebem que estão sempre repetindo as mesmas frases , poses e gestos pois o que mais temem é serem alijados do processo.

Vivemos uma infeliz conjunção de fatores que , infelizmente , não tem sido estudada como merece.
A nossa instintiva busca do prazer está mesclada ao pior do nosso momento : o excesso. Estamos vendo uma sociedade baseada na voracidade , nos impulsos , na rapidez , no automatismo.Viver é cometer abusos.

Essas mudanças tão drásticas não irão ocorrer sem consequências. Já se notam aumento de quadros compulsivos , distúrbios alimentares , depressão , transtornos de ansiedade , aumento das doenças sexualmente transmissíveis.Todos associados ao apelo à satisfação imediata

Quem e como serão os indivíduos gerados e criados a partir deste caos do relacionamento ?

quinta-feira, 27 de julho de 2017

Comunicando o fim da vida



A comunicação precoce  ajuda a planejar o final da vida de pacientes com doenças terminais,.Para isso é imprescindível o trabalho interdisciplinar entre pessoal médico e não médico.

Isto é o que sugere o estudo "Exploring Health Care Providers’ Views About Initiating End-of-Life Care Communication" feito pelas universidades Norte Americanas da Flórida do Sul, da Califórnia do Sul, do Estado do Novo México e de Washington 

 Este estudo explora as perspectivas dos médicos, enfermeiras, trabalhadores sociais e assistentes espirituais sobre a participação de pacientes gravemente doentes e suas famílias na comunicação do final de vida. Os dados qualitativos foram fornecidos por 79 provedores (médicos e não médicos) que trabalhavam em dois centros médicos de Los Angeles. Três temas que descrevem as percepções dos provedores a respeito de seus papéis e da responsabilidade ao falarem com pacientes seriamente doentes foram apontados: (1) o papel dos provedores para participar em discussões de fim de vida, (2) a responsabilidade dos médicos para iniciar e dirigir estas discussões e (3) a necessidade de Equipe de co-gestão da atenção ao paciente.

Vários fatores impedem uma comunicação eficaz e oportuna sobre o tema. Estes incluem atrasos na comunicação até que os pacientes estejam gravemente doentes e / ou próximo da morte. As lacunas na comunicação entre o paciente e o provedor de saúde afetam negativamente a planificação antecipada dos cuidados e limitam as referências aos cuidados paliativos.

A confusão a respeito das funções de vários provedores de atenção médica também limita a comunicação, especialmente quando os provedores não coordenam a atenção com outros provedores de atenção médica em diversas disciplinas.

 Um problema importante existe quando o pessoal não médico (isto é, os trabalhadores sociais, os capelães e outros profissionais aliados) se sente mal preparados ou carecem de capacidade para articular seu papel principal e a responsabilidade de realizar este trabalho, o que demonstra a necessidade de melhorar a capacitação de todos os provedores.

Os provedores destacaram a importância do início precoce das discussões, ter médicos que coordenem, especificamente devido a seu treinamento médico e a necessidade de esclarecer a informação médica com respeito ao prognóstico dos pacientes. Ainda que os médicos sejam uma parte vital da comunicação no fim de vida e estejam no centro da comunicação de informação médica, um enfoque interdisciplinar que envolva enfermeiros, trabalhadores sociais e capelães, poderia melhorar significativamente a atenção ao paciente.

sábado, 22 de julho de 2017

Fui eu



Quando você olha para os tempos mais difíceis de sua vida e vê apenas um tipo de pegadas na areia era porque eu estava carregando você.
Quando também na areia ha um castelo feito de modo desajeitado por alguém não profissional...sim...era eu também.
E aqueles buracos ao redor para que a água do mar não o destruísse...tudo feito por mim.
Quando você ouvia a campainha tocar e nínguém estava à porta...sim...eu.
Lembra-se quando você me pediu para olhar sua fatia de torta enquanto ia ao banheiro , e que quando voltou havia uma grande mordida nela,alguém com os dentes parecidos com os meus ?.Foi alguém muito parecido comigo.Eu estava observando sua torta como disse que o faria.

