sábado, 19 de novembro de 2022

raciocínio motivado

 





O raciocínio motivado é um viés que pode ocorrer em um pesquisador científico.

É qualquer influência que pode haver sobre os resultados de sua pesquisa, derivada da interação com os participantes ou de erros não intencionais de observação, medição, análise ou interpretação.

Simplificando, se você quer que algo seja verdadeiro, você inconscientemente dirige sua investigação de forma a chegar a essa conclusão. Quando isso acontece, as interpretações são moldadas por sua conveniência em vez de puramente pelas evidências disponíveis.

O viés inconsciente é potente e pode influenciar a pesquisa em todas as etapas: coleta de dados, seleção de amostras, classificação e interpretação dos resultados. E, infelizmente, o raciocínio motivado é onipresente na ciência.

Um possível caso foi um estudo sobre mortalidade em crianças e jovens devido a COVID-19.

O artigo analisou óbitos em crianças e jovens na Inglaterra no período de Março de 2020 a Dezembro de 2021. Ele avaliou todas as 185 mortes de menores de 20 anos na Inglaterra que testaram positivo para SARS-CoV-2 nos 100 dias antes de sua morte . A pergunta : qual dessas pessoas realmente morreu de infecção pelo vírus?

Os autores concluem que o número é muito baixo. E é claro que essa é a conclusão que todos gostaríamos de ouvir!  Mas devemos acreditar?

O fato de que o resultado do artigo é claramente desejável deve nos colocar em alerta máximo. Não apenas é obviamente esperado que poucos jovens morram de COVID-19, como a conclusão também se encaixa na narrativa do SARS-CoV-2 como um vírus leve com o qual podemos conviver sem fazer muito a respeito. Esse enredo claramente tem um forte efeito influenciador sobre as pessoas

Um revisor independente do estudo viu que os autores removeram convenientemente metade das mortes porque “julgaram” que a COVID-19 não era a causa do desfecho, embora essa fosse a causa especificada em seus atestados de óbito. E também, novamente convenientemente, excluíram as mortes por MIS-C (síndrome inflamatória multissistêmica em crianças), embora essa seja uma consequência bem conhecida de uma infecção por SARS-COV-2 nessa idade. Esses são os tipos de intervenções do pesquisador que são potencialmente influenciadas por vieses inconscientes.

É claro que os autores racionalizaram essas decisões para si mesmos e para o leitor. Eles estão convencidos de que tomaram a decisão certa. Mas é difícil negar que as condições aqui são ideais para o viés do pesquisador: um resultado desejável combinado com um momento de julgamento pessoal dos próprios pesquisadores.

Talvez o problema já tenha surgido na forma como o estudo foi enquadrado. Os autores se perguntaram quão raras são as mortes por COVID-19 em crianças e jovens. Eles concluíram que eram realmente muito raras, mesmo com o surgimento de novas variantes do SARS-CoV-2. Mas parece claro que, com essa configuração de pesquisa, os pesquisadores já se prepararam para a bem-vinda conclusão.

O raciocínio motivado é onipresente, e você deve sempre ter muito cuidado com estudos científicos que chegam a uma conclusão obviamente desejável.

O viés também é comum no mundo não científico. Como as pessoas querem que a pandemia acabe, elas interpretarão a situação ao seu redor de uma forma que satisfaça esse desejo. Desviam o olhar nos momentos certos ou descrevem o que vêem ou ouvem em termos do que lhes sejam mais aceitáveis.

Isso pode se estender para o dia-a dia da pandemia : o médico não fará o teste de vírus em seus pacientes porque a disseminação da comunidade é supostamente baixa (não é). Ou o professor da escola que atribui o aumento do cansaço ou distração de seus alunos ao estresse ou problemas de saúde mental devido a uma situação em casa(também não é). O empregador que exige uma explicação sobre a redução da força de trabalho sem querer pensar que a Covid longa pode ter algo a ver com isso. Ou pessoas que apresentam sintomas persistentes ou recorrentes de COVID-19 e se convencem de que não é tão ruim porque acreditam que o vírus é leve (novamente, não é).

Por meio desse tipo de viés cognitivo, uma sociedade pode se convencer com bastante sucesso de que está tudo bem. Mesmo quando não está !!!!!

domingo, 13 de novembro de 2022

uma nova "onda" de covid 19

 

Uma nova onda de COVID chegou ao Brasil. Seria devido ao aumento da prevalência da sublinhagem BQ.1?  Qual será o impacto real por aqui?

Para usar uma analogia : a sublinhagem BQ.1, também chamada de 22E,  é “filha” da variante BA.5 e “neta” da Omicron original. Não temos idéia da situação epidemiológica atual.O Brasil reduziu nos últimos meses drasticamente a vigilância epidemiológica molecular, dez laboratórios brasileiros já não fazem mais vigilância genômica, tornando obscuro o cenário ao nível nacional. E os poucos que fazem, quando divulgam dados de sequenciamento, estes se referem há exames realizados há 2-3 semanas atrás.

