Uma palestra feita em 1967 pelo filósofo Theodor Adorno passou muito tempo na semi-obscuridade.
Ele falou sobre o avanço da extrema direita na então Alemanha Ocidental. Proferida em Viena , ele tentava explicar aos austríacos os fenômenos recentes políticos que acenavam um crescimento do Partido Nacional Democrático, que havia sido criado três anos antes. Adorno abordou não questões partidárias mas alertou para o comportamento da sociedade alemã. Sua análise era um alerta para o absurdo ressurgimento de quaisquer referências de aproximação com a monstruosidade do Holocausto , como as conformidades sociais e psicológicas permitiam que idéias repugnantes se mantivessem vivas num regime democrático.
Adorno explicou que haveria em toda democracia algum resíduo de idiotas , delirantes , fanáticos que viveriam uma espécie de hibernação. O que os desperta é uma liderança que destile os ideais mais repugnantes, porém de uma forma catequizadora, maquiada e estruturada na defesa de "valores" (patria,deus e família) hipócritas.
A tragédia de Brasilia , porém , não é de uma minoria como os partidários pretendem justificar. São movimentos autoritários , incubados há tempos, golpistas, financiados e estimulados através das redes sociais por grupos privados (empresários , militares etc) o que só agrava o quadro. Uma espécie de contrato ,como consequência da cruzada armamentista , promovendo o surgimento de milícias politicamente orientadas, dispostas a praticar atentados e atos terroristas.
As cicatrizes não ficarão só na destruição dos patrimônios , nas obras de arte , nas cenas escatológicas. Mas também num futuro onde a imprevisibilidade da convivência é assustadora. Estamos num ponto de inflexão.
Em sua palestra, Adorno diz que não era incomum ouvir na Alemanha dos anos 1960 o seguinte argumento: “Antes de ele ter feito aquela guerra idiota, com Hitler estava bastante bom para a gente.”
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