domingo, 9 de maio de 2021

Qual a mortalidade "aceitável" ?

 

Existem países como Austrália, Butão, China e Nova Zelândia - que defendem a abordagem de tolerância zero para novas infecções pelo SARS Cov2 . Quando surtos são detectados, a resposta é rápida e severa: testes em massa, bloqueios repentinos e fronteiras fechadas.

Mas isso não pode ser sustentado indefinidamente. Temos que aceitar que as pessoas serão infectadas, irão para o hospital e morrerão de COVID-19 no futuro , pois estamos muito distantes de uma ação global que consiga erradicar o vírus.

À medida que mais pessoas são vacinadas, precisamos discutir como as sociedades podem viver com o vírus e que nível de risco estão dispostas a absorver.Países desgastados por um longo tempo de restrições , estão adquirindo uma passividade diante da tragédia.Não existe um número universalmente acordado de hospitalizações e mortes que as sociedades considerem aceitáveis.

Mortes anuais por doenças como a gripe - que antes da pandemia matava entre um quarto de milhão a meio milhão de pessoas a cada ano em todo o mundo - oferecem uma perspectiva.Em Israel, onde as taxas de vacinação são altas e a vida está voltando ao normal, as pessoas parecem ter estabelecido algumas mortes por dia como um número aceitável..

Cientistas e funcionários da saúde pública estão iniciando discussões sobre o nível aceitável de risco, mas as decisões envolvem fatores culturais, éticos e políticos e variam amplamente entre as regiões.Não está claro como as mortes anuais por COVID-19 irão eventualmente se comparar com as mortes que as sociedades estão acostumadas a tolerar devido à gripe e outras doenças endêmicas. Este parece ser um risco aceitável para a sociedade, e a vacinação repetida e algumas medidas de distanciamento continuado podem manter as mortes por COVID-19 neste nível.

Mas a pandemia tornou algumas sociedades mais avessas ao risco de mortes por infecções respiratórias. Na Nova Zelândia, por exemplo, os bloqueios quase eliminaram a incidência da gripe e do vírus sincicial respiratório, uma causa comum de resfriados. O que se discute agora é se retornar ao número anterior de mortes por esses patógenos é aceitável, ou se mais esforços deveriam ser feitos para controlá-los.

As sociedades também terão que considerar o impacto do pós COVID, cujos sintomas afetam entre 10% e 20% das pessoas infectadas. Mesmo que as mortes sejam baixas e os hospitais possam lidar com isso, se muitas pessoas ficarem com deficiências de longo prazo por causa do COVID-19, isso seria um sinal de que as taxas de infecção são muito altas.

Um outro fator que precisará ser considerado refere-se ao nível aceitável de hospitalização e ocupação das unidades de terapia intensiva .Isso pode implicar , por exemplo , em adiar cirurgias eletivas e outros procedimentos que necessitem de suporte das UTIs.

Em Israel existe uma conta simples : quando 500 leitos de UTI são ocupados em todo o país a qualidade dos cuidados de saúde declina rapidamente e as taxas de mortalidade aumentam. O Reino Unido seguiu essa regra geral durante toda a pandemia. Houve três lockdowns em todo o país, e cada um deles começou quando ficou claro que o número de casos estava crescendo a ponto de os hospitais não conseguirem lidar com isso.

Israel tem uma das taxas de vacinação mais altas do mundo, com 60% de sua população tendo recebido pelo menos uma dose, e oferece um vislumbre de quais níveis básicos de doenças graves e mortes podem ocorrer em um mundo pós-vacinação. O país começou a abrir sua economia em fevereiro, quando cerca de um terço de sua população foi totalmente vacinada e o número de hospitalizações e mortes continuou a diminuir. Nas últimas semanas, menos de 100 novos casos foram detectados diariamente.. Se essas taxas forem sustentadas, o número de mortos do COVID-19 em Israel pode se estabilizar entre 1.000–2.000 por ano.

Desde o início da pandemia, a equação de risco - a forma como as pessoas equilibram os riscos de infecção e problemas causados ​​por restrições severas - mudou para muitos. No início, muitos países compararam o surto com a pandemia de gripe que começou em 1918, que matou pelo menos 50 milhões de pessoas.. Mas, desde então, as percepções mudaram, à medida que as pessoas equilibraram os riscos do COVID-19 com considerações como aumento do desemprego,por exemplo. Um ano cansativo tornou algumas pessoas menos dispostas a aderir às restrições e os políticos mais relutantes em impô-las..A tolerância das pessoas hoje é muito diferente. Os riscos, para muitos, estão incluídos em suas vidas diárias. Mas ,como pesar as consequências de nossos atos quando o risco é para o outro também ¿ . Tão cedo não teremos essa resposta.

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