O dado mais atualizado que é do Butantan, que mostra um rápido aumento da BQ.1 em São Paulo, chegando a 20-25% das amostras. Como os dados se referem a amostras coletadas há semanas atrás, podemos supor que a partir da próxima semana ( a partir de 15/11/22) a BQ.1 já seja o SARS-CoV-2 presente na maior parte dos infectados brasileiros.

Sabendo da capacidade de “escape” desta sublinhagem às nossas defesas imunológicas, o aumento de sua prevalência deve estar diretamente associado a nova onda.A infectividade da BQ.1 também ocorre pelo fato que a vacinas atuais vão perdendo seu poder de proteção com o passar do tempo da última vacinação. Um estudo de Israel publicado no NEJM nesta semana demonstrou que 13 semanas após a quarta dose, já não restam mais anticorpos do que a pessoa tinha após a terceira dose.   E dos brasileiros que se vacinaram com quatro doses, a grande maioria o fez há mais de 3 meses. No Brasil menos da metade das pessoas fizeram o primeiro reforço (a terceira dose ou segunda se Janssen inicial)... e estes (a maioria), se forem infectados nesta nova onda, estão em risco aumentado inclusive de doença grave, hospitalização e morte visto que para proteger de doença grave causada por Omicron e suas sublinhagens (BQ.1), duas doses é pouco! Em especial os idosos, precisam de terceira e quarta dose, e quinta original  ou bivalente!

A nova geração de vacinas bivalentes, contendo a variante BA.5 (que é a “mãe” da BQ.1), já estão disponíveis e sendo aplicadas em vários países como reforço. Elas têm efetividade de proteção para as sub-linhagens atuais, maior do que a vacina que ainda recebemos no Brasil.

O Brasil, como sempre, não fez enorme esforço para ter este tipo de vacina. O Chile, nosso vizinho, já aplica a bivalente há um mês. Nós, só o ano que vem ( esperamos !!!). O reforço com a vacina bivalente contendo a variante BA.5 é atualmente a melhor estratégia para proteger da sub-linhagem BA.1.  Mas a vacina original é MUITO melhor do que nada.

Uma terceira dose reduz muito o risco de doença grave, hospitalização e óbito, e uma quarta dose segura isto por 2-3 meses. Então, o governo tem que agilizar o acesso as vacinas bivalentes, e as pessoas que não fizeram a terceira dose ou a quarta, tem que correr para fazer já!

O Governo tem um ENORME desafio ainda em relação a vacinação para COVID. As prioridades seriam :

Aumentar as coberturas de primeira dose de reforço. Cobertura está abaixo de 50%;

Aumentar as coberturas de segunda dose de reforço para as pessoas com mais de 40 anos. Cobertura nessa população está abaixo de 17%;

Aumentar a cobertura de vacinação nas crianças de 3-11 anos. Atualmente é só de 53%;

Iniciar a aplicação de terceira dose para crianças entre 5-11 anos;

Avançar na aplicação de terceira dose para adolescentes entre 12-17 anos;

Aplicar primeira dose para TODAS as crianças com mais de 6 meses de idade. As crianças brasileiras com menos de 3 anos não foram vacinadas!

4-5 doses para imunosuprimidos;

Providenciar vacinas bivalentes para reforço.

 

Saberemos se haverá impacto de aumento de hospitalizações e mortes pela onda BQ.1 nas próximas semanas, observando os norte-americanos, até porque o aspecto “falta de vacina” não existe por lá, e lá a onda de BQ.1 já está em estágio mais avançado do que por aqui. Porém, nos EUA só 35% receberam a terceira dose e 25% se recusam a receber qualquer vacina.  O grupo controle “perfeito” para sabermos de antemão como seremos impactados por aqui.

a ignorãncia que nos assola


 Uma das falácias mais desequilibradas de muitos negacionistas e minimizadores da COVID é que ser repetidamente infectado com COVID simplesmente não é grande coisa, especialmente em crianças, e todos devemos aceitar passivamente esse “novo normal”.

Isso é obviamente absurdo, especialmente porque o vírus está em circulação há apenas alguns anos. Estamos aprendendo , infelizmente com pesarosos exemplos, diversas alterações orgânicas de curto,médio e longo prazo.

Segue uma lista dos tipos de danos que esta doença pode infligir a qualquer um que for infectado com a respectiva referência

MORTALIDADE GERAL:

(Safety & Health Magazine) Estudo revela altas taxas de mortalidade por COVID-19 entre pessoas de classe sócio-econômica mais baixa - portanto, as pessoas da classe trabalhadora têm muito mais probabilidade de morrer. Para quem defende tanto a economia isso já não bastaria ?

(Scientific American) O número de crianças órfãs pela COVID continua aumentando - de janeiro de 2020 a maio de 2022, mais de 10,5 milhões de crianças em todo o mundo perderam cuidadores primários ou secundários para a doença.