Quando você olha para os tempos mais maravilhosos de sua vida e vê pegadas de um pato na areia próximas às suas isso é um pouco estranho.Eu imagino que o pato tenha feito sua vida ser fantástica ou foi apenas uma coincidência que ele estivesse por perto.

Quando você acordou naquela manhã de seu aniversário e havia um presente que você tanto desejava e o cartão estava em branco...você me perguntou se tinha sido eu...eu disse que sim.Hoje eu quero reiterar que fui eu mesmo.

Quando você olha para as nossas pegadas na areia e havia um risco que nos acompanhava....era eu com um galho a marcar o chão.E quando esse risco subitamente terminava (para recomeçar alguns metros depois) era porque você me pedia para parar.

Lembra-se como , no dia de seu casamento , o padre perguntou aos presentes se alguém se opunha à cerimônia e uma voz lá no fundo disse : Sim...Eu acho que foi aquele pato.

Lembra-se que uma vez eu estava levando você para casa e subitamente um rato atravessou a estrada e foi atropelado ?Todo o restante do caminho você chorou se culpando.Não adiantou eu dizer que fui eu.
Quando sua vida foi salva por um transplante renal e o doador era anônimo...sim....fui eu.Eu mantive em segredo pois não queria que você soubesse que eu viveria de certa forma dentro de você.

E...quando você olhar todas as vezes para o que aconteceu na sua vida e ver que haviam pegadas ao redor das suas,em todos os lugares , era eu afastando os caranguejos que você tanto temia.

sexta-feira, 21 de julho de 2017

Antibióticos genéricos




O motivo essencial para a produção de medicamentos genéricos é o custo normalmente mais reduzido destes produtos.Estudos demonstram que os Estados Unidos economizaram em torno de 1.07 trilhões de dólares entre 2002 e 2011 pela oferta de cerca de 10 versões genéricas de cada composto. O FDA tem facilitado o processo de licenciamento das drogas assumindo que se a segurança,eficácia e qualidade estejam comprovadas qualquer droga genérica é bioequivalente ao produto inovador, porém sem provas diretas que a comprovem. Está prática é aceita mundialmente e é passível de críticas : existem evidências experimentais que antibióticos genéricos podem ter bioequivalência inferior, e isso implicaria em falha clínica e microbiológica, aumento de mortalidade e resistência bacteriana.

Na Itália,os genéricos são considerados equivalentes ao produto inovador se contiverem a mesma substância ativa(com uma diferença de ±5%),a mesma forma farmacêutica,as mesmas indicações terapêuticas e bioequivalência similar(±20%).Embora esse números possam aferir um certo grau de confiança no produto nós veremos que a segurança e consequente eficácia pode estar comprometida por outros fatores.

Importante ressaltar que os estudos de bioequivalência não são necessários para apresentações injetáveis.Além disso,no caso de drogas de liberação prolongada ou com índice restrito terapêutico,estudos clinicos são realizados em 12 voluntários saudáveis (de 18 a 55 anos).Entretanto,estes estudos avaliam a bioequivalência realizando avaliação farmacocinéticas e não farmacodinâmicas.Nenhum dado de eficácia e segurança são gerados ,pelo contrário , estima-se que na troca de medicamentos inovadores por genéricos 10% dos pacientes experimentem efeitos colaterais e até 30% interrompam o tratamento por ineficácia ou reações adversas

A diferença na bioequivalência é bastante relevante quando se trata de antibióticos.Uma redução na bioequivalência diminui a eficácia clinica particularmente em pacientes com alterações no fígado 

Alguns estudos sugerem a possibilidade de que a presença de excipientes possam interferir na qualidade do produto.Certos produtos podem influenciar o transito intestinal ( sorbitol, manitol, etc.),a absorção ( surfactantes) e a solubilidade ( co-solventes)contribuindo para uma inadequada posologia.

