Existe um momento fundamental na medicina moderna : o que fazer diante de um quadro de câncer avançado ou quaisquer outras doenças incuráveis.O que nós gostaríamos que nossos médicos nos dissessem?
Essa questão é valiosa até por motivos de custos.A crescente despesa com saúde é um dos maiores desafios que os governos enfrentam.25% de todo gasto do Medicare (nos Estados Unidos) são destinados para 5% de pacientes no seu ano final de vida e a maioria deste dinheiro são dispendidos para os seus ultimos meses sem beneficios aparentes.
O gastos com o tratamento do câncer seguem um padrão clássico.No inicio da terapia estes valores são altos e se o paciente responde tendem a diminuir.Para os casos com evolução desfavorável existe uma curva de custos em forma de U ( uma média de 63 mil dólares gastos nos ultimos seis meses de vida para o câncer de mama , por exemplo).Somos excelentes em tentar evitar a morte gastando 8 mil dólares por mês com quimioterapia,3 mil dólares por dia em despesas de UTI,5 mil dólares por hora de cirurgia mas no final a morte chega e ninguém sabe quando parar.
Neste interim vivemos o dilema da batalha silenciosa que se arrasta diante de tantos problemas : as seguradoras e planos de saúde apresentando suas contas enquanto o paciente luta por sua vida , demagogos gritando sobre o direito a vida (custe o que custar) , puristas econômicos amaldiçoando os planos de saúde etc.
Mas a falha maior é que não encaramos a realidade que o final de vida se aproxima.
Em 2008 um programa americano chamado Coping with Cancer project publicou um estudo mostrando que pacientes terminais que são colocados em cuidados intensivos (ventilação mecânica , reanimações , cateteres etc) tiveram uma pior qualidade de vida comparados àqueles que não tiveram essas intervenções.6 meses após suas mortes,seus familiares estavam sofrendo com maior depressão.
As pessoas têm seus valores no final de suas vidas.Suas prioridades incluem evitar o sofrimento,estar com suas familias , estar consciente e não se tornarem um fardo para os outros.
Nós estamos falhando em atingir essas necessidades e o custo desta falha é bastante elevado (financeiramente e emocionalmente)
No passado a morte era um processo breve.A psicóloga Joanne Lynn escreve que as pessoas , no passado ,experimentavam uma doença grave assim como viam o mau tempo : algo que os atingia com quase nenhum alerta e que esperavam que melhorasse bem rápido.
Hoje , excluindo-se acidentes na sua maioria , a morte vem após uma longa luta médica , geralmente uma situação irreversível.E essa luta é repleta de incertezas.
A tecnologia passou a nos sustentar além do ponto de coerência e consciência passando a nosso pacientes terminais que sempre haverá uma nova possibilidade quando , na grande maioria dos casos , ela não irá funcionar
Nas ultimas décadas a ciência médica tem tronado obsoletos séculos de experiência , tradição e linguagem sobre nossa mortalidade e criado para nós uma nova dificuldade : como morrer ?
voltarei a esse assunto...
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