(Inside Medicine) Crianças pequenas estão sendo hospitalizados com Covid em taxas mais altas do que a maioria dos adultos e idosos. Pelo menos 3 crianças morrem por dia atualmente pela Covid nos USA.

(Forbes) Mais perigo à frente com as sub-variantes: reinfecção dobra o risco de morte, coágulos sanguíneos e danos nos pulmões.

(Financial Times) A ​​crescente evidência de que o Covid-19 está deixando as pessoas mais doentes impacta nos marcadores econômicos.

(medRxiv) Estimando o número de mortes por COVID-19 nos Estados Unidos - A partir de 04 de abril de 2022, uma estimativa de mais de 80 a 100.000 mortes por reinfecções nos vacinados.

INCAPACIDADE GERAL E COVID LONGA:

(Axios) Long COVID ainda está incapacitando milhões de americanos

(Journal of Medical Virology) Excesso de risco de mortalidade por infarto agudo do miocárdio durante a pandemia de COVID-19

(BMG) Covid-19: OMS pede ação já que 17 milhões de casos longos de covid são estimados na Europa neste inverno

(WSWS) Longo COVID e a classe trabalhadora: relatório da Brookings Institution descobre que milhões deixaram a força de trabalho por algum período.

(Business Insider) Os profissionais de saúde com COVID há muito tempo estão tendo suas carreiras interrompidas devido a sintomas debilitantes, à medida que o setor luta contra a escassez de mão de obra.(

medRxiv) COVID Longo em Crianças e Adolescentes: Uma Revisão Sistemática e Meta-análises - A prevalência de COVID Longo em crianças/adolescentes é de 25,24%.

CÉREBRO:

( Nature Public Health Emergency Collection ) Hipometabolismo detectado por PET scan cerebral em pacientes com COVID longa

(Vanderbilt University Medical Center) Complicações neurológicas comuns em crianças hospitalizadas com COVID

(Oxford Academic) Como o COVID-19 afeta os microvasos no cérebro.

(Oxford Academic) Lesão neurovascular com ativação do complemento e inflamação no COVID-19

(Journal of Neuroinflammation) SARS-CoV-2 infecta células endoteliais microvasculares do cérebro humano.

(Cell) COVID leve pode causar desregulação de células neurais de várias linhagens e mielina

(Bloomberg) Covid pode encolher o cérebro tanto quanto uma década de envelhecimento.

(The BMJ) Parosmia – uma consequência comum da covid-19 – perda de olfato e paladar, também reconhecida como dano cerebral.

(Medscape) Perda olfativa a longo prazo no COVID-19 ligada a danos no bulbo olfativo do cérebro

(SciTechDaily) Impactos graves do COVID-19 no cérebro - mesmo em pessoas que não experimentaram sintomas respiratórios graves.

(WebMD) Pandemia COVID-19 pode aumentar as taxas globais de demência.

SISTEMA CARDIOVASCULER

(Circulation) Associação de COVID-19 com doenças trombóticas arteriais e venosas principais: um estudo de coorte populacional de 48 milhões de adultos na Inglaterra e no País de Gales.

(Nature Medicine) Envolvimento cardíaco prolongado em pessoas previamente bem após COVID-19 leve

(Blood Advances) Evidência de microangiopatia trombótica em crianças com SARS-CoV-2 em todo o espectro de apresentações clínicas.

(medRxiv) Insuficiência cardíaca na infecção por Long Covid 1 ano pós-SARS-CoV-2.

SISTEMA IMUNOLÓGICO:

(CDC) Sinais de doença autoimune, dificuldade em se exercitar observado 1 ano após o COVID

(medRxiv) A infecção recente por SARS-CoV-2 anula as respostas de anticorpos e células B à vacinação de reforço

(medRxiv) Características distintivas de Long COVID identificadas por meio de perfis imunológicos

(bioRxiv) Supressão imune inata aprimorada por SARS-CoV-2 Omicron subvariantes BA.4 e BA.5.

(Science) As células T KIR+CD8+ suprimem as células T patogênicas e são ativas em doenças autoimunes e COVID-19

(NewScientist) Envelhecimento prematuro do sistema imunológico pode ser uma das causas da longa covid.

(Nature Immunology) A disfunção imunológica persiste por 8 meses após a infecção inicial leve a moderada por SARS-CoV-2.

RINS:

(HealthDay) Infecção por COVID aumenta as chances de uma criança ter diabetes tipo 1 em 72%.

GRAVIDEZ E SAÚDE REPRODUTIVA:

(NewsMedical) COVID-19 durante a gravidez prejudica a resposta imune da placenta a novas infecções.