Tambem existem relatos de reações alérgicas pelos excipients de drogas genéricas ( exemplo : a croscarmelose sódica usada na furosemida genérica).Outro exemplo foi o relato de caso de paciente com intolerância a lactose usando antiarritmico que trocou para o genérico que continha essa substância afetando a absorção da droga e consequentemente os níveis sistêmicos.

Tambem a questão das impurezas são comprovadas em alguns produtos genéricos.Um estudo demonstrou um total de impurezas acima de 3% em formulações genéricas de ceftriaxone comparadas aos inovadores.Esse fator afetou a biodisponibilidade do antimicrobianos e sua efetividade.

Finalmente um trabalho demonstrou que o efeito de redução de preço aumentou o consumo de ciprofloxacina e causou substancial impacto nos níveis de resistência de E.coli obtidas de cultivo de urina
Em conclusão é necessário maior vigilância e estudos mais rigorosos que demonstrem que as formulações genéricas , fundamentalmente em antimicrobianos,sejam consideradas perfeitamente em conforme com as drogas inovadoras.

sábado, 15 de julho de 2017

Eu e o Outro


O Homem consolidou-se como individualista , dissociado e distante da presença do outro.Tornou-se mero instrumento do paradigma racionalista , encapsulado em si.Seu protagonismo pertence à solidão revestida de liberdade ilimitada , uma pseudo liberdade.

A sociedade ególatra - narcisista cria homens isentos de humanidade , distante das inquietudes e da existência do outro.Este homem revela-se incapaz de compreender que a sua constituição depende intrinsicamente do reconhecimento do outro.É este que o define e o justifica.

A sociedade cria , então , contratos fluidos.Quem se distancia do diálogo e do contato aceita qualquer condição humana.A pluralidade é o que substitui a condição humana pois não há o verdadeiro homem sem o reconhecimento do outro.
A decisão do " Eu" reflete no "Outro".Não se pode prescindir de ser-em-relação

A vida não pode representar um estado isolado.
O homem apenas pode ser concebido como sujeito enquanto sujeito ético , aquele que reconhece a sua necessidade de complemento.Aquele que não age de modo ético o fará com ausência de qualquer senso de responsabilidade e descaso pelo outro.Esta é o elemento fundamental para edificar um mundo digno

sexta-feira, 14 de julho de 2017

Minha primeira coluna no Jornal de Santa Catarina

Com muita felicidade transcrevo a minha primeira coluna  a ser publicada no jornal de Santa Catarina.


