Em um clima político polarizado, os cidadãos freqüentemente
experimentam um choque de valores ao debater questões sociais urgentes. Uma
questão central na psicologia política tem sido a interpretação de como as
ideologias que representam esses valores conduzem a cognição, emoção e o comportamento
humano.
Notavelmente, estudos de Jost em 2017 afirmam que a esquerda
e a direitas diferem em seus estilos cognitivos, conforme refletido no aumento
da “ mente fechada” entre os indivíduos
de direita. Nos últimos anos, entretanto, os pesquisadores têm reconhecido cada
vez mais que não apenas a orientação política, mas também o extremismo político
preveem significativamente as respostas das pessoas a eventos sociais e
políticos.
O extremismo é definido como a medida em que os cidadãos
comuns são polarizados e se identificam fortemente com perspectivas ideológicas
genéricas de esquerda ou direita. Existem quatro características psicológicas
do extremismo político, que não são únicas, mas são as bem apoiadas por
evidências empíricas e contribuem conjuntamente para uma compreensão
parcimoniosa desse fenômeno.
1.Estresse psicológico
A base desse argumento é que o sofrimento psicológico –
definido como uma sensação de falta de sentido que decorre da incerteza –
estimula a adesão a ideologias extremas. Esse argumento é consistente com a
teoria da busca de significado : as pessoas se radicalizam pela necessidade de
pertencimento e respeito ao apoiarem uma causa significativa. Podem preceder
essa adesão eventos pessoais ou sociais angustiantes ( injustiças, crises
econômicas, guerras) que contribuem para a busca de um senso de propósito por
meio de convicções ideológicas. Embora a teoria da busca de significado tenha
sido originalmente projetada para explicar o terrorismo, esses processos também
contribuem para o extremismo político entre os cidadãos comuns.
Vários estudos analisam a relação entre sofrimento
psicológico e ideologias políticas extremas. Em comparação com os moderados, os
extremistas – tanto à esquerda quanto à direita do espectro – relatam maior
ansiedade sobre seu futuro econômico. São mais desconfiados do que os moderados
em relação às instituições governamentais, sugerindo expectativas angustiadas
em relação a estas. O sofrimento psíquico estimula uma preferência por líderes
que, além de radicais, também são orientados para o grupo. Sentimentos de
angústia tornam, portanto, correntes políticas que não são apenas extremas, mas
também nacionalistas, particularmente atraentes.
2. Simplicidade cognitiva
Em segundo lugar, as ideologias extremas são caracterizadas
por uma percepção relativamente simplista, em preto e branco, do mundo social.
Sentimentos de angústia levam a um desejo de clareza, e sistemas de crenças
extremistas fornecem significado a um ambiente social complexo por meio de um
conjunto de suposições diretas que tornam o mundo mais compreensível. Esses
insights teóricos, portanto, preveriam uma ligação entre o extremismo político
e a simplicidade cognitiva. As evidências sugerem que os extremistas veem os
eventos sociais e políticos de maneira mais simples. Embora a esquerda e a
direita endossassem soluções diametralmente diferentes para a crise dos
refugiados na Europa (com a esquerda sendo mais inclusiva e a direita mais
exclusiva) ambas acreditavam que a solução para essa crise era simples –
distinguindo-se dos moderados, que acreditavam que soluções mais complexas eram
necessárias . Essa simplicidade cognitiva também se reflete na tendência dos
extremistas de acreditar em teorias da conspiração. Embora a esquerda e a
direita tenham a mesma probabilidade de endossar essas teorias, os extremos
políticos acreditam mais fortemente do que os moderados.
O extremismo político está associado a uma visão
relativamente simplista do mundo social e político.
3. Excesso de confiança
A terceira característica psicológica é que os extremistas
políticos confiam demais em seus julgamentos.Esse aspecto associa-se à
simplicidade cognitiva. As pessoas estão mais confiantes sobre domínios de
julgamento que parecem simples. Consideram suas crenças políticas superiores em
uma variedade de tópicos : saúde, imigração ,ações afirmativas etc, em comparação
com os moderados.
A superioridade da crença é um mau preditor do conhecimento
real e prevê uma tendência para selecionar informações agradáveis, mas ignorar
informações desagradáveis (ou não consistentes com seus pré julgamentos) .
