quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Notas sobre esses tempos


 

O inusitado no COVID 19 é o fato da pandemia dar origem a uma crise sem precedentes combinando aspectos politicos , econômicos , sociais , ecológicos e comportamentais. Uma complexidade que faz jus à origem da própria palavra " complexus" que significa " o que é tecido junto ".

De repente , tudo o que parecia distante e separado é inseparável. E nos desperta para lições que deveriam nos remeter a uma reflexão plural.

A primeira passa pela questão : como você vive ?

As agruras do isolamento nos levaram a notar de modo mais claro o nosso modo de vida : nossas necessidades , nossos espaços , o que compartilhamos , as rotinas , enfim : a nossa condição humana.O isolamento foi uma porta que se abriu para a existência

A segunda reflexão : onde estava escondida a nossa fragilidade ?

Ela estava esquecida , ocultada por uma certa arrogância. Vivemos a pretensão de sermos senhores e donos da natureza. E um vírus , mínimo na sua dimensão , mas suficiente potente para nos derrubar nos mostra que quanto mais nos consideramos dominadores do mundo , mais nos tornamos dependentes dele.E quanto mais degradamos o ambiente mais ele se volta contra nós.Surge daí um grande paradoxo : o aumento de nosso empoderamento nos aproxima de nossa fragilidade

A terceira reflexão : a incerteza de nosso destino

A evolução do vírus , sua surpreendentes manifestação , suas sequelas , sua transmissibilidade nos relembra que a incerteza é parte da aventura humana.Isso não faz parte de como nos vemos no dia a dia.Pois toda vida é incerta ao nos expor á nossa total interação com o mundo que nos cerca.

A quarta reflexão : a morte inerente

O coronavírus irrompe no cotidiano ,em  nosso imediatismo , e nos traz a possibilidade da morte sempre postergada para o futuro. Passamos a contar mortes no mundo , em nosso país , em nossa cidade e para muitos em nossa familia ou entre conhecidos.De inicio um impacto assustador e temerário.Mas,com o tempo, fomos banalizando os números na medida em que nossas pretensões individuais sobrepujaram a realidade que , por destino humano , sempre postergaremos 

A quinta reflexão : civlização

Somos motivados pela extroversão : uma vida voltada para fora , para o que é externo , transporte , trabalho , lazer , encontros , viagens. O isolamento nos mostrou a introversão, fosse dentro de casa ou dentros de nós mesmos. De súbito cessa a compulsão de compras , alguns percebem a toxicidade consumista , poucos refletem sobre o essencial em detrimento do inutil , a qualidade sobre a quantidadeTalvez possamos enxergar o que realmente a civilização se tornou : incitadora do indiscriminado , valorização do apego material , relações sociais parasitárias , reforço do egocentrismo.

A sexta relexão : o humanismo

A crise mundial demonstra a comunhão do destino da humanidade inseparável ao destino ecológico do planeta.Escancara a crise do humanismo diante das derivas e retrocessos das ideologias políticas , do racismo , da xenofobia , das desigualdades sociais cada vez mais acentuadas , da prioridade econômica sobre a saúde. Tira o véu da hipocrisia de tantos que vivem a "sua " sociedade , aquela que convém a cada um.Demonstra que vivemos a vida que nos privilegia , interagimos com aqueles que nos servem de alguma forma , que somos incapazes de agirmos em prol do bem comum.

É preciso pensar que na nossa trilha incerta pelo planeta fazemos parte de um grande sistema com mais , pelo menos , sete bilhões de pessoas 

Que pertencemos ao nos aventurarmos a uma vida ao âmago da própria aventura espantosa do universo.E que na história do cosmos a humanidade é muito recente , muito nova e será sempre sujeito e objeto ao mesmo tempo e suscetível a estar perto do que nos une , ao que nos opõe e ao que nos destrói.

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