Os desafios da medicina

O grande paradoxo que cerca a medicina é a coexistência de um corpo muito bem estruturado mas com falhas e fragilidades que resultam em doenças.Como pôde a seleção natural desenvolver complexidades fisiológicas fantásticas mas permitir que várias outras estruturas se tornassem tão ineptas¿.Basta olharmos para alguns órgãos tão adequados (o tecido ósseo,por exemplo) e outros tão desajustados (o sistema imunológico para quem sofre  de alergias) . A medicina dedica um tempo extraordinário tentando entender as nossas dificuldades.Mas é a suntuosidade da ciência que nos sobressalta a todo momento e cria uma enorme tensão no nosso compromisso de fazer o correto.Temos assimilado nesses séculos de descobertas um imenso conhecimento mas o volume e a diversidade têm excedido a nossa habilidade individual para possibilitar usá-lo na sua plenitude.O conhecimento nos tem salvo e nos tem sobrecarregado.Ainda constatamos que a maioria das doenças são difíceis de tratar.Hoje , catalogamos mais de 13 mil patologias , ou seja , temos mais de 13 mil modos diferentes de adoecer.Para a maioria delas a ciência tem nos ajudado de alguma forma.Temos à nossa disposição 6 mil medicamentos e cerca de 4 mil procedimentos clínicos e cirúrgicos,todos com seus riscos e benefícios.A medicina se tornou , evolutivamente ,a arte de manejar a extrema complexidade.
Se escolhermos um dia qualquer , cerca de 9 mil pessoas estarão entrando em uma unidade de terapia intensiva no Brasil.E , a cada ano , suas necessidades serão maiores.Muitos precisarão de medidas invasivas , cateteres , sondas , respiração mecânica.Há 20 anos um trabalho realizado em Israel mostrou que cada paciente em média necessita de cerca de 178 ações por dia de um cuidador.É o eterno desafio de cuidar.
E seguimos nesse processo : temos um paciente extremamente debilitado e chances de salvá-lo.Mas para tanto é necessário aplicar o conhecimento e ter a certeza que os 178 procedimentos funcionarão na mais perfeita sintonia.A medicina vive seu sucesso deslumbrante mas também suas frequentes falhas.Precisamos frequentemente nos lembrar  e estarmos cientes de que devemos tomar a melhor decisão com a informação que possuímos no tempo certo .Ainda assim o status fundamental da medicina é a incerteza.Pode soar surpreendente que apesar de tantos avanços tecnológicos a dificuldade de tratar os pacientes mais frequentemente baseia-se no que não sabemos do que sabemos.
Decisões na medicina,como em nossas vidas , têm consequências bastante complexas que se somam.
Gary Klein , psicólogo americano , dedicou seu trabalho de toda uma vida à observação de como as pessoas lidam com as incertezas.Sua tese é de que temos uma capacidade de simplesmente reconhecer a coisa certa a fazer em algumas ocasiões.Raramente esse julgamento é fruto de uma avaliação calculista.É um padrão inconsciente de reconhecimento.

Propostas de estratégias para mudanças são inúmeras.Mas grande parte da incerteza com relação ao que fazemos pelos pacientes irá continuar.As doenças e a vida humana são complicadas demais para pensarmos numa realidade perfeita.

segunda-feira, 10 de julho de 2017

Ética e os outros


A ética está em nós em vários sentidos.Ela compreende as motivações e consequências de nossos atos.Hoje , a ética é um grande desafio num mundo cada vez mais compartilhado.
Somos o que somos sempre " com " os outros.Portanto a ética , um ato essencialmente individual , implica o outro , qualifica as relações.

Viver a ética é viver uma filosofia prática : o pensamento voltado ao cotidiano.Se o outro é o foco do pensamento ético , este é o pensamento da relação , ou deveria sê-lo.

Num país tão focado em desvios éticos é importante questionar o porque dessa particularidade.A verdade é que nem todos pensam de modo a problematizar a vida.Essa ausência do pensamento na pessoa do outro pode explicar o inicio de nosso problema ético.

Então ficamos acertados que o jogo da culpa é do outro , não de cada um.Spinoza já explicava a fragilidade para que sejamos presas de um sistema auto alimentado : governantes e sacerdotes precisam da tristeza de seu povo.

quinta-feira, 6 de julho de 2017

Mitos e verdades sobre gripes e resfriados





Primeiramente é preciso diferenciar as duas infecções do ponto de vista clinico e epidemiológico.Estamos falando de vírus distintos que causam consequentemente diferentes quadros clínicos : normalmente a gripe vem acompanhada por um estado de saúde mais comprometido com presença de febre (temperatura acima de 38°C ) e sintomas respiratórios mais evidentes (como tosse, dor de garganta,coriza e congestão nasal) e sintomas gerais ( mal-estar e dores musculares)..O resfriado  apresenta uma evolução bem mais branda e geralmente menos comprometedora com o estado geral do paciente : coriza,, espirros, dor de garganta leve,tosse seca,febre ( se houver baixa)

A transmissibilidade de ambos os vírus ocorrem através de gotículas respiratórias contaminadas (através da tosse , espirro etc) e no caso da gripe tende a ser mais sazonal , ou seja , ocorrer em períodos mais definidos (como no inverno ou em situações claras de epidemia).O resfriado pode ocorrer durante todo o ano