(International Journal of Impotence Research) Ponta do iceberg: disfunção erétil e COVID-19

(Paternal) COVID pode estar mexendo com a fertilidade masculina, sugere estudo - Contagem de esperma reduzida

Como resolveu-se adotar a estratégia de viver com a pandemia e talvez expor a uma abordagem de infecção em massa e repetida para a população, o que estamos vendo agora é o lento desmoronamento da saúde das pessoas ocorrendo 

quarta-feira, 9 de novembro de 2022

uma ética que nos cure do ego.....artigo do teólogo Vito Mancuso

 

Procuro uma ética para estes dias difíceis que estamos vivendo, ou talvez melhor, sofrendo.

Sinto que temos uma necessidade extrema, eu diria desesperada, dado o desespero que permeia as mentes e às vezes chega a apertar nossas entranhas. Mais do que a energia do gás russo ou daquela do sol e do vento; mais do que a enésima vacina; mais do que uma lei eleitoral que finalmente funcione gerando governos estáveis; mais do que qualquer outra urgência econômica, social e política, acho que precisamos de ética. Acho que só a água é mais urgente, aquela água fonte de vida de que Francisco de Assis dizia "e muito útil e humilde e preciosa e casta".

A ética é a água da nossa alma, sem a qual ela seca e acaba morrendo. Quantas almas mortas existem em corpos ainda vivos que vagueiam por nossas cidades?

Às vezes, por esta minha exigência, sinto-me como uma voz que clama no deserto ; ou como o louco de Nietzsche que acendeu uma lanterna em plena luz do dia e começou a procurar Deus na praça do mercado, provocando os mais divertidos risos: "Ele está perdido como uma criança?"

Na verdade, não sei quão atual e compartilhada é minha busca de ética: às vezes tenho a impressão de que interesse a poucos, às vezes, ao contrário, a muitos. Quando não estou errado? Quando acho que a necessidade de ética é ignorada pela maioria? Ou quando sinto que há muitos de nós que têm essa necessidade de não se sentirem mais entre nós "estrangeiros morais"? Geralmente costumo pensar que não somos poucos a estar "em busca da moral perdida", como escreveu Eugenio Scalfari.

Acredito que muitos de nós querem assinar o manifesto em forma de tirada irônica de Alessandro Bergonzoni: "Sou a favor da cirurgia ética: é preciso refazer o juízo". Sim, cirurgia ética! Mas como se refaz o juízo? Que cirurgião procurar? É conhecida a resposta com que o louco de Nietzsche silenciou aqueles que zombavam dele: “Para onde foi Deus? Já lhes direi! Nós o matamos: vocês e eu! Somos todos seus assassinos!”. Depois explicando as consequências assim: “Não erramos como que através de um nada infinito? Não nos envolve o sopro do espaço vazio? Não está mais frio? Não advém sempre novamente a noite e mais noite?”.

Pouco mais de meio século depois, Heidegger comentava: “O mundo suprassensível dos fins e das normas já não desperta e não sustenta mais a vida. Aquele mundo perdeu por si mesmo a vida: está morto. Este é o sentido metafísico da afirmação ‘Deus está morto’". A morte de Deus, portanto, equivale à morte do Bem, a morte da ética entendida como o valor mais alto pelo qual viver.

Já ouço a objeção: "Mas há muitos ateus que são pessoas eticamente exemplares!"

Verdade, eu respondo. Desde sempre estou convencido de que a fé em um Deus transcendente não é necessária para ser bom, verdadeiro, justo, assim como desde sempre constato que há pessoas que dizem ter fé em Deus e regularmente destroçam a ética. Mas a questão não é a fé na existência de um ente pessoal e transcendente chamado Deus; a questão é, para retomar Heidegger, "o mundo suprassensível dos fins e das normas".

Vou tentar traduzir a questão existencialmente dirigindo-me ao leitor: você acha que para você existe algo mais importante do que você? Mais importante, digo, do que seu sucesso e seu prazer? Você conhece alguma coisa diante da qual sente que deve parar e conformar a ação? Existe algo indisponível para você, em relação ao qual é você que se coloca à disposição? Sim, não? Em caso afirmativo, chame como quiser este algo mais importante, talvez utopia, lei moral, beleza, verdade, ciência, justiça, ideal político, talvez até Deus; o ponto essencial, porém, é que você viva por um valor que exceda o horizonte de seu simples eu, e seus objetivos e suas normas para você derivem de outro lugar. Se for assim, você conhece algo mais forte e merecedor do que você, pelo qual você decide o que deve fazer e o que não deve fazer, então você não é um sistema fechado em si mesmo, mas um sistema aberto. E foi para denominar essa abertura de sua vida que os seres humanos de todas as civilizações passaram a falar do divino, de qualquer maneira o concebessem, seja politeísta ou monoteísta, masculino ou feminino, pessoal ou impessoal.

Portanto, é necessário que cada um responda à pergunta sobre sua própria consciência perguntando-se se reconhece ou não um valor mais importante do que si próprio. A verdadeira diferença não está entre quem crê e quem não crê, mas entre quem se supera a si próprio para servir a valores mais elevados e quem, ao contrário, traz tudo de volta para si mesmo.

