sexta-feira, 28 de maio de 2021

mais evidências sobre a hidroxicloroquina

 

Após tantas polêmicas (desnecessárias) sobre o uso da hidroxicloroquina (HCQ) no tratamento da Covid , vale a pena algumas análises de estudos sérios e recentes sobre sua eficácia. Para quem faz ciência , a revisão sempre é bem vinda.Não pode haver certeza absoluta no mundo do imponderável.

Alguns novos trabalhos falam sobre a capacidade da HCQ em impedir uma das portas de entrada do vírus nas células pulmonares (novamente feitos “ in vitro “ ) , onde a HCQ parece ser bem eficaz. Porém, o estudo deixa claro que o vírus tem outras vias de entrada nas células.Então...temos um problema !.

Outra lembrança sempre pertinente : o que vemos in “vitro” , frequentemente não se correlaciona ao testarmos “in vivo”, como é o caso da HCQ. Se o vírus tem outras vias de entrada, bloquear uma delas não impede o adoecimento.Vamos avaliar , então , estudos “in vivo” . Estes mostram que HCQ tem uma concentração dentro dos tecidos até 1000x maior do que no sangue, pois ela se liga fortemente às organelas celulares de pH ácido, como endossomos, aliás é assim que ela atuaria contra o vírus, ao elevar o pH endossomal.

Mas esta propriedade torna a sua ação limitada, pois rapidamente entra nas células e não sai mais. Os autores sugerem que a concentração de HCQ com atividade antiviral usada nos estudos” in vitro”  deveria ser semelhante à concentração no sangue para a HCQ ter a mesma ação” in vivo”. Mas, como ela se difunde rapidamente para dentro das células, para atingir a mesma concentração sanguínea seria necessário uma dose absurdamente alta, maior do que a dose tóxica que consta na bula . Diante disso vem o risco da HCQ ao coração, principalmente quando usada em conjunto com a azitromicina (como é feito desde o início da pandemia).

A HCQ tem ação anti inflamatória sendo amplamente usada em doenças reumatológicas. Essa atividade poderia ser útil na fase tardia da Covid, mas não faz sentido na fase precoce, quando a resposta imunológica ao vírus ainda está se formando. E dados os riscos cardíacos, existem anti-inflamatórios melhores para essa situação.Porém , acaba de ser publicado um estudo na revista JAMA que não mostra nenhum benefício da droga em pacientes graves.

O que se pode concluir desta  mini revisão: a HCQ inibe uma das vias de entrada do vírus nas células in vitro, mas para esse efeito ser observado in vivo, seria necessário uma dose maior que a dose tóxica na bula. O efeito anti-inflamatório da HCQ também não foi observado em Covid tardia e não teria nenhuma relevância na fase precoce.

Ou seja , para os que ainda insistem nesta terapia....nada sustenta o seu uso.

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