4. Intolerância
A característica psicológica final é que os extremistas são
menos tolerantes com diferentes grupos e opiniões do que os moderados. Através
dos processos combinados de simplicidade cognitiva e excesso de confiança, os
extremistas podem experimentar seus julgamentos morais como absolutos e que
refletem uma verdade simples e universal. Tal superioridade moral implica que
diferentes valores e crenças – e os grupos de pessoas que os endossam – são
considerados moralmente inferiores. Essa linha de raciocínio é consistente com
as descobertas de que fortes convicções morais predizem intolerância.
A teorização anterior muitas vezes interpretou a
intolerância como um fenômeno predominantemente de direita. Por exemplo, as
pessoas à direita têm mais preconceito em relação às minorias étnicas do que as
pessoas à esquerda. No entanto, o preconceito pode se aplicar a uma gama mais
ampla de categorias sociais do que às minorias. Os resultados de diversos
trabalhos destacam que as pessoas na esquerda e na direita têm preconceito em
relação a grupos estereotipados associados a diferentes ideologias. Exemplos de
categorias sociais sujeitas ao preconceito de esquerda incluem cristãos,
empresários e militares; exemplos de categorias sociais sujeitas ao preconceito
de direita incluem minorias étnicas, gays e lésbicas e feministas. Tanto para a
esquerda quanto para a direita, tal preconceito é atribuível a um conflito
ideológico que se baseia na suposição de que pessoas com uma identidade social
diferente também têm diferentes crenças ideológicas.
A orientação política vem se tornando um preditor de
intolerância pior do que se supunha. O extremismo político prevê de forma
confiável a intolerância.
As quatro características psicológicas discutidas aqui
sugerem que o extremismo político é alimentado por sentimentos de angústia e se
reflete na simplicidade cognitiva, excesso de confiança e intolerância. Esses
insights são importantes para entender como a polarização aumenta a instabilidade política e a
probabilidade de conflito entre grupos na sociedade. A confiança excessiva na
superioridade moral das próprias crenças ideológicas impede a interação
significativa e a cooperação com diferentes grupos ideológicos e estrutura a
tomada de decisão política como um jogo de soma zero com vencedores e
perdedores. Fortes convicções morais diminuem consistentemente a capacidade das
pessoas de se comprometer e até mesmo aumentam a disposição de usar a violência
para alcançar objetivos ideológicos. Esses processos são exacerbados pela
tendência das pessoas de se expor seletivamente a pessoas e ideias que validam
suas próprias convicções.E nesse ponto o poder das fontes de informação e
desinformação se espalham seletivamente em câmaras de eco online de pessoas
afins.
Esta análise pode nos ajudar a entender , de pelo menos três
maneiras , os fenômenos políticos-culturais da nossa sociedade.
Em primeiro lugar, as características ajudam a explicar por
que, ao longo do século passado, não apenas movimentos de extrema direita, mas
também de extrema esquerda (por exemplo, socialismo, comunismo) prosperaram em
tempos de crise. Em segundo lugar, entender a mentalidade dos extremistas em
todos os cantos do espectro político é importante em tempos de polarização e
retórica populista. Isso pode ajudar a explicar por que os partidos
tradicionalmente moderados na Europa sofreram perdas eleitorais substanciais enquanto
o apoio a partidos populistas de esquerda e direita aumentou. Em terceiro
lugar,os argumentos são baseados em evidências de vários países com diferentes
sistemas políticos, o que sugere que eles se aplicam tanto a sistemas
bipartidários (por exemplo, os Estados Unidos) quanto a sistemas
multipartidários..
É importante ressaltar que os recursos apresentados podem
ter implicações sociais negativas e positivas. Muitos movimentos que já foram
considerados radicais foram responsáveis por importantes mudanças sociais
(por exemplo, movimentos de direitos humanos).Não apenas os extremistas
defensores da escravidão, mas também os extremistas abolicionistas apresentaram
complexidade integrativa diminuída em comparação com pessoas consideradas
moderadas na época; entretanto, poucas pessoas hoje em dia contestariam que os
abolicionistas estavam moralmente certos (na verdade, requer pouca complexidade
cognitiva para concluir que a escravidão é errada). As pessoas podem endossar
tanto simplificações prejudiciais quanto verdades morais simples com grande
confiança; além disso, a intolerância a movimentos ideológicos motivados pelo
ódio (por exemplo, supremacismo branco) pode ser compatível com o progresso
moral.
A analise destas caracteristicas fornecem uma perspectiva
psicológica sobre o extremismo político e contribuem para uma compreensão mais
completa de como a ideologia política prevê a cognição, emoção e comportamento
humano.
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