A ética nasce aqui: a partir do sentimento de um valor mais alto que o eu. Por isso se apresenta estruturalmente ao imperativo e sem o imperativo simplesmente não existe, mas na melhor das hipóteses cede lugar a atitudes como cálculo, utilidade, interesse, compromisso, adequação, bondade e, no pior dos casos, apenas às vontades e aos caprichos do eu. Para que haja ética em sentido próprio é preciso que haja a percepção de estar diante de algo mais importante do que o próprio interesse pessoal e o desejo de obedecer a isso: como a voz do daimon que Sócrates ouviu dentro de si e que lhe ordenava o que não fazer ("É como uma voz que me dissuade, quando se manifesta, de fazer o que estou prestes a fazer"); como a voz divina que Moisés no Sinai ouviu dentro de si e que o levou a escrever as duas tábuas da lei com os dez mandamentos; como o imperativo categórico de Kant; como o princípio de responsabilidade de Jonas.

Esse estatuto peculiar da ética também foi reconhecido com acuidade por Nietzsche, o maior adversário da ética e sua primazia com quem travo há anos minha batalha pessoal: “Ingenuidade, quase como se sobrasse ainda uma moral quando falta um Deus que a sancione! A ‘vida após a morte’ é absolutamente necessária, se a fé na moralidade for preservada”. A vida após a morte: como já observei, este conceito não é necessariamente para ser entendido em um sentido físico ou metafísico, o essencial é que seja percebido em um sentido existencial, concebendo-o como um horizonte de valor superior em relação ao imediato interesse pessoal. É possível não acreditar na vida após a morte como morada de um Deus transcendente, e ainda assim perceber a experiência de um além vida de valor que leva à superação de si mesmo: e é justamente nessa autossuperação que a condição indispensável, sine qua non, da ética consiste. Ela nasce da percepção de estar na presença de um valor mais importante do que o interesse imediato pessoal, por exemplo na esfera política quando a proteção do bem comum é privilegiada sobre o aumento populista dos consensos. Para que haja ética, pode-se prescindir de um Deus transcendente, mas não de um deus imanente. Mas como estamos hoje nesse aspecto?

segunda-feira, 7 de novembro de 2022

o mundo de Pareto

 

O Twitter não reflete a vida real, mas, desde que foi lançado em 2006, a influência da plataforma se espalhou de forma a moldar opiniões , comportamentos , estimular polêmicas. A plataforma agora possui 330 milhões de usuários ativos em todo o mundo. Parece muito, mas representa apenas 4,2% da população mundial. Usuários ativos incluem qualquer pessoa que verifique o Twitter pelo menos uma vez por mês. Menos de 1,9% desses usuários ativos (cerca de 6,25 milhões de pessoas) acessam o Twitter diariamente. O número de pessoas que publicam conteúdo é ainda menor. Um estudo do Pew Research Center de 2018 descobriu que 80% desse conteúdo é gerado por 10% dos usuários. No entanto, essa pequena porcentagem parece ter tomado a humanidade de assalto, indiscutivelmente influenciando eleições, transformando economias, construindo comunidades e destruindo-as.

Como um grupo tão pequeno chegou a ocupar uma posição tão central?

Em 1906, o matemático Vilfredo Pareto notou, com surpreendente consistência ao longo da história, que cerca de vinte por cento dos italianos possuíam cerca de oitenta por cento das terras da região. Em pouco tempo, Pareto estava encontrando a mesma divisão 80/20 em todos os lugares que olhava. Por exemplo, em seu próprio quintal, Pareto observou que vinte por cento das plantas de ervilha produziam oitenta por cento das ervilhas. Desde então, os matemáticos notaram essa proporção comum, tanto na sociedade humana quanto no mundo natural: vinte por cento dos filmes geram oitenta por cento das vendas de ingressos; vinte por cento dos criminosos cometem oitenta por cento dos crimes, etc. Em muitas situações, uma minoria chega a deter a participação majoritária da influência, não por ordem legal, mas por lei natural. Isso nem sempre é ruim. Mas quando as minorias se tornam monárquicas surgem problemas.

Outra coisa que pode ajudar uma minoria a ganhar poder descomunal é a inflexibilidade . Em seu livro sobre influência social assimétrica, “Skin in the Game” , Nassim Nicholas Taleb relata como um colega seu notou que, quando ele dá uma festa, a maioria dos homens prefere beber cerveja e a maioria das mulheres prefere beber vinho, mas se ele serve apenas cerveja, a maioria de suas convidadas não a beberá, enquanto que se ele servir apenas vinho, a maioria dos homens beberá — eles tendem a ser menos exigentes.

Os gostos da minoria intransigente prevalecem. Ainda outro fator, diz Taleb, é quão altas são as apostas para a minoria.Um subgrupo de apenas três por cento da população pode muitas vezes influenciar o resto; uma minoria ainda menor pode fazê-lo se não tiver outras opções ou nada a perder.

