segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Sobre o enigma da razão

Uma vez formadas , nossas impressões são incrivelmente perseverantes.Mesmo após evidências que refutam totalmente nossas crenças tendemos a falhar em fazer uma apropriada revisão dos seus fundamentos.Num livro recente , o Enigma da Razão , os cientistas cognitivos Hugo Mercier e Dan Sperber argumentam que nossa razão é um traço evolutivo.Ela surge nas savanas africanas e tem que ser entendida neste contexto.A maior vantagem humana sobre as demais espécies é nossa habilidade para cooperar.Esta é dificil para se estabelecer e se manter.A razão não evoluiu apenas para nos ajudar a resolver problemas lógicos e abstratos.Ela foi além.Se desenvolveu para resolvermos problemas oriundos da convivência em sociedade , grupos colaboradores.
A razão é uma adaptação aos nichos humanos hipersociais.Hábitos da mente que parecem estranhos ou imbecis do ponto de vista intelectual provaram ser aguçados quando vistos de uma perspectiva de interação.Um exemplo é o chamado viés de confirmação (tendência que as pessoas têm de adotarem informações que apoiam suas crenças e rejeitam outras que as contradizem).Mercier e Speber preferem o termo " viés do meu jeito ".Os humanos , eles mostram , não são aleatoriamente crentes.Essa inclinação reflete a tarefa que a razão precisa exercer e que nos ajudam a manter nossa posição na sociedade.
Num outro livro : a ilusão do conhecimento : porque nunca pensamos sózinhos ,Steven Sloman descreve o que cita como ilusão da profundidade da explicação.As pessoas acreditam que sabem mais do que na verdade têm conhecimento.Porem o que nos permite persistir nesse erro é a crença imperceptivel em outras pessoas.Nós nos apoiamos na expertise de alguem desde que começamos a caçar juntos.Isso torna bastante dificil saber onde termina nosso entendimento e onde começa o do outro.Essa fronteira (uma confusão na verdade) é crucial para o progresso.Quando criamos novas ferramentas para melhor viver estamos simultaneamente criando reinos de ignorância
Sloman também demonstra que uma comunidade de conhecimento compartilhado pode se tornar perigosa pois as opiniões podem ser facilmente manipuladas de acordo com a individualidade
Existe uma lacuna entre o que a ciência nos diz e o que nós dizemos a nós próprios.Essa importância nas crenças persistentes , muitas vezes não prováveis,são potencialmente danosas (como a crença que as vacinas são perigosas , por exemplo).
Ensinar as pessoas com informação precisa não parece muito ajudar.
Talvez apelar às suas emoções funcione melhor.Mas isso seria antiético para a promoção de uma ciência verdadeira.

Um comentário:

  1. Estava com curiosidade sobre o enigma da razão e encontrei esse post muito informativo, gostei muito do post!

    ResponderExcluir