Muito se fala em relação à prevenção de ambas as infecções.A mais discutível medida é a ingestão de vitamina C.Não existem evidências científicas que comprovem a sua eficácia.O que realmente está associado a menor risco de transmissão é a vacinação anual (para o caso da gripe), a higiene das mãos, evitar aglomerações em períodos de temperaturas mais baixas e seguir as recomendações médicas para casos especiais de uso de antivirais quando indicados

Não se adquire gripe ou resfriado após se expor a temperaturas frias,andar descalço,sair de cabelo molhado,tomar sorvete etc todas estas situações são coincidentes a alguma exposição anterior a uma pessoa infectada.

Tambem não se adquire gripe após ter sido vacinado.A vacina induz imunidade e tem uma proteção estimada de cerca de 50-60 % .Deve ser feita a cada ano pois sua composição varia de acordo com a predominância dos tipos de vírus circulantes .

Outro mito é que antibiótico cura gripe.Pelo contrario.Só deverá ser tomado se houver alguma indicação bastante precisa (como uma complicação tipo pneumonia etc) e sob indicação precisa médica.Qualquer medicação deve ser rigorosamente avaliada.Repouso,hidratação e boa alimentação normalmente são as melhores terapias

quarta-feira, 5 de julho de 2017

Adoçantes



Os substitutos artificiais do açúcar , como o aspartame , têm algumas vantagens.Contém menos calorias , são indicados para diabéticos e causam menos cáries.
Mas nos últimos anos têm surgido com seu uso, hoje amplamente disseminado, diversas polêmicas.Alguns estudos os relacionam a derrames , câncer e até demência.A questão é : eles são de fato perigosos à saúde ?

O estudo de Framingham ( famoso por acompanhar pacientes por longos períodos avaliando riscos de doença cardio vascular) demonstrou que pessoas seguidas por 10 anos que consumiram mais do que uma bebida dietética por semana tiveram risco 3 vezes maior de ter derrames do que aquelas que não ingeriram.Também se notou maior risco de demência quando se estudaram indivíduos acima de 60 anos.
Outros resultados de trabalhos científicos relacionaram o aspartame a efeitos carcinogênicos.Este substituto do açúcar contém acido aspartico e fenilalanina.O interessante foi que o risco de cãncer maior foi observado entre homens,entre mulheres não houve diferença.

Estes estudos podem ser contestados.Existem diversas variabilidades que podem influenciar no desfecho : estilo de vida , outras dietas , hábitos etc

Porém a principal lição que aprendemos sobre o uso de adoçantes artificiais , a sua errônea indicação para quem quer perder peso é uma farsa.O aspartame tem na verdade um efeito oposto : quando ingerido ele se converte em fenilalanina.Esta substância bloqueia a fosfatase alcalina que é responsável por controlar a obesidade  e o diabetes !!

domingo, 2 de julho de 2017

O que não sabemos


Será que o que não sabemos é mais relevante do que sabemos ? Sim. Pois isso é o que move nossa curiosidade , nossa busca pelo conhecimento.
Viver hoje requer muito mais imaginação do que somos feitos para ter.O mundo é desconhecido , é improvável e nós dedicamos muito tempo presos a detalhes , focados no que sabemos , no que se repete.

Viver é como estar dentro de uma grande biblioteca . Os livros não lidos são os mais importantes pois guardam elegantes mistérios.
Não devemos pensar o mundo como previsível , explicável , compreensível.Isso seria concebê-lo , erroneamente , como muito simples.
Entendo que fazemos dos nossos pensamentos ferramentas para explicar tudo o que nos envolve.Mas é necessária a humildade para aceitar a verdade pura : a imprevisibilidade.

O que nos serviu no passado pode não mais funcionar.Demoramos a aceitar que algumas certezas , na melhor das hipóteses , sejam irrelevantes ou falsas.
A sabedoria , nosso estágio superior , se instala quando sabemos o que está errado com muito mais certeza do que está certo.