Com o advento das mídias sociais, a política passou por uma fase de transição. Em seu artigo de 2019, “Algorithmic Populism and Algorithmic Activism”, Ico Maly descreve como o uso de algoritmos para transmitir e moldar a opinião popular e criar uma enorme oportunidade para manipulação tecnocrática. Em todo o cenário midiático, o uso de algoritmos para desviar a atenção das pessoas e maximizar o lucro tornou-se uma prática padrão. As preocupações com os algoritmos de classificação de página do Google, a monetização do YouTube e a personalização do Facebook crescem a cada dia. E não são apenas os mecanismos de busca e proprietários corporativos de plataformas de mídia social que adotam essa prática. Alguns influenciadores de mídia social contratam fábricas de cliques para aumentar artificialmente suas postagens no Instagram.

Apoiada pelo big data , a computação está redefinindo a popularidade . Os números importam. A popularidade é um conceito codificado e quantificado e, como tal, é manipulável. Na internet, as medidas de popularidade social e política são reduzidas a métricas manipuláveis. Para muitas pessoas, sua reputação pública não é mais formada principalmente por bate-papos entre vizinhos ou conversas no local de trabalho, mas por linhas de código cujas entradas e saídas não são rastreadas pelos algoritmos de caixa preta da grande tecnologia . No entanto, o número de seguidores, curtidas e retuítes são fatos políticos. As pessoas intuitivamente dão tanto crédito a essas medidas digitais de opinião pública quanto às antigas.

Mas por que eles fazem isso?

Em 1977, o zoólogo John Krebs surgiu com o que ele chamou de hipótese “ beau geste” : a ideia de que alguns pássaros fazem muito barulho para criar a ilusão de que existem muitos deles. Na verdade, eles estão fingindo seguidores, no estilo aviário. Da mesma forma, tribos de humanos twittando, escondidos atrás de telas em vez de árvores, elevaram a arte do gaslighting social a novas alturas. Graças à digitalização da esfera social, a hipótese beau geste agora se aplica ao comportamento humano: o Twitter é um megafone de sonho para minorias tagarelas. Por trás de muitas campanhas no Twitter, muitas vezes pode haver apenas um punhado de guerreiros do teclado e, por trás de muitos casos de perseguição no Twitter, alguns lobos solitários.

Quando se trata de Twitter, lembre-se de que o que parece ser muitos são, na verdade , poucos – e lembre-se de quão poucos. Twitter não é vida real. É apenas uma fração.

domingo, 6 de novembro de 2022

uma polêmica análise da razão

  

Uma vez formadas, as impressões são notavelmente perseverantes.

Mesmo depois que as evidências de suas crenças foram totalmente refutadas, as pessoas não conseguem fazer as revisões apropriadas nessas fés.Humanos aparentemente razoáveis ​​são muitas vezes totalmente irracionais. Como chegamos a ser assim?

Em um novo livro, “The Enigma of Reason” , os cientistas cognitivos Hugo Mercier e Dan Sperber tentam responder a essa pergunta. Eles apontam que a razão é um traço evoluído, surgida nas savanas da África e deve ser entendido nesse contexto. O argumento de Mercier e Sperber é mais ou menos o seguinte: a maior vantagem dos humanos sobre outras espécies é nossa capacidade de cooperar. A cooperação é difícil de estabelecer e quase tão difícil de sustentar. A razão foi desenvolvida não para nos permitir resolver problemas abstratos e lógicos ou mesmo para nos ajudar a tirar conclusões de dados desconhecidos; em vez disso, evoluiu para resolver os problemas apresentados na convivência de grupos colaborativos.

O livro mostra que a razão é uma adaptação ao nicho hipersocial que os humanos evoluíram para si mesmos.. Hábitos mentais que parecem estranhos ou imbecis do ponto de vista “intelectualista” se mostram perspicazes quando vistos de uma perspectiva social “interacionista”.

Considere o que ficou conhecido como “viés de confirmação”, a tendência que as pessoas têm de aceitar informações que apóiam suas crenças e rejeitar informações que as contradizem. Das muitas formas de pensamento falho que foram identificadas, o viés de confirmação está entre os mais bem catalogados; é o assunto de experimentos de inúmeros livros didáticos.

Se a razão é projetada para gerar julgamentos sólidos, então é difícil conceber uma falha de projeto mais séria do que o viés de confirmação. Na medida em que o viés de confirmação leva as pessoas a descartarem evidências de ameaças novas ou subestimadas , ele passa a ser uma característica que deveria ter sido selecionada.Ele tem alguma função adaptativa, e essa função, está relacionada à nossa “hipersociabilidade”.

