Existem países como Austrália, Butão, China e Nova Zelândia
- que defendem a abordagem de tolerância zero para novas infecções pelo SARS
Cov2 . Quando surtos são detectados, a resposta é rápida e severa: testes em
massa, bloqueios repentinos e fronteiras fechadas.
Mas isso não pode ser sustentado indefinidamente. Temos que
aceitar que as pessoas serão infectadas, irão para o hospital e morrerão de
COVID-19 no futuro , pois estamos muito distantes de uma ação global que
consiga erradicar o vírus.
À medida que mais pessoas são vacinadas, precisamos discutir
como as sociedades podem viver com o vírus e que nível de risco estão dispostas
a absorver.Países desgastados por um longo tempo de restrições , estão
adquirindo uma passividade diante da tragédia.Não existe um número
universalmente acordado de hospitalizações e mortes que as sociedades
considerem aceitáveis.
Mortes anuais por doenças como a gripe - que antes da
pandemia matava entre um quarto de milhão a meio milhão de pessoas a cada ano
em todo o mundo - oferecem uma perspectiva.Em Israel, onde as taxas de
vacinação são altas e a vida está voltando ao normal, as pessoas parecem ter
estabelecido algumas mortes por dia como um número aceitável..
Cientistas e funcionários da saúde pública estão iniciando
discussões sobre o nível aceitável de risco, mas as decisões envolvem fatores
culturais, éticos e políticos e variam amplamente entre as regiões.Não está
claro como as mortes anuais por COVID-19 irão eventualmente se comparar com as
mortes que as sociedades estão acostumadas a tolerar devido à gripe e outras
doenças endêmicas. Este parece ser um risco aceitável para a sociedade, e a
vacinação repetida e algumas medidas de distanciamento continuado podem manter
as mortes por COVID-19 neste nível.
Mas a pandemia tornou algumas sociedades mais avessas ao
risco de mortes por infecções respiratórias. Na Nova Zelândia, por exemplo, os
bloqueios quase eliminaram a incidência da gripe e do vírus sincicial
respiratório, uma causa comum de resfriados. O que se discute agora é se
retornar ao número anterior de mortes por esses patógenos é aceitável, ou se
mais esforços deveriam ser feitos para controlá-los.
As sociedades também terão que considerar o impacto do pós
COVID, cujos sintomas afetam entre 10% e 20% das pessoas infectadas. Mesmo que
as mortes sejam baixas e os hospitais possam lidar com isso, se muitas pessoas
ficarem com deficiências de longo prazo por causa do COVID-19, isso seria um
sinal de que as taxas de infecção são muito altas.
Um outro fator que precisará ser considerado refere-se ao
nível aceitável de hospitalização e ocupação das unidades de terapia intensiva .Isso
pode implicar , por exemplo , em adiar cirurgias eletivas e outros
procedimentos que necessitem de suporte das UTIs.
Em Israel existe uma conta simples : quando 500 leitos de
UTI são ocupados em todo o país a qualidade dos cuidados de saúde declina
rapidamente e as taxas de mortalidade aumentam. O Reino Unido seguiu essa regra
geral durante toda a pandemia. Houve três lockdowns em todo o país, e cada um
deles começou quando ficou claro que o número de casos estava crescendo a ponto
de os hospitais não conseguirem lidar com isso.
Israel tem uma das taxas de vacinação mais altas do mundo,
com 60% de sua população tendo recebido pelo menos uma dose, e oferece um
vislumbre de quais níveis básicos de doenças graves e mortes podem ocorrer em
um mundo pós-vacinação. O país começou a abrir sua economia em fevereiro,
quando cerca de um terço de sua população foi totalmente vacinada e o número de
hospitalizações e mortes continuou a diminuir. Nas últimas semanas, menos de
100 novos casos foram detectados diariamente.. Se essas taxas forem
sustentadas, o número de mortos do COVID-19 em Israel pode se estabilizar entre
1.000–2.000 por ano.
Desde o início da pandemia, a equação de risco - a forma
como as pessoas equilibram os riscos de infecção e problemas causados por
restrições severas - mudou para muitos. No início, muitos países compararam o
surto com a pandemia de gripe que começou em 1918, que matou pelo menos 50
milhões de pessoas.. Mas, desde então, as percepções mudaram, à medida que as
pessoas equilibraram os riscos do COVID-19 com considerações como aumento do
desemprego,por exemplo. Um ano cansativo tornou algumas pessoas menos dispostas
a aderir às restrições e os políticos mais relutantes em impô-las..A tolerância
das pessoas hoje é muito diferente. Os riscos, para muitos, estão incluídos em
suas vidas diárias. Mas ,como pesar as consequências de nossos atos quando o
risco é para o outro também ¿ . Tão cedo não teremos essa resposta.
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