segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

a empatia para com o "eu" futuro : um exercício positivo do egoísmo

 

Na pandemia vários pontos éticos e morais sobre o comportamento da sociedade vieram à tona. Questões sobre direitos individuais permearam as polêmicas decisões pessoais sobre o uso de máscaras , o distanciamento e a imunização . A maioria delas surgiram como expressão ideológica , política ou individualista na sua mais pura essência .

Numa vida em comunidade nossas ações repercutem de maneira silenciosa ou decisiva.Em todos os aspectos. Daí os conceitos de liberdade numa pandemia acabam perdendo a força e sendo relativizados ao fracassarem , na sua essência , ao impactarem de modo significativo na saúde do outro,parte integrante dessa comunidade e com os mesmos direitos assegurados

Milhões de pessoas têm um sistema imunológico comprometido. Uma proporção significativa delas não responde às vacinas contra COVID .Aqui se encontra uma boa parte da população idosa e pacientes com doenças ativas agudas e crônicas. Muitos países vêm abandonando as restrições contra a infecção há muito tempo. Os programas de vacinação enfrentam problemas na adesão e na obrigatoriedade do passaporte vacinal.Isso significa que as políticas que protegiam as pessoas em geral e as imunocomprometidas estão desaparecendo. Uma espécie de fadiga pandêmica ou uma tentativa sem embasamento científico de se viver uma vida de tolerância à COVID.

Este não é um grupo pequeno. Perto de 3% dos adultos dos EUA tomam medicamentos imunossupressores, seja para tratar câncer ou doenças autoimunes ou para impedir que seu corpo rejeite órgãos transplantados ou células-tronco. Isso representa pelo menos 7 milhões de pessoas imunocomprometidas  Pacientes nessa categoria de risco sempre vivem com maior risco de infecção, mas a COVID representa uma nova ameaça que, para muitos, comprometeu ainda mais sua capacidade de fazer parte do mundo. No início da pandemia, chegamos a ouvir propostas infundadas do tipo : “ podemos proteger os vulneráveis ​​e todos os outros podem continuar com suas vidas”. Para uma infecção de transmissão respiratória está é uma sugestão suicida.

Hoje , com um cenário de alta taxa de novas infecções mas com quadros clínicos mais brandos (especialmente na população vacinada), muitas pessoas imunocomprometidas (como todos os outros) esperam expandir lentamente sua vida novamente. Mas seria seguro generalizar de modo amplo essa regra ? O número de óbitos vêm nos mostrando que não.

O mundo passou por mudanças para contemplar as diferenças. Rampas, botões de acessibilidade, leitores de tela e muitas outras medidas facilitaram a vida das pessoas com deficiência, e uma nova onda de acomodações semelhantes agora é necessária para tornar a imunossupressão menos incapacitante na era da COVID.

Essa é uma mudança que impacta a todos pois estamos tratando de empatia ao outro. Nossos atos , mais do que nunca irão repercurtir num mundo hiperconectado. A  COVID mudou muita coisa.Nos obriga a ir além de nossas precauções anteriores pois pode se espalhar por pessoas que não estão obviamente doentes e o fez a uma velocidade vertiginosa.Quando pessoas imunocomprometidas contraem a doença elas tendem a ficar mais doentes por mais tempo .

 As vacinas devem reduzir substancialmente o risco de infecção e doenças graves, mas muitas pessoas imunocomprometidas irão responder de modo inadequado. Cerca de metade dos receptores de transplantes de órgãos não produzem anticorpos após duas doses de vacina . Em comparação com o público geral vacinado, eles têm 82 vezes mais chances de contrair infecções e 485 vezes mais chances de ficarem gravemente doentes. Caso sejam infectados, o risco de morte é de um em 10. E algumas pessoas com distúrbios autoimunes não podem ser totalmente vacinadas, porque estão em vigência de altas doses de medicamentos ou em fase clínica grave de suas doenças.

Muitas pessoas imunocomprometidas agora estão presas no limbo – sem saber o quão seguras elas realmente estão, mesmo depois de receber três doses e um reforço , como aconselha o CDC. Estudos científicos podem sugerir os riscos médios em grandes grupos, mas oferecem pouca certeza para os indivíduos

Cada infecção individual é uma aposta de alto risco. Os pacientes lutam com essas incertezas, o abismo entre eles e o resto da sociedade está aumentando. Em 2021, enquanto muitos americanos se deleitavam com suas liberdades restauradas, pessoas imunocomprometidas sentiram sua fragilidade. Quando o CDC anunciou que os americanos totalmente vacinados não precisavam mais usar máscaras em ambientes fechados, atividades simples, como compras de supermercado, tornaram-se mais perigosas para pessoas com imunodeficiências , esquecidas pelos gestores públicos.

E talvez o pior de tudo, as pessoas imunocomprometidas começaram a ser totalmente desestimuladas a manterem suas medidas de precaução por seus amigos, parentes e colegas por causa da narrativa enganosa de que a  Omicron é leve .Na verdade a variante supera algumas das defesas que até mesmo pessoas imunocompetentes construíram, tornou ineficazes vários tratamentos com anticorpos e abarrotou o sistema de saúde As pessoas ainda estão morrendo, e os pacientes com deficiência imune de forma desproporcional. Ignorar isso envia uma mensagem implícita: suas vidas não importam.

Muitos se sente assim, como se houvesse uma espécie de eugenia natural acontecendo. A eugenia – o conceito de melhorar a humanidade ao encorajar as pessoas “mais aptas” a ter filhos enquanto impede que os “inaptos” o façam – é mais comumente associada ao Holocausto. Mas no século 20, o conceito teve amplo apoio de médicos e profissionais de saúde pública, que o viram como uma forma científica de resolver problemas como pobreza e saúde precária; influenciou o desenvolvimento de testes de QI, aconselhamento matrimonial e leis de imigração. A eugenia é enquadrada como parte de um passado que acabou. A pandemia vem demonstrando que esse não é inteiramente o caso. Quando uma sociedade age como se as mortes de pessoas vulneráveis ​​fossem inevitáveis, e faz pouco para diminuir seus riscos, está implicitamente atribuindo um valor menor a certas vidas.

O sistema imunológico enfraquece com a idade, portanto, embora a maioria das pessoas nunca seja tão vulnerável quanto um receptor de transplante de órgão, sua imunidade ainda ficará parcialmente comprometida. Respeitar as necessidades das pessoas imunocomprometidas não é acomodar desproporcionalmente uma pequena minoria; trata-se realmente de ter empatia com o seu eu futuro.

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