Durante boa parte da pandemia as mortes foram notificadas
por idade e “condições de saúde subjacentes”. Para muitos que não viveram a
realidade “ de dentro” foi uma espécie de doutrinação acreditar que essas
mortes aconteciam não com jovens saudáveis – os membros economicamente
produtivos, importantes e “valiosos” da sociedade – mas sim com os velhos, os
fracos, os enfermos.
Desta forma, em outras palavras, a fim de não comprometer o
sucesso da economia, ou mesmo interromper a busca do prazer das pessoas, o real
problema foi sendo minimizado. Bom , de qualquer maneira, a morte dos idosos ou
pessoas com comorbidades aconteceriam : com ou sem COVID.
Os escandinavos, vivendo de metáforas da floresta,
classificam essas pessoas como “mechas secas”, aquela frágil vegetação rasteira
acumulada no chão da floresta e pronta para entrar em combustão, esperando
apenas a inevitável faísca.
Mas quem, realmente, somos “nós”? Por exemplo : um em cada
dois australianos tem pelo menos uma condição crônica e mais de um em cada
cinco tem mais de sessenta anos. Não deixa de ser absurdo tentar mostrar que
essas pessoas são de alguma forma “outras”. Eles não são e todos temos um valor
inestimável.
É mais uma ficção cínica que o resto de “nós” será capaz de
circular como super-seres vacinados, imunes ao vírus que ceifa os fracos, os
enfermos, os velhos. A prioridade da
economia adotada nos tempos mais sombrios da pandemia é uma posição
factualmente incorreta, já que os países com melhor desempenho contra o vírus foram
uniformemente aqueles que optaram por eliminar a transmissão. Ainda nos resta
perguntar “o que exatamente é a economia” e “exatamente de quem é o benefício”?.
De certa forma, “a economia” é realmente um código para
movimento, o deslocamento contínuo de pessoas e coisas com o objetivo de gerar
lucro. Restringir o movimento – a arma mais poderosa contra qualquer novo
patógeno – impede a criação eficiente de lucro. Ao convencer a maior parte do
rebanho de que apenas os animais mais fracos na borda serão apanhados pelos
predadores, a maior parte continua. Não importa que isso não seja verdade e que
seja uma faixa do próprio volume que é eliminada: o crescimento populacional
logo corrigirá isso em alguns anos. O essencial é manter o rebanho em
movimento.
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