Os humanos não são aleatoriamente crédulos. Diante do argumento de outra pessoa, somos bastante hábeis em identificar os pontos fracos. Quase invariavelmente, as posições sobre as quais estamos cegos são as nossas.Outros cientistas cognitivos também acreditam que a sociabilidade é a chave para o funcionamento da mente humana ou, talvez mais pertinente, para o mau funcionamento. As pessoas acreditam que sabem muito mais do que realmente sabem. O que nos permite persistir nessa crença são as outras pessoas.Colaboramos tão bem que mal podemos dizer onde termina nossa própria compreensão e começa a dos outros.

Uma implicação da naturalidade com que dividimos o trabalho cognitivo é que não existe nenhuma fronteira nítida entre as ideias e o conhecimento de uma pessoa e os de outros membros do grupo. Essa ausência de fronteiras também é crucial para o que consideramos progresso. À medida que as pessoas inventavam novas ferramentas para novas formas de vida, ao mesmo tempo criavam novos reinos de ignorância; se todos tivessem insistido em, digamos, dominar os princípios da metalurgia antes de pegar uma faca, a Idade do Bronze não teria sido grande coisa. Quando se trata de novas tecnologias, a compreensão incompleta é fortalecedora.

Onde entramos em real problema é no domínio político. Uma coisa é dar descarga em um vaso sanitário sem saber como funciona, e outra é ser a favor (ou contra) a uma proibição de imigração sem saber do que se está falando. Como regra, sentimentos fortes sobre questões não emergem de uma compreensão profunda. E aqui nossa dependência de outras mentes reforça o problema. É assim que uma comunidade de conhecimento pode se tornar perigosa.

Se nós — ou nossos amigos - gastássemos menos tempo pontificando e mais tentando trabalhar as implicações das propostas de políticas, perceberíamos como somos ignorantes e moderaríamos nossos pontos de vista. Isso pode ser a única forma de pensamento que quebrará a ilusão de profundidade explicativa e mudará as atitudes das pessoas.

As formas de pensar que agora parecem autodestrutivas devem, em algum momento, ter sido adaptativas.As pessoas experimentam um prazer genuíno – uma onda de dopamina – ao processar informações que apóiam suas crenças.É bom 'manter nossas armas, mesmo se estivermos errados.

Hoje em dia, pode parecer que o país inteiro foi entregue a um vasto experimento psicológico conduzido por uma pessoa desqualificada. Agentes racionais seriam capazes de pensar em uma solução. Mas, sobre este assunto, a literatura não é tranquilizadora.

terça-feira, 1 de novembro de 2022

o valor estético

 

Nós nos preocupamos com muito mais do que nossas próprias vidas. Nós nos preocupamos com nossas famílias, amigos e nossas comunidades locais. Nós nos preocupamos com a cena política.De vez em quando, algo realmente horrível acontece; o tipo de calamidade que faz alguém se desesperar com o mundo. De vez em quando, uma criança é assassinada. Não importa o quão longe esteja. É importante para nós. Isso pesa sobre nós.

Os encargos morais nos fazem questionar o valor do mundo. Ele pode realmente ser um bom lugar se essas coisas acontecerem? Classicamente, este é um problema para os teístas. No entanto, qualquer um pode se perguntar que valor, se houver, nosso Universo tem. Está intimamente relacionado a se perguntar qual é o objetivo de tudo isso.

Mas talvez possamos exercer uma certa tolerância com tudo isso. Talvez devêssemos considerar o Universo como relativamente vazio e encontrar valor apenas em nossas próprias vidas, ou na vida de nossos entes queridos. Afinal, muitos afirmam que o valor em si é algo que inventamos. No entanto, precisamos questionar se o valor depende exclusivamente de nós ou não. O que valorizamos, ou devemos valorizar. Mesmo se pensarmos que o valor é algo que fazemos, ou é, em certo sentido, feito de prazer, ainda podemos nos perguntar para que essas atividades valorativas devem ser direcionadas, ou em quais coisas podemos ter prazer.

Vamos supor que em resposta ao mal alguém diga: 'Sim, bem, isso é obviamente lamentável, mas não afeta realmente o que eu valorizo. Eu só me concentro na minha própria vida e meus amigos e família.' Esta parece ser uma atitude extraordinariamente mesquinha. Mas nós deveríamos definir o valor de nossas vidas dentro de um contexto mais amplo. Podemos fazer parte de um mundo bom, e até contribuírmos para a sua bondade. Com isso o valor de nossas próprias vidas se torna consideravelmente mais robusto.Se nossas próprias vidas estão indo mal, ser capaz de olhar para o valor do mundo pode ser um importante atenuante contra o niilismo e o desespero.

A sabedoria acumulada por essa visão nos ensina que o que buscamos é uma espécie de valor último ou final; um valor que não requer nenhuma justificativa ou justificativa adicional. Então, podemos encontrar valor final no mundo? Sim, desde que estejamos em sintonia com o valor estético.

