domingo, 13 de novembro de 2022

uma nova "onda" de covid 19

 

Uma nova onda de COVID chegou ao Brasil. Seria devido ao aumento da prevalência da sublinhagem BQ.1?  Qual será o impacto real por aqui?

Para usar uma analogia : a sublinhagem BQ.1, também chamada de 22E,  é “filha” da variante BA.5 e “neta” da Omicron original. Não temos idéia da situação epidemiológica atual.O Brasil reduziu nos últimos meses drasticamente a vigilância epidemiológica molecular, dez laboratórios brasileiros já não fazem mais vigilância genômica, tornando obscuro o cenário ao nível nacional. E os poucos que fazem, quando divulgam dados de sequenciamento, estes se referem há exames realizados há 2-3 semanas atrás.

O dado mais atualizado que é do Butantan, que mostra um rápido aumento da BQ.1 em São Paulo, chegando a 20-25% das amostras. Como os dados se referem a amostras coletadas há semanas atrás, podemos supor que a partir da próxima semana ( a partir de 15/11/22) a BQ.1 já seja o SARS-CoV-2 presente na maior parte dos infectados brasileiros.

Sabendo da capacidade de “escape” desta sublinhagem às nossas defesas imunológicas, o aumento de sua prevalência deve estar diretamente associado a nova onda.A infectividade da BQ.1 também ocorre pelo fato que a vacinas atuais vão perdendo seu poder de proteção com o passar do tempo da última vacinação. Um estudo de Israel publicado no NEJM nesta semana demonstrou que 13 semanas após a quarta dose, já não restam mais anticorpos do que a pessoa tinha após a terceira dose.   E dos brasileiros que se vacinaram com quatro doses, a grande maioria o fez há mais de 3 meses. No Brasil menos da metade das pessoas fizeram o primeiro reforço (a terceira dose ou segunda se Janssen inicial)... e estes (a maioria), se forem infectados nesta nova onda, estão em risco aumentado inclusive de doença grave, hospitalização e morte visto que para proteger de doença grave causada por Omicron e suas sublinhagens (BQ.1), duas doses é pouco! Em especial os idosos, precisam de terceira e quarta dose, e quinta original  ou bivalente!

A nova geração de vacinas bivalentes, contendo a variante BA.5 (que é a “mãe” da BQ.1), já estão disponíveis e sendo aplicadas em vários países como reforço. Elas têm efetividade de proteção para as sub-linhagens atuais, maior do que a vacina que ainda recebemos no Brasil.

O Brasil, como sempre, não fez enorme esforço para ter este tipo de vacina. O Chile, nosso vizinho, já aplica a bivalente há um mês. Nós, só o ano que vem ( esperamos !!!). O reforço com a vacina bivalente contendo a variante BA.5 é atualmente a melhor estratégia para proteger da sub-linhagem BA.1.  Mas a vacina original é MUITO melhor do que nada.

Uma terceira dose reduz muito o risco de doença grave, hospitalização e óbito, e uma quarta dose segura isto por 2-3 meses. Então, o governo tem que agilizar o acesso as vacinas bivalentes, e as pessoas que não fizeram a terceira dose ou a quarta, tem que correr para fazer já!

O Governo tem um ENORME desafio ainda em relação a vacinação para COVID. As prioridades seriam :

Aumentar as coberturas de primeira dose de reforço. Cobertura está abaixo de 50%;

Aumentar as coberturas de segunda dose de reforço para as pessoas com mais de 40 anos. Cobertura nessa população está abaixo de 17%;

Aumentar a cobertura de vacinação nas crianças de 3-11 anos. Atualmente é só de 53%;

Iniciar a aplicação de terceira dose para crianças entre 5-11 anos;

Avançar na aplicação de terceira dose para adolescentes entre 12-17 anos;

Aplicar primeira dose para TODAS as crianças com mais de 6 meses de idade. As crianças brasileiras com menos de 3 anos não foram vacinadas!

4-5 doses para imunosuprimidos;

Providenciar vacinas bivalentes para reforço.

 

Saberemos se haverá impacto de aumento de hospitalizações e mortes pela onda BQ.1 nas próximas semanas, observando os norte-americanos, até porque o aspecto “falta de vacina” não existe por lá, e lá a onda de BQ.1 já está em estágio mais avançado do que por aqui. Porém, nos EUA só 35% receberam a terceira dose e 25% se recusam a receber qualquer vacina.  O grupo controle “perfeito” para sabermos de antemão como seremos impactados por aqui.

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