O valor estético é um termo abrangente que engloba o belo, o feio, o sublime, o dramático, o cômico, o kitsch, o estranho e muitos outros conceitos relacionados. Na medida em que nos importamos se vivemos ou não em um mundo bom, devemos ser esteticamente sensíveis. Ao lado do valor estético,existem dois outros tipos gerais de valor: valor moral e valor prudencial. No entanto, esses outros valores não podem oferecer um valor positivo final para o mundo. Valorizar algo com prudência é valorizá-lo em relação ao seu status pessoal ou daqueles com quem se está pessoalmente afiliado.Esse valor é limitado e frágil. Não pode justificar o mundo além das fronteiras estreitas da esfera pessoal. Também é constantemente vulnerável a intrusões dos (des)valores do mundo em geral.. O valor moral, entretanto, é mais amplo. Aqui nos preocupamos com as relações entre todos os seres moralmente significativos. No entanto, o mundo, em sua maior parte, não é moralmente bom. E mesmo que as pessoas parassem de se tratar tão brutalmente, não está claro se isso forneceria um valor positivo definido, mas eliminaria um valor negativo definido. Além disso, existe um vasto universo para o qual o valor moral não tem relevância alguma. O valor moral realmente diz respeito apenas às interações de humanos e alguns outros animais.

Em contraste, o valor estético é precisamente uma maneira pela qual podemos obter um valor final positivo do mundo em geral. O valor de uma coisa bela ou sublime é final porque não precisa de justificação em relação a algum outro bem. Não precisa nos tornar mais ricos, ou mais saudáveis, ou mais populares de forma alguma.É claro que como tempestades e vulcões, muitos objetos de valor estético são potencialmente prejudiciais. Ainda assim, seu valor estético permanece.Isso se deve ao modo como valorizar algo esteticamente é : uma maneira de ir além de nossas próprias preocupações pessoais e nos orientar para a bondade da coisa em si. Além disso, o escopo do valor estético é vasto. Pode absorver literalmente tudo, individualmente ou em conjunto com outras coisas.

O valor estético está sempre à mão : a qualidade lúcida da grama após a chuva; o gracioso vôo de um pássaro; um gesto elegante; uma observação espirituosa; uma  paisagem de nuvens; os tons sutis do pelo de um animal. O valor estético é superabundante. Ele absorve tudo. Uma perspectiva mais cósmica encontra a beleza em todas as coisas.

Para aqueles com sensibilidade religiosa, o valor do Universo é garantido por um ato de criação divina : o plano de Deus faz com que a vida valha a pena e este mundo seja um mundo bom. Mesmo assim, podemos manter a pretensão estética. Esse valor significa tanto para teístas quanto para ateus.Isso é demonstrado por dois de seus mais notáveis ​​defensores : Friedrich Nietzsche e Agostinho de Hipona. Nietzsche é conhecido como um dos ateus mais estridentes de todos os tempos, enquanto Agostinho é um santo literal.

Os valores estéticos constituem um conjunto de ferramentas psicológicas que nos permite apreciar literalmente tudo. A atitude estética é então a inclinação a buscar a perspectiva a partir da qual o valor final das coisas é aparente. Podemos descrevê-lo como uma espécie de otimismo de que o valor está lá fora, se observarmos as coisas da maneira certa. Também pode estar intimamente alinhado com a motivação mais pura da ciência e da filosofia: desvendar os mistérios das coisas por si mesmas.

Essas ideias – que o valor estético faz o mundo valer a pena, e que uma boa vida é vivida em busca e reflexão desse valor estético – são a substância de uma filosofia de vida chamada 'esteticismo'. Não é preciso ser artista para ser esteticista. Uma ampla gama de atividades pode ser concebida nesse sentido. Qualquer pessoa interessada em se basear nos valores estéticos do mundo e, em seguida, expressar seu senso de valor, seja criando algo ou compartilhando seu entendimento com os outros, pode legitimamente pensar em si mesmo como aderindo aos princípios esteticistas. Assim, por exemplo, estudiosos de todos os tipos podem entender suas atividades como apreciando e expressando a ordem que existe no mundo. Qualquer pessoa envolvida em engenharia ou artesanato também se baseia em princípios fundamentais sobre como as coisas se encaixam, como as forças e os materiais funcionam, que eles então incorporam nos objetos que produzem. Os cultivadores da natureza, incluindo a natureza humana, estão igualmente envolvidos na tarefa de responder a quais valores existem e filtrá-los através de suas sensibilidades especiais.

O que o esteticista resiste é a noção de que o valor moral tem prioridade máxima sobre o valor estético. A catástrofe moral nos tenta a cair no desespero e a condenar este mundo, mas o valor estético o redime. O valor estético encontra o valor final das coisas tanto em suas características quintessenciais quanto em sua manifestação de princípios naturais profundos. Ela nos permite colocar o sofrimento e o mal dentro de um contexto mais amplo. Portanto, é quando voltamos nossa atenção para o mundo como um todo que o valor estético tem prioridade.